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21/06/2017 - 10:40

Psicologia e Democracia: últimos dias para envio de artigos

Editores Fernando Lacerda e Domenico Hur falam das expectativas para o próximo número temático da Revista Psicologia: Ciência e Profissão

Psicologia e Democracia: últimos dias para envio de artigos

Os interessados em participar do número especial “Psicologia e Democracia” da
Revista Psicologia: Ciência e Profissão (PCP) tem até o dia 30 de junho para encaminhar os artigos pelo e-mail psicologiaedemocracia@cfp.org.br.

Nesta entrevista, os professores Fernando Lacerda Jr. e Domenico Hur, da Universidade Federal de Goiás (UFG), editores da publicação, destacam a importância desta edição especial, que visa discutir não apenas a atuação profissional, mas a função política da Psicologia na história brasileira, contribuindo para a construção de uma sociedade justa e democrática. “Pensamos que, além da discussão das implicações da Psicologia na transição da ditadura à democracia, esse número temático consiga incitar as (os) psicólogas (os) a fazerem uma análise de suas práticas profissionais para conseguirem refletir sobre que regimes de poder estão sendo fomentados e reproduzidos.”

Lacerda Jr. e Hur também explicam como se dá o processo da triagem dos artigos, que segue os padrões de seleção e avaliação de textos para dossiês temáticos em revistas científicas.

Saiba como enviar artigos para a edição especial Psicologia e Democracia.

Leia a seguir a entrevista com os professores Fernando Lacerda Jr. e Domenico Hur, editores do especial Psicologia e Democracia da Revista Psicologia: Ciência e Profissão do Sistema Conselhos.

Qual a importância de levar o debate sobre a defesa da democracia para a pauta da revista “Psicologia: Ciência e Profissão”?
A conjuntura atual sinaliza como a defesa da democracia é parte das lutas que defendem a manutenção de direitos sociais e a criação de melhores condições sociais e políticas para a classe trabalhadora, a maior parte da população brasileira. Em 24 de maio de 2017, durante as manifestações que ocorreram no Distrito Federal como parte de calendário nacional de lutas contra as reformas da previdência e trabalhista, o Exército foi mobilizado para reprimir manifestação de dezenas milhares de pessoas. O fato de um governo mobilizar o Exército para reprimir pessoas que, legitimamente, lutavam contra a corrupção, em favor de eleições diretas e por direitos sociais, mostra a importância de entendermos as razões pelas quais a democracia ainda é tão frágil no Brasil. Isso significa olhar para nossa história criticamente e conseguir perceber o que restou da ditadura civil-militar. Há uma estreita relação entre o que sobrou da ditadura no processo de redemocratização e as recentes manifestações de parte da sociedade brasileira.

A abertura de um espaço para discutir a democracia na revista “Psicologia: Ciência e Profissão” significa que as (os) psicólogas (os) não podem ficar alheias (os) aos principais acontecimentos sociais e políticos que fraturam a sociedade brasileira. Defender a democracia significa colocar a Psicologia ao lado da maior parte da população, ao lado daqueles (as) que estão lutando por uma vida justa e digna.

Como a Psicologia, enquanto ciência, e os psicólogos, no cotidiano profissional, podem contribuir para o debate sobre democracia e defesa de direitos sociais?
O tema é ousado, pois busca refletir sobre a Psicologia como conjunto de saberes ou dispositivos técnicos de intervenção e seu compromisso enquanto instituição social para a constituição de uma sociedade mais justa e democrática. Visa discutir não apenas a atuação profissional, mas a implicação nas distintas relações de poder sociais, ou seja, a função política da Psicologia na história brasileira. Busca-se colocar a Psicologia no “banco dos réus” para analisar suas implicações com os processos políticos do país, se realmente esteve a serviço da democracia, ou se pode ter tido alguma relação com a opressão do período ditatorial.

Infelizmente, os estudos sobre a instituição Psicologia no Brasil mostram que houve casos, não isolados, em que a profissão contribuiu para práticas políticas opressivas no período da ditadura, e que podem estar sendo reatualizados até os dias de hoje. Então, mesmo que parte das (os) psicólogas (os) tenha dificuldades em vislumbrar o caráter político de suas práticas profissionais, consideramos que sempre há produção de relações de forças, de regimes de poder, em suas intervenções profissionais. Não há neutralidade nas práticas psicológicas e, tampouco, nas científicas. Há uma microfísica das relações de poder em todos os espaços e práticas sociais.

Pensamos que além da discussão das implicações da Psicologia na transição da ditadura à democracia, esse número temático consiga incitar as (os) psicólogas (os) a fazerem uma análise de suas práticas profissionais para conseguirem refletir sobre que regimes de poder estão sendo fomentados e reproduzidos. As questões que se colocam são: 1. Suas práticas incitam processos de potencialização da vida e desejantes ou opressores, normatizadores e despotencializadores? 2. Suas práticas favorecem as minorias privilegiadas ou as maiorias desfavorecidas socialmente? 3. Favorecem o chefe, o empresário ou os trabalhadores?

A (o) psicóloga (o) deve se apropriar dos efeitos políticos de suas práticas profissionais. Com essa clareza, cremos que poderá contribuir de forma mais explícita para a produção de relações mais igualitárias, humanitárias e de democratização nos distintos espaços institucionais.

Algo que acompanhou a Psicologia brasileira, de modo geral, foi o desencanto com a macropolítica, seja pela violência do Estado no período ditatorial, seja nos dias de hoje, com as denúncias de corrupção. Então, para lidar com esse mal-estar, parte significativa das (os) psicólogas (os) preferiu se fechar em suas práticas, nos seus consultórios, nas suas empresas, considerando que elas não são políticas. As opressões, os ataques à democracia e aos direitos sociais, no entanto, ocorrem a todo momento, atingindo um ápice na atualidade. A (o) psicóloga (o) deve ter essa clareza para afirmar e escolher de que lado está.

Como é feita a triagem dos artigos recebidos?
A triagem segue os mesmos padrões usuais para a seleção e avaliação de artigos para dossiês temáticos em revistas científicas. Em primeiro lugar, avalia-se a adequação do manuscrito às normas gerais da revista e à convocatória do número especial sobre Psicologia e Democracia. Em seguida, após identificar se o manuscrito submetido se articula com um dos eixos temáticos da convocatória, o texto é enviado para avaliação cega, realizada por pares que possuem reconhecida trajetória científica no tema do artigo. Por fim, a decisão de publicação do manuscrito é definida a partir das avaliações dos pareceristas.

Qual a expectativa em torno do número especial da revista?
Além dos seis artigos vencedores do prêmio “Psicologia e Direitos Humanos: Ditadura Civil-Militar e repercussão sobre a Psicologia como ciência e profissão”, que confirmaram a revisão de seus trabalhos para nova submissão, recebemos muitas mensagens de psicólogos (as) interessados (as) em enviar artigos. Também recebemos contatos de psicólogas (os) de outros países da América Latina, como México, Colômbia, Costa Rica e Argentina, e também da Europa, da Espanha e do Reino Unido. Consideramos que o interesse de profissionais de outros países expressa como a temática é importante e atual.

Acreditamos que a edição irá contribuir para consolidar uma reflexão pertinente e relevante sobre a função e implicações da Psicologia na construção da história de um país, e até de um continente, a América Latina.

Ressaltamos que a democracia é uma prática coletiva que está em permanente construção. E é também um passado não acabado, que se atualiza no presente.