(Notícia publicada inicialmente na edição 110 do Jornal do Federal, em maio 2015)
O Conselho Federal de Psicologia (CFP) continua, nesta edição, a seção “Fala, Psicólog@”: um espaço destinado à apresentação de profissionais da Psicologia de todas as áreas de atuação e de todas as regiões do país.
A cada número, um (a) profissional contará sua rotina de trabalho, perspectivas e desafios para a atuação na Psicologia. Para participar, envie um e-mail para jornaldofederal@cfp.org.br, ou mande uma mensagem privada em nossa fanpage no Facebook https://www.facebook.com/conselhofederaldePsicologia.
Dá para optar por uma entrevista pingue-pongue, ou enviar um texto de sua autoria, com no máximo 4.620 caracteres. A Assessoria de Comunicação do CFP ficará responsável pela avaliação e edição dos textos recebidos. Não se esqueça de encaminhar fotos suas e do seu ambiente de trabalho.
Neste número, pela região Norte, conversamos com a psicóloga Angelina Ribeiro de Sousa, que atua na profissão há 35 anos, natural de Macapá (AP). Angelina já atuou em diversas áreas da Psicologia, como a Assistência Social. Atualmente, ela reside em Belém (PA) e trabalha na Psicologia Organizacional, desde 2010, na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT).
Qual é sua área de atuação na Psicologia?
Atualmente, Psicologia Organizacional e do Trabalho, na Empresa Brasileira de Correiros e Telégrafos (ECT).
Como é sua rotina de trabalho?
Tenho uma agenda onde são marcadas todas as demandas de Psicologia. Da área de captação realizo as análises de perfis profissionais por meio de entrevistas admissionais por competências. Realizo, também, as entrevistas dos candidatos classificados no Recrutamento Interno; e empregados que são indicados para mudança de função, seguindo a mesma modalidade por competências.
Além da captação, atendo funcionários encaminhados pelos gestores, pelos médicos, ou procura espontânea, com dificuldades de relacionamento interpessoal; queixas/denúncias de assédio moral; vítimas de assaltos; transtornos psiquiátricos; e dependência química. As vítimas de assaltos e transtornos psiquiátricos são tratadas como demandas de urgências e emergências. Não raro, atendo também os familiares com algum problema intra e interpessoal.
A modalidade de atendimento é psicossocial e / ou psicológico de acolhimento, escuta, orientação e encaminhamento para a rede social e/conveniada.
Faço parte da equipe pró-saúde, formada por uma equipe multiprofissional: médico, psiquiatra, psicóloga e assistente social. Atuamos com ações preventivas, palestras, visitas domiciliares, institucionais e acompanhamento funcional.
Ademais, escrevo para o jornal interno online, produzido pela Assessoria de Comunicação (ASCOM) da ECT, da Diretoria Regional do Pará (artigo anexo).
O que você considera mais positivo em relação a seu trabalho?
A prática de desenvolver pessoas.
Das áreas em que você trabalhou, qual lhe representou o maior desafio? Quais as semelhanças e as diferenças entre elas?
Em todas as áreas nas quais já trabalhei tive muitos desafios, entretanto, o maior desafio foi na casa de apoio para pacientes TFD (Tratamento Fora de Domicílio) de alta complexidade. A gestão era compartilhada pela Secretaria Municipal de Assistência Social e Secretaria Municipal da Saúde e precisei implantar o serviço de Psicologia. Não possuía nenhuma vivência na área, afinal, iniciei a minha atuação profissional na área Organizacional, numa empresa de comunicação atuando em treinamento e desenvolvimento, onde trabalhei por mais de oito anos.
Não conhecia bibliografia específica, e tive que pesquisar muito em Psicologia Social e comunitária, e no campo da medicina, estudando as doenças de alta complexidade encontradas naquela população: câncer, renal crônico, dentre outros. A convivência diária com a vida e a morte iminente, separadas apenas por uma linha muito tênue, representou outro desafio, e nesse contexto o/a psicólogo/a tem um papel relevante – tanto com o paciente, quanto com os familiares.
Todos os desafios foram enfrentados positivamente, e serviram de alicerce ao meu crescimento e maturidade pessoal e profissional, sendo também uma forte experiência para outros trabalhos que vieram depois, em CRAS (Centro de Referência da Assistência Social), e atualmente na área Organizacional, onde trabalho.
As áreas possuem semelhanças e diferenças. As semelhanças estão relacionadas à resiliência tanto por parte do/da profissional quanto de favorecer o “ser resiliente”, por meio do feedback de desenvolvimento, possibilitando o crescimento, a inserção e a reinserção social, e o preparo para a vida: para as perdas e ganhos. Desenvolver bem estar, fazendo a gestão dos fatores que causam o sofrimento (psicodinâmica do trabalho).
Nesta área Organizacional, o maior desafio é o de desconstruir ideias e opiniões que ainda hoje permeiam o mundo do trabalho, que o/a psicólogo/a é só para captação (recrutamento e seleção) ou para cuidar de “funcionários problemáticos”.
Didaticamente, as diferenças são de foco, ou seja, na Assistência Social, a atenção básica é na dinâmica familiar/social. Na Organizacional, o foco principal é funcional, nas pessoas no trabalho e nas relações de trabalho, claro que esse processo alcança as relações pessoais e familiares e vice versa.
Quais as limitações que você encontra em seu cotidiano de trabalho?
A Psicologia Organizacional, mesmo com os avanços, ainda hoje, vive alguns equívocos, os rótulos de associar o/a psicólogo/a Organizacional ao recorte “recrutamento e seleção” e “apagador de incêndio”, ou seja, só recorrem ao psicólogo quando o problema já está instalado, portanto, esse é o maior desafio para nós psicólogos organizacionais, o de desconstruir rótulos e paradigmas obsoletos, construindo proativamente um novo cenário, ampliando o campo de atuação com narrativas profissionais e práticas eficazes, para conquistarmos novos espaços com credibilidade e confiança.
Esse novo cenário requer investimento em conhecimento, habilidade e atitude. Isto implica estudar e aperfeiçoar-se continuamente (interna e externamente à área de atuação), a fim de favorecer argumentos convincentes (narrativas profissionais e atuação adequada, eficiente e eficaz).
Ainda somos formiguinhas, mas é preciso ter determinação, passo a passo, e estar próximo das pessoas. Atitudes que geram comprovadamente excelentes resultados! Hoje, seguramente, sinto-me realizada e confiante pela credibilidade conquistada na empresa. Os resultados fazem parte das práticas inovadoras de um processo contínuo e renovado de busca de autoconhecimento e conhecimento.
Costumo dizer que o/a psicólogo/a Organizacional precisa trabalhar como um mentor. Ser estratégico e facilitador de melhorias organizacionais /comportamentais. Promover o desenvolvimento, o bem estar e a qualidade de vida no ambiente laboral. Assessorando e prestando consultorias ao clima organizacional, à gestão do absenteísmo, dentre outros aspectos organizacionais.
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