Descaso com a saúde mental no DF
O único hospital público especializado para tratamento psiquiátrico do Distrito Federal pede socorro. Por trás de uma fachada nova o São Vicente de Paulo, construído em 1959, esconde problemas. Buracos nas paredes e banheiros sujos e sem pias, com torneiras que servem de bebedouro para os pacientes. Nos quartos, camas sem lençóis e internos dormindo no chão.
“É um lugar que não serve para nenhum ser humano. Nem bicho agüenta!”, reclama o mecânico Felix Bandeira. A irmã de Félix sofre de transtorno bipolar, doença que altera o estado de humor. Em dias de crise passa a noite no hospital. “Toda vez que ela fica internada eu saio chorando. É desesperador você largar a irmã num lugar daquele”, confessa.
Numa outra sala, uma mulher é imobilizada e depois deixada sozinha. “É terrível, terrível! Amarra… Chega aqui, tira a roupa todinha e amarra a pessoa pelada. Se a gente reclamar, fica amarrada também”, denuncia uma interna.
“A contenção só pode ser aplicada naqueles casos em que todas as outras opções falharam. Por exemplo, o paciente que num momento de crise não possa usar um medicamento ou que o medicamento tenha falhado. A contenção é para proteção do paciente em momentos de crise. É preciso garantir que seja feita de forma humana e pelo menor tempo possível”, alerta o vice-presidente do CRM-DF, Cláudio Vieira.
“Tá vendo essa marquinha aqui no meu pescoço? Foi o enfermeiro que me enforcou!”, mostra a interna.
O doente mental precisa ser tratado com humanidade e respeito e ser protegido contra qualquer tipo de abuso e exploração. É o que está textualmente em duas leis, uma federal e outra distrital. É também o que recomenda a Organização Mundial de Saúde, mas tudo isso tem sido ignorado.
Um interno estava acorrentado. Parecia personagem de uma história de horror. Em vez de correntes, por lei, ele teria direito à socialização. Mas ganhou o isolamento, como se cumprisse uma pena. “É um modelo anacrônico e falido. Não vai levar a gente a lugar nenhum. Tem que sair da Idade Média e entrar na Idade Moderna, para os centros de atenção psicossocial”, afirma o representante do Conselho Regional de Psicologia, Edmar Carrusco.
“O uso de correntes no hospital é um histórico que nós nunca vimos. É completamente ilegal. Acorrentar pacientes é uma prática que está fora da realidade”, acrescenta o coordenador de Saúde Mental da Secretaria de Saúde, Antônio Geraldo da Silva.
A psiquiatra Iltanice Bezerra, diretora do hospital, disse que será aberta uma sindicância para apurar por que uma das pacientes apresentadas na reportagem foi contida e deixada sozinha no quarto. Sobre a reclamação de agressão, a diretora disse que a interna será encaminhada ainda hoje ao IML, para exames.
Já o paciente que foi visto acorrentado, Iltanice disse que é totalmente contra essa medida. Mesmos assim, como o rapaz está sob tutela da Justiça, os médicos não podem interferir na forma como ele foi levado e é mantido no hospital.
Fonte: Rede Globo
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