Descaso com a saúde mental no DF
No hospital falta estrutura e pacientes são atendidos com métodos considerados ultrapassados e desumanos. Pessoas são amarradas e depois deixadas sozinhas, dormindo no chão, e até com correntes. Esse tipo de situação coloca o Distrito Federal em um dos últimos lugares no ranking do Ministério da Saúde, na área mental.
“O que nós temos no São Vicente hoje é uma necessidade urgente de reformar toda a estrutura física. O hospital não comporta mais o que se faz necessário para um atendimento adequado ao doente mental”, afirma o coordenador de Saúde Mental da Secretaria de Saúde, Antônio Geraldo da Silva.
Mais do que problemas no hospital, quem procura por atendimento enfrenta uma batalha já nos ambulatórios, com uma longa espera. Por telefone, o funcionário avisa: “Pra ser sincero, se você quer se consultar na segunda é melhor perder a sexta à noite, o sábado e o domingo. Tem muita gente querendo! Na segunda, com certeza você consegue. As próximas já ficam marcadas no cartão. A média de espera é de um a dois meses, mas a gente pode tentar a chamada ‘consulta extra’. Aí eles encaixam!”, revela.
São 101 psiquiatras espalhados pelos centros de saúde e hospitais regionais. Mas o próprio coordenador do Serviço de Saúde Mental da Secretaria de Saúde reconhece: é pouco! “Nós precisamos do psiquiatra e de mais serviços descentralizados com esse enfoque médico e psicossocial. Assim, será possível atender um número maior de pessoas”, diz Antônio Geraldo.
Quem consegue vencer essa etapa se depara com mais uma dificuldade: a falta de remédios. Até mesmo o diazepam, um tranqüilizante muito utilizado, estava em falta quando a equipe de reportagem do Bom Dia DF visitou a farmácia psiquiátrica. De acordo com a funcionária, reposição só na semana seguinte. “O objetivo do diazepam é tranqüilizar o paciente. Por ter um baixo custo, é usado em larga escala pela população”, explica o psiquiatra Eugênio Cabral.
Outro problema grave é a falta de centros especializados para atendimento psicossocial dos doentes mentais. São apenas três: no Paranoá, Guará e Riacho Fundo. Situação diferente de outros estados que têm menos habitantes. Em Sergipe, por exemplo, onde moram dois milhões de pessoas, há 13 centros. Diferenças também na área de internação. No DF são 74 leitos públicos. Em Sergipe, 380.
“O GDF pediu ao Ministério da Saúde que ajudasse na elaboração de um plano de emergência para resolver o problema. O plano envolve a implantação imediata de serviços do tipo centro de atenção psicossocial na Ceilândia, Taguatinga e em outras cidades. Ou seja, nós vamos descentralizar o atendimento”, explica o coordenador nacional de Saúde Mental, Pedro Gabriel Delgado.
O autônomo André Araújo tem uma irmã com transtorno mental. Ele mora em Taguatinga, mas o atendimento é feito no Riacho Fundo. Com um abaixo-assinado tenta mudar essa situação. Já são 1.200 assinaturas. “Essas pessoas ficam jogadas. Esperam até uma semana, na fila, no sofrimento, até conseguir uma receita ou uma consulta médica. Nós queremos que a lei seja cumprida. Infelizmente, a área de saúde mental deixa muito a desejar”, reclama.
“Já temos prova de que a pessoa não precisa ficar internada a vida inteira. Tem gente que chega a ficar 30 anos num hospital. Com até 15 dias a crise é atendida e o paciente pode voltar para a sua convivência social”, afirma a representante do Conselho Regional de Assistente, Marlene Moraes Rêgo.
No Distrito Federal não existem residências terapêuticas. Locais onde ficam internadas permanentemente pessoas que não têm família e precisam de atendimento. Aproximadamente, 20 pacientes se encontram nesse quadro e estão no Instituto de Saúde Mental.
“Há um quadro generalizado de desatenção à saúde mental. Existe um modelo equivocado, centrado num hospital que é o São Vicente de Paulo. Um hospital que está, do ponto de vista das suas instalações, em situação bem precária. A situação é dramática e requer uma reforma imediata em toda área psiquiátrica do DF”, acrescenta o promotor de Defesa da Saúde, Jairo Bisol.
A Secretaria de Saúde informou que o estoque de diazepam está normalizado.
Fonte: Rede Globo
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