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27/09/2017 - 9:00

Assistência psicológica continuada a atletas

Última semana para envio de contribuições ao PL nº 7.683/2017 por meio do site Wikilegis

Assistência psicológica continuada a atletas

O Projeto de Lei nº 7.683/2017, que garante assistência psicológica continuada a atletas, está em consulta pública pela internet. Até o 30 de setembro, interessados em contribuir com o debate podem enviar sugestões ao relator da proposta na Comissão de Esporte do Senado Federal por meio da ferramenta Wikilegis (https://edemocracia.camara.leg.br/wikilegis).

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) defende a aprovação da proposta por entender que ela é de grande relevância para a Psicologia esportiva brasileira e para a saúde dos atletas profissionais. De acordo com o diretor Pedro Paulo Bicalho, esse projeto vem suprir lacuna deixada pela Lei 9.615/1998, que até então só mencionava como dever dos clubes em relação à saúde dos atletas a oferta de exames médicos e clínicos.

“A assistência psicológica aos atletas não se refere apenas ao campo tradicional do atendimento psicoterapêutico, mas versa sobre a otimização da performance do atleta por meio de treinamentos de habilidades psicológicas que são imprescindíveis ao esporte: concentração, foco, atenção, memória, controle da ansiedade, gerenciamento de estresse e motivação”, explicou o diretor do CFP, durante audiência pública na Comissão de Esporte do Senado Federal, em agosto.

Há 15 anos atuando como psicóloga esportiva, Andreia Cardoso comprova no dia a dia como o acompanhamento psicológico faz a diferença na carreira dos atletas profissionais. “Não basta estar bem preparado tecnicamente e fisicamente. Existe uma terceira força na base de sustentação de um atleta de alto rendimento que é o preparo emocional para encarar desafios e pressões”, afirma.

Segundo Cardoso, que trabalha na categoria de base de um clube carioca de futebol da série A, o atleta profissional precisa ser resiliente e estar preparado para suportar as pressões que envolvem a prática esportiva. São cobranças que vêm do desejo pessoal de conquistar novos desafios; dos clubes e equipes envolvidas em seu preparo; da torcida e da imprensa. “Ele é o tempo todo cobrado por sua performance. Às vezes, os atletas são vistos como máquina, mas são seres humanos. E o ganho do acompanhamento psicológico é justamente esse: não apenas ajudar no treinamento mental, na otimização da performance, mas nas questões de suporte emocional para todos os desafios que a carreira de atleta exige”, explica Andreia.

Resistência à presença dos psicólogos no esporte

O educador físico Anthoni Santoro aponta outro aspecto importante de os atletas contarem com atenção psicológica: o preparo para a aposentadoria. “Quanto estão na ativa, talvez não percebam a importância desse acompanhamento, mas quando encerram a carreira e ocorre a morte pública (da fama ao ostracismo) eles se desesperam porque não se prepararam para fazer outra coisa além do esporte”, diz.

Na sua experiência de mais de 20 anos como treinador de times de futebol – categorias de base e profissional –, Santoro testemunha os aspectos positivos da presença de um psicólogo na equipe técnica dos clubes esportivos. Ele reconhece que ainda há muita resistência à entrada da Psicologia enquanto suporte emocional para os atletas. “A Psicologia não é vista como prioridade. Há muitos treinadores que não aceitam e os clubes pequenos, por falta de recursos, acabam abrindo mão deste profissional”, comenta.

Mesmo nos grandes clubes, que têm departamento de Psicologia, o serviço ainda se organiza de forma precária, segundo Anthoni Santoro. “Acho ineficaz ainda porque são poucos psicólogos e a demanda é muito grande. Os clubes não pagam um valor condizente com o trabalho dos psicólogos. Também é preciso ter consciência que o trabalho não é a curto prazo. Os psicólogos não são bombeiros que chegam para apagar incêndio. O trabalho é a médio e longo prazo”, resume.

Esporte como instrumento de promoção à saúde

Rodrigo Acioli Moura, da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte (Abrapesp), aponta que um equívoco do PL nº 7.683/2017 é estar focado apenas nos atletas profissionais de alto rendimento, especialmente do futebol. “O esporte é uma ferramenta para o desenvolvimento. O indivíduo será um bom atleta se ele estiver bem de saúde. Infelizmente, o esporte de alto rendimento deixou de ser saúde e bem-estar. Muitas lesões e profundo estresse marcam a carreira. Por isso, o trabalho do psicólogo deve ser também de promoção à saúde, de apoio à construção de um ambiente profissional mais saudável”, avalia.

O diretor Pedro Paulo Bicalho explica que a promoção da saúde é a grande preocupação do CFP com o projeto. “A lógica de saúde não pode ser menor que a lógica de mercado. Saúde não é ônus, mas investimento”, afirma. Bicalho ressalta que o objetivo do Conselho Federal de Psicologia ao defender o projeto não é fazer reserva de mercado, mas debater o cuidado com a saúde psicológica dos atletas brasileiros.