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28/04/2015 - 18:03

UFMA promove encontro sobre medicalização

O V Encontro Ludovicense de Fenomenologia, Psicologia Fenomenológica e Filosofias da Existência (V ELFPFFE) reúne, na capital maranhense, estudantes e profissionais da psicologia e de outras ciências.

UFMA promove encontro sobre medicalização

medicalizacao_evento_salvadorA Universidade Federal do Maranhão (UFMA) realiza até amanhã (29) evento sobre a temática da medicalização da existência. O Encontro Ludovicense de Fenomenologia, Psicologia Fenomenológica e Filosofias da Existência (V ELFPFFE), que está em sua quinta edição, reúne na capital maranhense, estudantes e profissionais da psicologia e de outras áreas de conhecimento.

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) apoia o encontro e foi representado ontem pelo psicólogo Márcio Melo Guimarães de Souza, na mesa de abertura “A Psicologia Diante da Medicalização da Vida”, sobre os desdobramentos e consequências da medicalização na educação e na saúde.  Souza apresentou o posicionamento da autarquia, que considera o processo da medicalização prejudicial, pois transforma questões de ordem social, política, cultural em “distúrbios”, “transtornos”, atribuindo ao indivíduo uma série de dificuldades que o inserem no campo das patologias, dos rótulos, das classificações psiquiátricas.

O psicólogo falou sobre os desdobramentos da medicalização na educação, com o aumento de diagnósticos de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e no campo da saúde em geral.  Atualmente o Brasil é o segundo maior consumidor mundial de metilfenidato, droga usada para o tratamento de TDAH, revelando, segundo o profissional, a inversão de valores que tem dominado o campo educacional no Brasil.

De acordo com ele, o foco da medicalização centraliza a explicação dos problemas de aprendizagem da criança na própria criança, deixando de olhar para os métodos de ensino e  condições materiais da aprendizagem. “Sob quais condições de vida esta criança está submetida? Ela está alimentada? Como está a vida dela? Como está o contexto social dela? Ela está morando em condição adequada? Ela tem espaço para brincar, de ser criança? Está acontecendo alguma coisa em seu contexto familiar? A aprendizagem depende de todo esse contexto para que ela possa ser viabilizada. Assim, quando você diz que a criança tem TDAH porque é uma criança agitada, você desconsidera todo esse contexto e acaba centralizando apenas nela um olhar para o problema, e com isso deixa de tratar as outras questões”, destacou.

Para Souza, esta é apenas uma faceta da ampliação do poder da indústria farmacêutica na sociedade, que, ao enfatizar a necessidade de diagnóstico e tratamento de transtornos, trata dificuldades de aprendizagem e sofrimentos psíquicos como distúrbios exclusivamente orgânicos que, portanto, devem ser tratados com medicamentos.

“O olhar médico é importante, a gente não pode desconsiderar, mas temos que olhar para a saúde como um fenômeno complexo. Olhar para nossos estados emocionais e como estamos inseridos em nosso ambiente. Tudo isso precisa ser considerado em diagnóstico em saúde e não apenas a fração do olhar médico, principalmente do ramo da farmacologia, que considera que qualquer problema emocional é uma disfunção química. É assim que eles vendem medicamentos”, alerta.  Souza ressaltou, ainda, que os pressupostos organicistas e higienistas que fundamentam a medicalização da vida são contrários aos avanços da ciência psicológica, pois minam as possibilidades de as pessoas lidarem com os sofrimentos e perdas decorrentes da própria vida.

O evento é organizado pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Fenomenologia e Psicologia Fenomenológica do Departamento de Psicologia da UFMA e é aberto a profissionais das diversas áreas de conhecimento. Conta com conferências, mini-cursos, grupos de trabalho, lançamento de livros e sessões de filmes. A mediação da palestra de abertura foi realizada pela professora doutora Cristianne Almeida Carvalho – Coordenadora do Curso de Psicologia da UFMA.

“É uma iniciativa muito interessante da UFMA, uma oportunidade excelente de levar essa discussão para psicólogos que ainda estão em formação. Além disso, é um evento multidisciplinar, tinham alunos da sociologia, da filosofia, então acaba levando esse olhar para outras áreas”, destacou. Souza é mestre em Psicologia Escolar (PUC-Campinas), Psicoterapeuta Fenomenológico-Existencial, Orientador Vocacional, Career Coach, supervisor clínico, Docente do Curso de Psicologia da UNIP , do Centro de Psicoterapia Existencial e co-autor do livro “Angústia e Psicoterapia”.

O encontro acontece até amanhã, no campus da UFMA.

V Encontro Ludovicense de Fenomenologia, Psicologia Fenomenológica e Filosofias da Existência (V ELFPFFE) – “A medicalização da existência”.
Local: Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
Data: 27 a 29 de abril de 2015
Programação completa