“Estou absolutamente tomada por um sentimento contagiante: a esperança”. Assim a presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Ana Sandra Fernandes, iniciou sua fala aos participantes que lotaram a solenidade de abertura do 6º Congresso Brasileiro Psicologia: Ciência e Profissão (CBP), realizado em São Paulo e que reuniu participantes de todas as regiões do país.
O evento, realizado pelo Fórum de Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira (FENPB), tornou-se ao longo dos últimos 20 anos um importante espaço de diálogo e mobilização da categoria, e neste ano conta com um público de mais de 6,5 mil participantes.
A presidente do CFP ressaltou que a sociedade brasileira enfrenta uma das mais severas crises político-econômicas da história, processo aprofundado pela pandemia da Covid-19. Nesse sentido, chamou a atenção para o acirramento da violação de direitos fundamentais, a omissão do poder público diante da pobreza e da fome, a negação da ciência, a desestruturação da democracia e a destruição dos vínculos de solidariedade. “Há muito a se reconstruir”, pontuou.
Ana Sandra destacou o legado que a Psicologia brasileira – ciência e profissão que, em 2022, completa 60 anos de regulamentação no país – acumulou ao longo das décadas. “Uma trajetória marcada pelo combate às discriminações e negligências, pautada pela defesa da pluralidade e da democracia. Tenho esperança na trajetória revolucionária da Psicologia”, concluiu.
O secretário executivo do Fórum de Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira (FENPB) e conselheiro do CFP, Antonio Virgilio Bittencourt Bastos, ressaltou a importância e a alegria de realizar esta edição do CBP no atual momento do país e o papel do congresso em debater os passos futuros da Psicologia brasileira. “ O 6º CBP simboliza a capacidade que construímos de trabalhar conjuntamente e de fazer da nossa diversidade menos um fator de rupturas e afastamentos e mais um fator que amplifica nossa voz e dá força às nossas reivindicações”.
Foi o que também defendeu a presidente do Conselho Regional de Psicologia da 6ª Região (CRP-SP), Talita Fabiano de Carvalho: ”que possamos fazer deste encontro um espaço de afetos, de trocas e de construção coletiva da nossa ciência e profissão”, afirmou.
Representando o Sindicato dos Psicólogos no Estado de São Paulo (SinPsi), Fernanda Magano reafirmou a urgência na reconstrução das politicas publicas e a contribuição da Psicologia neste contexto.“Que possamos aproveitar a amorosidade deste momento, pois estamos vivas(os), na luta e na resistência pela reconstrução deste país”, salientou. Além disso, destacou que a Psicologia, mais do que ciência e profissão, é uma postura política em busca da superação das desigualdades.
O conselheiro do CFP Rodrigo Acioli Moura, coordenador do 6º CBP, apresentou um panorama da magnitude do Congresso. Ao todo, o evento totaliza 6.852 pessoas inscritas (sendo 2.237 profissionais e 4.615 estudantes), representando todos os estados brasileiros e o Distrito Federal. Foram registrados 3.165 trabalhos, além de 977 comunicações orais, 21 conferências, 47 minicursos e 118 oficinas. “É muito conhecimento para ser compartilhado”, enalteceu Acioli.
Homenagem
A solenidade de abertura desta edição do Congresso Brasileiro Psicologia: Ciência e Profissão também prestou homenagem às vidas perdidas durante a pandemia da Covid-19.
Ângela Soligo, integrante da Secretaria Executiva do FENPB, recitou o poema “Inumeráveis”, do cordelista cearense Bráulio Bessa, fazendo um apelo para que a interrupção precoce dessas vidas não caia na invisibilidade e no esquecimento. Ressaltou ainda os percalços e desafios vivenciados pela população nos últimos quatro anos, reafirmando o papel da Psicologia na defesa de uma vida digna para todas as pessoas. “Se números frios não tocam a gente, espero que os nomes consigam tocar”.
Conferência magna
A psicóloga Maria Aparecida Bento, conselheira do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), trouxe importantes reflexões sobre o papel da Psicologia: “esse é um momento divisor de águas”, ressaltou ao destacar os desafios que o país atravessa no campo democrático.
Cida Bento frisou a complexidade do cenário nacional frente a episódios de racismo, de intolerância, de violência de gênero e de discursos de ódio que afetam as relações humanas e destacou que psicólogas e psicólogos, por terem a compreensão dos processos de construção das subjetividades, têm um papel essencial para entender a escolha das pessoas pela violência. “Há uma herança de discriminação de quatro séculos e temos que reconhecer essa herança para mudar o destino dessa nave que é o Brasil”.
Os pactos de dominação presentes nas instituições também foram ponto de reflexão. “O desafio da Psicologia hoje é trazer para nosso cotidiano a diversidade enquanto presença – negra, indígena, feminina. Trago essa provocação para nós psicólogas, psicólogos e psicologues”, completou.
Conselho Federal de Psicologia no 6º CBP
Durante os próximos dias do Congresso, o CFP participará de várias atividades, incluindo rodas de conversas, seminários, lançamento de publicações e reuniões diversas.
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