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30/11/2015 - 10:22

Valorizar a narrativa para garantir um bom processo de acolhimento

Esse foi o aspecto considerado como um dos mais importantes nos abrigos de acolhimento a crianças durante debate sobre proteção social de crianças e adolescentes

Valorizar a narrativa para garantir um bom processo de acolhimento

O direito que a criança tem de fazer a narrativa de si própria, construindo os seus personagens e a sua história. Esse foi o aspecto considerado como um dos mais importantes nos abrigos de acolhimento a crianças no debate intitulado “Proteção social de crianças e adolescentes em serviços de acolhimento institucional: Contam-se histórias(‘estorias’) no abrigo?”.  O debate ocorreu durante o Seminário “25 anos do ECA: Refletindo sobre sujeitos, direitos e responsabilidades”, promovido pelo CFP na PUC Minas (Belo Horizonte), que terminou na última sexta-feira (27).

“Por meio dessa narrativa é possível construir imagens e composições que só elas
podem dizer que só elas têm. São essas histórias que alimentam as narrativas, a literatura. São contadas e fazem com que elas repitam ao seu gosto, várias vezes, as mesmas histórias e personagens, fazendo com que elas percebam que têm direito a voz, isso é muito importante. Esse direito à narrativa de si, é o que o adulto pode e deve garantir para uma criança numa história de acolhimento”, diz Marlene Guirado, psicóloga e professora Livre-Docente e Pesquisadora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.

A escuta também faz a diferença para a construção do mundo que essa criança vai encontrar após o período de acolhimento, lembra a psicóloga Dorian Mônica Arpini. “Como vai ser o amanhã dessa criança depois da instituição de acolhimento?”, destaca Mônica, lembrando que escutando melhor essa criança será mais fácil compreender como ela construiu sua estória e como poderemos reconstruir essa estória para as novas relações familiares que essa criança terá após a fase do acolhimento. Mas além do cuidado com os assistidos, a psicóloga lembra que é preciso um cuidado também com os profissionais que atuam no atendimento a essas crianças. Ela lembra que olhar para essas famílias, ou seja, conhecer suas histórias, pode despertar nos profissionais algumas fragilidades e é necessário reconhecê-las – o que, segundo ela, chama a atenção para um dos desafios nesse processo, que seria o de investir na formação desses profissionais.

Na tarefa de mediar o debate, a doutora em psicologia social pela PUC/SP, Maria Ignês Costa Moreira, trouxe elementos para também enfatizar a importância da escuta e seus processos. “Muitas histórias são contadas e muitas são silenciadas, o acolhimento institucional é feito dessas histórias”, disse ela, ao defender também a implementação de politicas públicas bem elaboradas, que resultam em transformações.

_P2A7486A preocupação de Moreira está nas condições de armazenamento desses registros. Ela destaca que em muitos lugares essas condições são precárias e não existe uma conscientização dos profissionais de que esses documentos são, mais que registros, histórias de vida. “Que lugar é esse que está reservado para esses registros? Cada vez que essas histórias se perdem, é como se elas fossem abortadas e estigmatizadas. As crianças falam e esse relato vai reverberar em tomadas de decisão”, lembra ela. Ela também considera fundamental o “cuidado com quem cuida”, investindo em bons processos de formação e contratação, garantindo a esse profissional um bom ambiente de trabalho.