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15/09/2017 - 17:25

Retomada dos manicômios não será permitida

Conselho Nacional de Saúde afirma que não admitirá alterações na Política Nacional de Saúde Mental contrárias aos princípios da reforma psiquiátrica

Retomada dos manicômios não será permitida

O Conselho Nacional de Saúde (CNS) reafirmou que não aprovará qualquer mudança na Política Nacional de Saúde Mental que possa ferir os princípios da reforma psiquiátrica brasileira. A decisão foi anunciada na manhã desta sexta-feira (15/9) durante a 297ª reunião ordinária do colegiado.

A resolução, que deverá ser publicada na próxima semana, reforça a necessidade de ampliação da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) do Sistema Único de Saúde (SUS) e sinaliza que a ampliação de leitos em hospitais psiquiátricos ou outras estratégias que representem a retomada do modelo assistencial focado na internação das pessoas em sofrimento mental e usuários de álcool e outras drogas não serão admitidas.

Para Ana Sandra Fernandes, vice-presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP) e coordenadora da Comissão Intersetorial de Saúde, essa manifestação pública do CNS representa uma grande vitória para o Movimento em Defesa da Luta Antimanicomial, um marco da reforma psiquiátrica brasileira que completa 30 anos em 2017. “Especialmente nesse contexto atual de perda de direitos sociais e desmonte de políticas públicas, é de fundamental importância que a maior instância de deliberação e fiscalização das políticas nacionais de saúde ratifique sua posição de defesa intransigente da promoção de uma sociedade sem manicômios, onde a liberdade e a dignidade humana sejam valores inalienáveis e inegociáveis.”

Criada pela Lei nº 10.216/2001, a Política Nacional de Saúde Mental é um marco na proteção e defesa dos direitos humanos, ao consolidar um modelo humanizado de atenção à saúde mental, priorizando reabilitação psicossocial e a reinserção social das pessoas em sofrimento psíquico ou dependência química.

Apoio às comemorações dos 30 anos da Carta de Bauru

Na mesma resolução, o Conselho Nacional de Saúde também manifestou apoio à realização, em dezembro, do encontro em comemoração aos 30 anos da Carta de Bauru, primeiro manifesto público no Brasil pela extinção dos manicômios e contrário a exclusão de pessoas em sofrimento psíquico.

O “Encontro de Bauru – 30 anos de luta por uma sociedade sem manicômios” está sendo organizado de forma coletiva por várias entidades e movimentos em defesa da luta antimanicomial, entre elas o Conselho Federal de Psicologia (CFP). O evento será realizado, dias 8, 9 e 10 de dezembro deste ano, em Bauru/SP.

Até o final dos anos 1980, o manicômio era o ápice de uma concepção que excluía, segregava e negava a cidadania de homens e mulheres condenados a uma espécie de morte em vida – ou à morte de fato – em decorrência de maus tratos e da violência dos eletrochoques e solitárias.

O movimento da luta antimanicomial combate a ideia de que pessoas com sofrimento mental devam ser isoladas em nome de pretensos tratamentos. Lembra que, como todo cidadão, elas têm direitos fundamentais à liberdade, a viver em sociedade e ao cuidado e tratamento, sem que precisem abrir mão da cidadania.

A luta antimanicomial congrega usuários, familiares e trabalhadores da saúde mental que acreditam na mudança do modelo de atenção às pessoas em sofrimento mental e buscam a desinstitucionalização, o combate à institucionalização involuntária, a convivência em sociedade e, principalmente, o respeito aos direitos humanos.

 

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Manifesto em defesa da democracia, dos direitos sociais e por uma sociedade sem manicômios

Por uma sociedade sem manicômios – Nota da Comissão de Direitos Humanos do CFP

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