Os casos de depressão aumentaram quase 20% nos últimos dez anos em todo o mundo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima 322 milhões de casos em 2015, 18,4% a mais do que em 2005. O custo da queda de produtividade e das doenças vinculadas à depressão é próximo a US$ 1 tri por ano. O Brasil, que tem cerca de 5,8% da população (11,5 mi) afetada pela doença, é o país com maior número de casos na América Latina.
Para Rosane Granzotto, do Conselho Federal de Psicologia (CFP), a medicalização da vida e os fatores socioeconômicos e culturais interferem nas estatísticas sobre depressão. A apropriação do cotidiano pela medicina e a crescente demanda de produção e consumo transformam os indivíduos em mercadorias. Esta foi uma das conclusões apresentadas pela conselheira durante audiência pública nesta quinta-feira (8/6), em Brasília, na Câmara dos Deputados. O tema do debate foi o Projeto de Lei 1938/15, de autoria do deputado Paulo Foletto (PSB-ES), que busca incluir, no calendário do governo brasileiro, a Semana Nacional de Luta e Conscientização sobre a Depressão.
Segundo Granzotto, no mundo pós-moderno, “acabamos tratando as pessoas e nossas relações como coisas a serem usadas e descartadas. A falta de referências nos deixa à deriva. Tudo é passageiro. Tudo é substituível. Também somos passageiros e substituíveis.” É necessário, então, olhar o contexto. Vivemos num sistema capitalista global, numa ideologia do consumo que nos manipula para corresponder aos padrões preconizados pela sociedade como ideais. Daí surge a angústia em corresponder à imagem corporal perfeita, à prática de se divertir no consumo ou à busca da garantia do prazer obrigatório. A combinação dessas condições técnicas, sociais e comunicacionais – hoje não somos nem sequer vistos atrás do celular e nos comunicamos com ninguém – pode produzir condição de individualização competitiva e de isolamento psíquico que resulta em extrema fragilidade psíquica.
Políticas públicas – Granzotto defende que a depressão é uma forma frágil e ineficaz de resistência, “uma maneira de dizer não àquilo que nos oprime, porque nos carrega junto para o fundo do poço”. Ela advoga a necessidade de se pensar em ações políticas voltadas à garantia da prevenção e assistência à saúde mental, à garantia de direitos humanos, pois as diferentes formas de exclusão e violência também levam à depressão. Defende priorizar a prevenção em saúde mental por meio do fortalecimento das políticas públicas, especialmente às relacionadas à saúde da família, e construir rede voltada à população de crianças e adolescentes, seguindo os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS).
Além de Granzotto, o deputado Flavinho (PSB/SP), Quirino Cordeiro Júnior, coordenador-geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Ministério da Saúde, e Antônio Geraldo da Silva, superintendente técnico da Associação Brasileira de Psiquiatria, participaram da audiência.