Dialogar acerca do compromisso ético, político, científico e social da Psicologia na formação e na prática profissional foi o objetivo do II Seminário de Formação em Psicologia, que reuniu centenas de profissionais e estudantes na cidade de Montes Claros (MG), no final de agosto. Durante os dias 27, 28 e 29, foram debatidos a importância da história da Psicologia para a formação do (a) psicólogo (a), a relação entre a cidadania e a Psicologia, além do papel dos Conselhos Federal e Regionais, Federação e Sindicatos na profissão.
Com o tema “II Seminário de Formação em Psicologia: compromisso com a formação e com a profissão”, o evento contou com a participação diária de aproximadamente 600 pessoas, entre professores, profissionais e estudantes – em geral, provindos das instituições de ensino privadas da região. Montes Claros é um centro aglutinador da área no norte de Minas Gerais – apesar de a única universidade pública local não possuir curso de graduação em Psicologia (Universidade Estadual de Montes Claros). O evento foi realizado pelo Grupo de Estudos Provocações Psicológicas (GEPPSI), que não tem vinculação a instituições de ensino.
Para o vice-presidente do CFP, Rogério Oliveira, que representou a autarquia na mesa de debates “O Cenário Atual da Profissão”, o evento em Montes Claros reflete uma nova realidade da interiorização da Psicologia brasileira. “Há tempos que passamos por uma modificação na distribuição dos psicólogos (as) do ponto de vista geográfico e este evento demarca de maneira forte essa questão”.
O representante do GEPPSI e organizador do evento, Danillo Lisboa, destaca a importância dos eventos de Psicologia regionalizados: “Além de fazer valer os princípios de Paulo Freire, faz também que o Brasil olhe para essas regiões, e isso é muito importante para nós, que vivemos tão à margem”, disse em entrevista, destacando ainda a importância da presença no evento dos órgãos de orientação e fiscalização para explanar sobre o “lugar das autarquias, Federação e sindicatos na construção da profissão”.
Além de Oliveira, a mesa redonda sobre o cenário da profissão contou com Roberto Chateaubriand, presidente do Conselho Regional de Psicologia da 4ª Região (CRP-04, Minas Gerais); Enildo Calixto Louback, diretor tesoureiro representante da Federação Nacional dos Psicólogos (Fenapsi); e Marconi Moura Fernandes, tesoureiro representante do Sindicato dos Psicólogos de Minas Gerais (PSIND-MG).
Rogério Oliveira apresentou no debate o Centro de Orientação em Psicologia, ação do CFP que objetiva o aprimoramento do diálogo entre todos os profissionais e estudantes de psicologia e a sociedade em geral. O representante do CFP também explanou acerca do papel da Psicologia frente aos desafios da inclusão social e da promoção da Cidadania Emancipada.
“O corpo profissional da Psicologia já avançou bastante em seu compromisso com a sociedade, mas instituições que se colocam no papel de representar a profissão em suas diversas frentes – da formação ao exercício profissional, passando pelas relações de trabalho e qualificação profissional – precisam se ater à necessidade de entender o atual momento, dialogar mais com a categoria e produzir um conjunto de ações e formulação de políticas que, a partir do diálogo, possa, enfim, dar conta de uma agenda mais unificada”, explica.
A história da Psicologia e a formação profissional
Ana Jacó Vilela, professora da UERJ e membro do Coletivo Ampliado do CFP, teve destaque no evento com a palestra “Formação do psicólogo: circunstâncias e consequências”, sobre a formação do psicólogo a partir da história da Psicologia. Ela tratou das circunstâncias externas – sociais, econômicas e culturais – e internas das propostas de Cursos de Psicologia que surgiram durante o século XX no Brasil.
“Tentei desconstruir a noção de história – comum a muitos como o estudo daquilo que está lá no passado – apontando que, a meu ver, só faz sentido estudarmos a história a partir de alguma pergunta do presente. Assim, se nos indagarmos sobre a formação do psicólogo hoje, analisar como foi a formação no passado pode ser um bom caminho para entendermos como e porque ela é hoje assim”, explica a professora, que destacou o currículo proposto por Radecki em 1932, a proposta da Associação Brasileira de Psicotécnica em 1953, as alterações paliativas dos anos de 1980 e diretrizes curriculares.
A acadêmica elogiou a organização do evento e destacou como um “achado dos organizadores do evento” o convite ao promotor de Justiça Felipe Gustavo Caíres, que falou sobre cidadania e sua relação com a atuação dos psicólogos.
Geppsi
O GEPPSI – Grupo de Estudos Provocações Psicológicas conta com a participação de profissionais psicólogos (as) e estudantes que, diferentemente dos formatos comuns de grupos de estudos em psicologia cujo conteúdo circula em torno de um referencial teórico específico, trabalha a partir de diferentes abordagens da psicologia para discutir as questões principais que se apresentam no cotidiano da formação e prática da ciência psicológica.
“É muito interessante que a mobilização intelectual e o debate acerca da psicologia saiam de um grupo de jovens, profissionais e estudantes e não das instituições formadoras. Como pretende não se fechar a nenhuma abordagem teórico-metodológica, (o GEPPSI) optou por colocar seu foco em um objeto, daí a escolha da Formação em Psicologia como tema”, elogia a Ana. O grupo realiza grupos de estudos e outras atividades também junto a outras instituições.
Já Rogério Oliveira destacou o modelo inovador de organização do evento, que, para ele, revela um novo formato de atuação dos psicólogos (as) recém-formados (as) e dos estudantes que se reúnem para debater a formação nas instituições de ensino superior da região e refletir o início do exercício profissional. “O XVI Plenário do CFP, atento a essas questões, se prontificou a apoiar a iniciativa e a participar da mesma”’, destaca.
Mesas
O seminário contou ainda com apresentação cultural do Grupo de Tradições Folclóricas Fitas e palestras com as temáticas “Atualidades e desafios da formação em Psicologia”, “A formação em Psicologia no Norte de Minas” e conferência com representante da ABEP – Associação Brasileira de Ensino em Psicologia.