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02/02/2017 - 15:00

CFP participa de missão com foco em desdobramentos do massacre em Manaus

Conselheira Márcia Badaró viajou a convite do MNPCT. Uma das ações centrais da visita esteve relacionada à escuta e acolhimento aos familiares das vítimas

CFP participa de missão com foco em desdobramentos do massacre em Manaus

A integrante do XVII Plenário do Conselho Federal de Psicologia (CFP) Márcia Badaró participou na terça-feira (24) e na quarta (25), em Manaus (AM), de missão com o objetivo de acompanhar os desdobramentos do massacre nas penitenciárias da capital do Amazonas em janeiro.

Badaró viajou a convite do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), que foi representado pela coordenadora-adjunta, Barbara Coloniese. Liderada pela secretária especial de Direitos Humanos (SDH) do Ministério da Justiça e Cidadania, Flávia Piovesan, a comitiva também reuniu a ouvidora nacional dos Direitos Humanos, Irina Bacci; o integrante do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) Everaldo Bezerra Patriota; e a diretora de Promoção dos Direitos Humanos da SDH, Akemi Kamimura.

Os diálogos e reuniões realizados durante os dois dias da missão envolveram conversas com familiares das vítimas e articulações com atores locais do sistema de justiça, Executivo e sociedade civil organizada.

Uma das ações centrais da visita esteve relacionada à escuta e acolhimento aos familiares das vítimas, quando foram discutidas as denúncias de tortura, as ações de reparação e apoio psicológico às famílias, entre outros pontos. “Familiares afirmaram que receberam cartas de seus parentes informando da situação. As cartas foram encaminhadas a algumas autoridades e a angústia era saber por que, mesmo diante das cartas, ninguém tomou nenhuma providência. O que se discutiu é que existe toda uma burocracia dos órgãos para checar a veracidade das informações, e enquanto isso acontecia a tragédia aconteceu. Não se priorizou a fala das famílias e dos presos”, aponta a conselheira.

Outra parte da missão, relata Badaró, abrangeu a realização de reuniões com a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania do estado, representantes da Pastoral Carcerária e lideranças comunitárias, além do Tribunal de Justiça do Amazonas, da Defensoria Pública, da Procuradoria Geral do Estado e do Ministério Público. “Todos puderam falar das ações que tomaram diante do ocorrido. Infelizmente, o responsável pela Secretaria Estadual de Administração Penitenciária não participou de nenhum encontro, se fez representar pela ouvidoria da Seap. Transferiu presos que estavam ameaçados de morte para a Cadeia Pública Vidal Pessoa e, no entanto, lá ainda aconteceram quatro mortes. O local foi condenado pelo Ministério Público e o que eu pontuei foi a preocupação de que esse provisório se torne um definitivo. Tem uma série de coisas a serem apuradas, inclusive a responsabilidade da Umanizzare, que é a empresa que geria o Compaj. Tudo é matéria de investigação”, lembra.

Nos encontros também foram apresentadas, por parte da comitiva visitante, as ações da SDH, do Comitê e do Mecanismo Nacional e do Comitê Estadual de Prevenção e Combate à Tortura em relação ao episódio.

“A proposta do Mecanismo é ser um órgão de prevenção. Ele avalia tudo o que pode observar criteriosamente, faz um relatório e sugere às autoridades as providências. Em Manaus, o órgão tinha feito relatório indicando tudo o que estava em desacordo e absolutamente não obedecia a nenhuma regra, inclusive pela Lei de Execução Penal, apontava a crise do sistema, e as autoridades não tomaram nenhuma providência. Nós, do CFP, reforçamos a importância do controle social, de tomar de fato para si essa responsabilidade, Comitê e Mecanismo, de acompanhar todo o movimento da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária. Ainda não foi criado o Mecanismo Estadual de Combate à Tortura e o Mecanismo Nacional reforçou a importância dessa criação, colocando-se à disposição para o apoio necessário”.

Os integrantes do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura reuniram-se, ainda, com a diretoria do Instituto Médico Legal (IML) da cidade para saber como se deu a identificação dos corpos e assistência aos familiares e identificar formas de aparelhar melhor os institutos de medicina legal para possibilitar identificação de tortura, por exemplo. “O Mecanismo reivindicará que IMLs estejam melhor preparados para momentos emergenciais’, afirma Badaró.

Especificamente em relação ao papel da Psicologia, a conselheira informou que o Conselho Regional de Psicologia (CRP-20) esteve bastante presente nas articulações, e que foi encaminhada uma proposta para que o Regional se articule com a Secretaria de Assistência Social e psicólogas (os) da Secretaria Municipal de Saúde para pensarem juntos numa estratégia de acolhimento das famílias dos mortos. “Elas estão dilaceradas. Não compreendem por que as autoridades não tomaram providências. É importante que se crie um dispositivo com esse propósito”.