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03/02/2017 - 11:10

Matraga: um ano de dor e saudade

Defensor incansável dos direitos humanos, comprometido com a justiça, a igualdade e sua democratização, Marcus Vinicius de Oliveira foi violentamente assassinado no dia 4 de fevereiro de 2016 e as circunstâncias de sua morte até hoje não foram esclarecidas

Matraga: um ano de dor e saudade

Neste sábado (4/2), completa-se um ano da morte de Marcus Vinicus de Oliveira, o Matraga, membro fundador do Instituto Silvia Lane e uma das mais importantes referências da Psicologia brasileira.

Defensor incansável dos direitos humanos, comprometido com a justiça, a igualdade e sua democratização, Matraga foi violentamente assassinado no dia 4 de fevereiro de 2016, em em Pirajuia – distrito do município de Jaguaripe (BA) – conhecido palco de intensos conflitos agrários. As circunstâncias de sua morte até hoje não foram esclarecidas, e o crime permanece sem resolução.

Durante Audiência Pública no Senado Federal sobre o Dia Internacional dos Direitos Humanos em setembro passado, e que homenageou o legado de Marcus Vinicius, a deputada Érika Kokay (PT-DF) pediu às comissões de direitos humanos da Câmara dos Deputados e do Senado a apuração de seu assassinato. “Que nós possamos fazer essa solicitação de informações e possamos acompanhar todo o processo de apuração de seu assassinato, até porque assassinou a cada um de nós. Um pedacinho de nós foi ferido, porque não o temos mais aqui, todos os dias. E penso como estaria Marcus Vinicius nessa etapa de golpe, de ruptura democrática, como estaria empunhando a sua voz e a sua própria estrutura e sua própria militância em defesa da radicalidade democrática”, afirmou.

Trajetória de lutas

Professor adjunto aposentado do Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia, o mineiro Marcus Vinícius teve importante papel acadêmico como coordenador do Laboratório de Estudos Vinculares e Saúde Mental (IPSI – UFBA) e diretor do Instituto Silvia Lane – Psicologia e Compromisso Social. Graduado em Psicologia pela Fundação Mineira de Educação e Cultura (1982), como pesquisador, formou-se Mestre em Saúde Pública pela Universidade Federal da Bahia (1995) e Doutor em Saúde Coletiva pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2003).

Marcus foi militante histórico da Luta Antimanicomial e da Saúde Mental no Brasil. Interessava-se ainda pela Clínica das Psicoses e pelo estudo das desigualdades sociais e subjetividade. Marcus Vinícius participou ativamente da consolidação da Psicologia no Brasil, tendo integrado o Conselho Federal de Psicologia (CFP) nas gestões de 1988 – 1989, 1992 – 1995, 1997 – 1998, 1998-2001 e 2004 – 2007. Também esteve em gestões dos conselhos regionais de Minas Gerais e Bahia.

Foi dele a iniciativa de construção da Comissão Nacional de Direitos Humanos do CFP, em 1997 – que teve como primeira presidente a psicóloga Cecília Coimbra, fundadora do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro e professora da Universidade Federal Fluminense. Hoje, existem Comissões Regionais de Direitos Humanos em todos os 23 Conselhos Regionais de Psicologia, o que consolida a aproximação do Sistema Conselhos de Psicologia com a luta efetiva pela promoção e garantia dos direitos humanos no Brasil.

Coordenador do Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP) entre os anos de 2004 e 2007. No Conselho Nacional de Saúde participou da Comissão Nacional de Saúde Mental, como representante do FENTAS – Fórum Nacional de Trabalhadores de Saúde. Foi também integrante da Comissão Nacional de Reforma Psiquiátrica de 1994 a 1997.

Memorial

Durante o I Simpósio Nacional Psicologia e Compromisso Social, que acontece em São Paulo nos dias 20, 21 e 22 de março, será lançado o Memorial Marcus Vinícius de Oliveira. O memorial reunirá vídeos, textos, fotos e áudios de entrevistas com ele. Todo o material em áudio de Matraga passará por transcrição textual, o que facilitará o acesso para pesquisa, estudo e traduções.

No último dia 20, o psicólogo foi lembrado com emoção pelo novo plenário do CFP, quando este realizou sua primeira reunião. “Ele é uma referência importantíssima que está sempre conosco. Que essa memória nos estimule”, afirmou Rogério Giannini, presidente da autarquia.