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01/09/2017 - 16:39

Saúde mental em contextos rurais: o trabalho psicossocial em análise

As demandas de saúde mental de moradores de assentamentos de reforma agrária do Rio Grande do Norte

Saúde mental em contextos rurais: o trabalho psicossocial em análise

O artigo “Saúde mental em contextos rurais: o trabalho psicossocial em análise”, publicado na edição 37.2 da revista Psicologia: Ciência e Profissão, trata dos impactos à saúde mental gerados pela precariedade das condições de vida e de trabalho de moradores de assentamentos de reforma agrária. O texto é assinado pelos pesquisadores Maurício Cirilo Neto, mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e Magda Dimenstein, professora do Departamento de Psicologia da UFRN.

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) publica artigos da revista Psicologia: Ciência e Profissão no site e nas redes sociais – a versão eletrônica está na SciELO – para disseminar o conhecimento científico para a categoria e a sociedade. 

Contextos rurais

Para discutir o cuidado desenvolvido por equipes de saúde e assistência social relacionado às demandas de saúde mental de assentados do Rio Grande do Norte, os pesquisadores ouviram 53 profissionais, de forma individual ou por grupo de categorias profissionais. Os resultados mostram que os trabalhadores vivenciam condições precárias de trabalho e que as equipes têm pouco conhecimento do território e das necessidades de saúde mental. Além disso, o cuidado ainda corresponde à lógica biomédica, com pouca participação dos moradores e desconsideração dos saberes e práticas tradicionais.

A pesquisa aponta também que a atenção psicossocial não funciona de forma articulada, apresentando problemas quanto ao seguimento e à continuidade de cuidados. Em função do desconhecimento das especificidades da população assentada e da fragmentação da rede de atenção psicossocial, essas equipes não conseguem acolher e responder às necessidades em saúde mental de modo a interferir nas iniquidades em saúde.

Maurício Neto, em entrevista, contou mais detalhes do estudo.

 

O que motivou a pesquisa?

A literatura apresenta uma gama de estudos em contextos urbanos, porém, quando atentamos para os rurais percebemos uma carência de estudos que reflete a indiferença da produção científica sobre as ruralidades e a negligência histórica com que a sociedade sempre tratou as populações rurais.

Como a Psicologia nunca concebeu as populações rurais como alvo de intervenção ou objeto de estudo, buscamos contribuir com o debate sobre a saúde mental das populações rurais, problematizando o trabalho psicossocial nesses contextos e elencando perspectivas de trabalho que podem produzir saúde e cidadania para os povos do campo, das águas e das florestas.

 

Quais resultados devem ser destacados?

O cuidado em saúde mental nesses contextos ainda está sustentado por perspectivas tecnicistas, individualistas, biologicistas e reducionistas, não levando em conta a diversidade dos modos de vida e trabalho no campo, sociabilidades, religiosidades, formas de cuidado com a própria saúde e dos outros. Os trabalhadores enfrentam diversos desafios, como ausência de recursos humanos e materiais e também de condições de trabalho. Contudo, é preciso salientar que já é possível observar o esboço de um trabalho mais contextualizado, conectado com os territórios e culturalmente sensível, ou seja, um cuidado baseado nas necessidades sociais e de saúde dessas populações.

 

Como a Psicologia pode auxiliar as equipes de saúde no atendimento dos assentados?

A Psicologia pode contribuir de diferentes maneiras para o acolhimento e resposta às necessidades em saúde nos assentamentos, mas, para isso, é preciso rever as perspectivas teóricas, práticas e posturas ético-políticas que norteiam o trabalho do psicólogo. Devemos apostar numa atuação generalista, pois as necessidades de saúde dessas populações são complexas e multideterminadas. A atuação nesses contextos vai demandar do psicólogo uma articulação teórica para responder problemas que dizem respeito à saúde, educação, de trabalho e renda, de organização comunitária e produtiva, ou seja, vai precisar que ele ative todo o arsenal das Psicologias comprometidas com o bem-estar social, sem esquecer também da necessária interdisciplinariedade, ou seja, da articulação com outras disciplinas e também com os saberes próprios dessas populações.

Leia, na íntegra, o artigo “Saúde mental em contextos rurais: o trabalho psicossocial em análise”.