Notícias

31/03/2017 - 15:33

Vivências acadêmicas e sofrimento psíquico de estudantes de Psicologia

Pesquisa realizada em universidade do interior de São Paulo ouviu 119 alunos

Vivências acadêmicas e sofrimento psíquico de estudantes de Psicologia

A vivência estudantil na universidade é questão pouco investigada e discutida, especialmente nos cursos de Psicologia. Refletir sobre o sofrimento que pode acompanhar a vida do aluno, sobretudo aquele que resulta do contato com a dor de outras pessoas ou da relação com conteúdos acadêmicos relacionados à subjetividade humana, foi o que motivou o estudo dos pesquisadores Antônio dos Santos Andrade, Gabriel Arantes Tiraboschi, Natália Amaral Antunes, Paulo Vinícius Bachette Alves Viana, Pedro Alvez Zanoto e Rafael Trebi Curilla.

Este também é o tema do artigo desta semana, “Vivências Acadêmicas e Sofrimento Psíquico de Estudantes de Psicologia”, publicado na edição 36.4 da Revista Psicologia: Ciência e Profissão. Os autores são ligados à Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto. Antônio dos Santos Andrade é professor; Gabriel Arantes Tiraboschi é mestrando; e Natália Amaral Antunes, Paulo Vinícius Bachette Alves Viana, Pedro Alvez Zanoto e Rafael Trebi Curilla são estudantes.

O CFP divulga semanalmente, no portal institucional e nas redes sociais, um artigo da Revista Psicologia: Ciência e Profissão. A revista tem uma versão eletrônica na plataforma SciELO. É uma forma de a autarquia fortalecer a busca pelo conhecimento científico, divulgando-o para a categoria e para a sociedade. 

Sofrimento dos estudantes

Para coletar os dados, foi utilizado um instrumento contendo uma questão de identificação sociodemográfica, um conjunto de 20 itens de múltipla escolha (formulado como numa escala do tipo Likert de cinco pontos) e cinco questões abertas. O questionário foi respondido por 119 estudantes dos cinco anos do curso de Psicologia de uma universidade pública do interior paulista.

Os resultados, após serem submetidos às análises quantitativa e qualitativa, permitiram verificar que, na Escala Likert, os alunos de Psicologia apresentaram, no geral, percepção favorável do curso. No entanto, nas questões abertas referentes às vivências e ao sofrimento psíquico foram apresentados indicadores explícitos de mal-estar universitário. Na última questão, que indagava sobre a vivência de sofrimento psíquico, 107 dos 119 estudantes responderam afirmativamente. A partir destes dados, discutiu-se a necessidade urgente de ações, tanto por parte dos gestores universitários quanto por parte das entidades que fiscalizam a formação de psicólogos.

Paulo Vinícius Bachette Alves Viana, um dos autores do artigo, contou mais detalhes da pesquisa.

Qual a importância do tema?

A coordenação do curso de Psicologia da universidade pública enfrentava o desafio de compreender o significativo número de evasão do curso, sobretudo nos anos iniciais da vida acadêmica. O fato era excepcional, mas na época da pesquisa chegou a atingir 25% dos ingressantes no ano anterior. O alerta chegou à Comissão Coordenadora do Curso (CoC).

Alguns breves levantamentos foram realizados, mas, embora úteis, se mostraram insuficientes para apoiar uma reflexão mais abrangente sobre as dificuldades dos estudantes. Ao mesmo tempo, durante as discussões nas aulas de Psicologia Escolar, um grupo de alunos se interessou em estudar o tema, pois ficaram alarmados com os índices de evasão entre seus colegas. Sensibilizados com os elementos de estresse e de insatisfação presentes na condição de aluno de graduação, eles iniciaram uma pesquisa durante o estágio curricular profissionalizante na área, com a finalidade de obter dados que ajudassem na compreensão do problema.

 

Quais os principais resultados do estudo?

Os resultados obtidos permitem chegar à conclusão de que havia situação bastante complexa em relação ao sofrimento psíquico dos estudantes no período da pesquisa. Nos itens da Escala Likert de avaliação do curso, por exemplo, foi possível verificar que a percepção geral das vivências no curso era majoritariamente boa, embora apresentasse quesitos que requeriam atenção, como as relações entre disciplinas iniciais do curso e a prática profissional, a própria prática de ensino-aprendizagem e a divulgação de informações sobre serviços oferecidos pela universidade no âmbito institucional.

As respostas às questões abertas evidenciaram, de forma clara e enfática, a existência do sofrimento psíquico, relatando fatos e vivências desfavoráveis, como dificuldades de adaptação inicial ao contexto universitário, carga horária e atividades excessivas do curso e conteúdos teóricos e práticos da profissão que mobilizam os sentimentos dos estudantes.

Esses sentimentos e vivências podem indicar situação de risco aumentado para o desenvolvimento de transtornos mentais nessa população de estudantes, o que sugere a necessidade de atenção mais cuidadosa por parte da instituição universitária, com a consequente necessidade de discutir e de propor medidas de manejo desse sofrimento como medida propiciadora de bem-estar no ambiente universitário.

 

Quais medidas devem ser tomadas para eliminar, ou ao menos diminuir, o sofrimento psíquico dos estudantes de Psicologia?

Como ações de assistência urgentes, podem ser apontadas como relevantes a elaboração de propostas de serviços de atendimento ao estudante universitário do curso de Psicologia, modalidade de serviço ainda bastante incipiente. Verifica-se que, sobretudo durante a crise da universidade pública, o descuido com a saúde mental do estudante é proeminente. Seria, portanto, necessário esperar que o Conselho Federal de Psicologia também se ocupasse dessa questão, assumindo ações efetivas para orientar, e até mesmo fiscalizar, a criação de serviços de atendimento ao estudante de Psicologia.

Entre as possíveis atribuições desse serviço, propõe-se que, além da oferta de terapia individual ou de grupos, também sejam feitas ações de acolhimento de calouros, discussões sobre o papel profissional do psicólogo, atividades de aconselhamento de carreira e atividades de valorização e instrumentalização do papel social do estudante universitário.

Leia a íntegra do artigo.