Viver tem remédio?Essa foi a indagação que permeou os debates de uma das mesas realizadas pelo CFP na tarde de sexta-feira, durante o 9º Conpsi.
Loiva de Boni, integrante do coletivo ampliado do CFP, problematizou o debate relativo aos paradigmas proibicionista e anti-proibicionista no que se refere ao uso de drogas. Para ela, é preciso estabelecer um diálogo entre os dois posicionamentos, levando em consideração os diferentes contextos e pontos de vista. “Quando se ergue uma bandeira, se fecha uma ideia. Nessa perspectiva, quem fica prejudicado é o usuário e a discussão fica intoxicada. É necessário fazer uma faxina cognitiva nessa área”, pontuou, abordando ainda as diferenças de entendimento entre as estratégias de redução de danos e abstinência, ressaltando que não são incompatíveis.
Bruno Emerich, do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, apresentou a proposta de Gestão Autônoma da Medicação – método que surgiu em 1993, no Canadá, a partir de discussões sobre participação ativa nas decisões sobre medicação – como estratégia para empoderar usuários do CAPS.
Para Carolina Freire, representante do CFP no Fórum Nacional de Medicalização, é importante deixar explícito que, por medicalização, entende-se o processo que traz pra toda e qualquer dimensão social uma dimensão exclusivamente orgânica. “Quando combatemos a medicalização, não nos opomos ao avanço do conhecimento médico ou tratamentos, mas a forma exclusivamente organicista e à criação de novos diagnósticos para satisfazer a indústria farmacêutica”, afirmou.
Ela elencou, ainda, os impactos negativos da medicalização nas várias áreas da vida, como a educação e a saúde. “Na educação, a partir de 2000, houve um retorno das argumentações organicistas. O avanço do conhecimento médico permitiu, por um lado, a compreensão dos processos neuroquímicos, mas traz de volta o modelo organicista. A patologização da educação torna o problema exclusivo. Não tem nada a ver com método ou contexto, vira um problema do sujeito. Existem, hoje, muitos estudos comparando a criança usuária de ritalina com adultos usuários de cocaína”, completou.
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