O Conselho Federal de Psicologia (CFP) participou, dia 4 de junho, em Brasília, do lançamento do relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT) sobre Conflitos no Campo Brasil 2017. Paulo Maldos, conselheiro e membro da Comissão de Direitos Humanos (CDH) do CFP, representou a autarquia no lançamento realizado na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
A publicação da 33ª edição do relatório reúne dados sobre os conflitos e violências sofridas por indígenas, quilombolas e outros povos tradicionais no campo.
O relatório de 2017 destaca o maior número de assassinatos em conflitos no campo dos últimos 14 anos: 71 assassinatos, dez a mais do que no ano anterior, sendo que 31 destes homicídios ocorreram em cinco massacres, o que corresponde a 44% do total. Além do aumento no número de mortes, houve aumento em outras violências. As tentativas de assassinatos subiram 63% e as ameaças de morte, 13%.
Maldos apontou que o lançamento deste ano foi o de maior participação na história dos relatórios produzidos pela CPT, com presença de entidades, movimentos sociais, representações políticas e, inclusive, vítimas dessas violências e seus familiares. “Essa maior participação decorre do aumento exponencial da violência contra movimentos, comunidades e lideranças. É reflexo desse aumento de ataques.”
Aumento de conflitos no campo e ruptura institucional
Os números mostram um crescimento nos conflitos no campo nos últimos dois anos. Para o conselheiro, este aumento tem a ver com a ruptura política e institucional ocorrida no país há dois anos com o impeachment. “Há um desregramento, uma desorganização institucional que reflete na falta de regramento na convivência social. Esta ruptura institucional sinalizou quase que uma autorização para matar, expulsar e desterritorializar, como se as leis não precisassem mais ser cumpridas, como se os interesses patrimoniais, econômicos, políticos e pessoais falassem mais alto que as leis.”
Maldos destacou que a Psicologia tem cada vez mais compreendido que essas situações de conflito e sofrimento dizem respeito à área de atuação e estudo da Psicologia, por terem uma dimensão subjetiva, além de reforçar a dimensão social e o papel ético político da profissão em defesa dos direitos. O conselheiro ainda lembrou que cada vez mais profissionais da Psicologia estão atuando em políticas públicas que advém de direitos. “Essa violência agride também a efetivação dessas políticas públicas.”