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05/11/2024 - 11:22

CFP realiza encontro para debater os impactos da Inteligência Artificial no exercício profissional da Psicologia

Diálogo abordou como novas tecnologias estão transformando a produção de conhecimento, a formação profissional e o trabalho nos diversos campos da ciência e profissão psicológica

CFP realiza encontro para debater os impactos da Inteligência Artificial no exercício profissional da Psicologia

As tecnologias digitais, especialmente as de Inteligência Artificial (IA), estão redefinindo de forma rápida os processos de produção do conhecimento em todas as áreas, incluindo a Psicologia. Ferramentas de IA estão sendo cada vez mais utilizadas para analisar grandes conjuntos de dados, identificar padrões comportamentais e prever tendências em saúde mental, comportamento humano e interações sociais.

Diante do desafio imposto por essa nova realidade, essas e outras questões foram debatidas no “Seminário: Inteligência Artificial e Exercício Profissional da Psicologia”, realizado no dia 24 de outubro em Brasília/DF, na sede do Conselho Federal de Psicologia (CFP).

O encontro buscou mapear a adoção de tecnologias baseadas em inteligência artificial, analisando suas implicações éticas, sociais e profissionais. A atividade teve como proposta a troca de experiências e conhecimentos no campo, de modo a fomentar o diálogo sobre os principais desafios emergentes nessa área.

O evento contou com a participação de conselheiras e conselheiros do XIX Plenário, representantes dos Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs) e de instituições que integram o Fórum das Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira (Fenpb) – além de pesquisadoras e pesquisadores da área.

Diálogos

Durante diálogo sobre o uso do Chat GPT, o psicólogo e pesquisador Ricardo Primi, da Universidade São Francisco (USF), destacou as possibilidades de uso da inteligência artificial relacionada à psicometria, frisando a análise de conteúdo, a avaliação da personalidade a partir de entrevistas, a análise fatorial de itens usando embeddings e a correção automática de testes com respostas construídas, entre outros pontos. Para ele, a Psicometria com o uso da Inteligência Artificial pode representar o futuro da da Avaliação Psicológica na era marcada pela inteligência artificial.

O psicólogo Thiago Pavin abordou as tendências da indústria de IA para a saúde mental e o campo da regulação, realçando que muitos estudos sobre o tema estão sendo conduzidos e, nesse sentido, todas essas tecnologias deverão, em breve, tornar-se melhores. O psicólogo pontuou ainda que as profissões serão fortemente impactadas pela Inteligência Artificial, exigindo que as(os) profissionais aprendam a operar essas ferramentas, e que o mau uso da IA tende a ser combatido por governos e pelo mercado.

Thiago Pavin elencou ainda sugestões ao Sistema Conselhos de Psicologia. Entre elas, criar um Grupo de Trabalho para debater e propor resoluções sobre o tema; fomentar pesquisas e a organização de bancos de dados nacionais para treinos e validação de modelos; inspirar-se na experiência do Satepsi para testes psicológicos; estabelecer os padrões de qualidade e catalogar as soluções recomendadas para divulgar à sociedade.

Leonardo Fernandes Martins, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), ressaltou que os agentes conversacionais (sistema guiados por IA) precisam servir de apoio ao processo de cuidado e de modelo de suporte ao terapeuta, auxiliando em questões como transcrição, prontuários, triagem inicial, visão ampliada dos processos de saúde e adoecimento, dentre outros.

A pesquisadora e professora Laisa Marcorela Andreoli Sartes,do Centro de Referência em Pesquisa, Intervenção e Avaliação em Álcool e Outras Drogas (Crepeia), apresentou o painel “Inteligência Artificial nas intervenções digitais: impactos nos treinamentos do terapeuta e no engajamento às intervenções”. Para ela, figuram como desafios a garantia de que as respostas automáticas não substituam a intervenção humana em situações complexas, assim como o fato de que a personalização do uso dessas ferramentas não tornea interação impessoal ou mecanizada. Outro fator destacado pela pesquisadora foi o tratamento dos dados sensíveis dos pacientes em cumprimento da Lei Geral de Proteção de Dados. Em sua avaliação, a IA pode ser muito útil e facilitar o acesso ao atendimento psicológico efetivo, mas a Inteligência Artificial em Psicologia precisa de validação humana.

Bruno Grossmann, pesquisador da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (da PUC-Rio), abordou o potencial de persuasão em larga escala habilitada por Inteligência Artificial. Em sua avaliação, a IA proporcionará um futuro no qual exista a perspectiva de que cada pessoa terá um assistente de IA pessoal, com uso de voz e vídeo em tempo real, capacidade de criar relações íntimas em massa e algoritmos simulando intimidade para influenciar opiniões, votos, decisões de compras e crenças – acarretando impacto à saúde das pessoas e um desafio ao campo da Psicologia em lidar com essas questões.

No último painel do encontro, a pesquisadora Laura Soares chamou atenção para os impactos da Inteligência Artificial no Sistema de Justiça, levantando questões sobre o uso da IA nessa área e de que forma a Psicologia deverá atuar frente aos desafios. Para ela, a tecnologia pode promover celeridade, mas há preocupações éticas e com relação à garantia dos direitos humanos que precisam orientar os debates sobre o tema. Nesse sentido, a Psicologia brasileira precisa assumir protagonismo nos debates que irão afetar suas práticas junto ao Sistema de Justiça.

Confira aqui as fotos do evento.