Notícias

14/05/2014 - 17:22

CFP e Conanda falam sobre impactos da publicidade infantil

Entidades ddefendem um nível maior de exigências publicitárias voltadas para esse público

Crianças são sujeitos em formação, suscetíveis aos apelos da mídia. Com base nesse contexto, entidades do Sistema de Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes no Brasil defendem um nível maior de exigências publicitárias voltadas para esse público. Entre elas está o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), que conta com a participação do Conselho Federal de Psicologia (CFP).

O assunto consta no Projeto de Lei 702/11, que trata da restrição à veiculação de propaganda de produtos infantis, em trâmite na Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio (CDEIC) da Câmara dos Deputados.

A Resolução do Conanda nº 163/14 considera abusiva a publicidade e comunicação mercadológica dirigida à criança e estabelece princípios gerais para veiculação de propaganda a esse público. “Não se trata de impedir campanhas de utilidade pública, mas de barrar a abusividade da propaganda, como a comunicação mercadológica em creches e escolas, inclusive em uniformes ou materiais didáticos”, argumentou a colaboradora do CFP Esther Arantes.

A presidente do Conanda, Miriam Santos, explicou que por serem pessoas em desenvolvimento, crianças e adolescentes devem ser protegidos e preservados de abusos do marketing ou da publicidade. “Elas não consomem, o consumismo faz parte da vida dos adultos. Eles que decidem o que comprar”, frisou. “O Conanda pretende uma mudança de paradigma do consumismo para a proteção de jovens”, adiantou.

A regulação ou erradicação de anúncios para o público infantil também está inserida na Constituição Federal (art. 227), no Código de Defesa do Consumidor – CDC (arts. 36 e 37), no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e no Código de Autorregulação Publicitária. No Congresso Nacional, tramitam na Câmara os PLs 5921/01 e 702/11, e no Senado os PLs 360/12 e 493/13.

Do ponto de vista da Psicologia, Esther afirma que o ataque massivo da propaganda na cabeça das crianças gera impactos psicológicos que podem causar sentimento de exclusão, não pertencimento e inadequação aos padrões por não possuir determinado produto.

Qual a solução?

Para o CFP e o Conanda, não deve haver restrições apenas em campanhas de utilidade pública que não configurem estratégia publicitária e tratem de informações sobre alimentação, segurança, educação, saúde e itens relacionados ao desenvolvimento da criança. No entanto, elas devem seguir princípios gerais que levem em conta a atenção e o cuidado às características desse público como pessoas em desenvolvimento.

Nos demais anúncios, Esther Arantes foi bem enfática: “Algum tipo de regulamentação é necessária”. Já a presidente do Conanda reforçou que a melhor solução seria que as empresas de publicidade e marketing, bem como as agências reguladoras e a mídia adotassem a prática da proteção ao público infanto-juvenil, e não a imagem de crianças e adolescentes para fomentar o consumo.

Os produtos oferecidos a esse público são variados, e vão desde a alimentação até o vestuário, passando por equipamentos eletrônicos e remédios. “Não existe uma hierarquia entre as piores propagandas, todas consideradas abusivas são nocivas ao desenvolvimento sadio de uma criança ou adolescente”, sintetizou Miriam.

A colaboradora do CFP concordou que não há como hierarquizar qual a publicidade mais danosa. No entanto, ressaltou que existe uma preocupação maior sobre a propaganda de comidas. “O aumento da obesidade infantil tem preocupado os profissionais de saúde”, disse. Dados do Ministério da Saúde divulgados em 2013 apontam que uma a cada três crianças está acima do peso no Brasil.

Esther Arantes frisou, ainda, o impacto de propagandas que incitam a violência, individualismo e competitividade extremada entre os indivíduos, capazes de formar consumidores compulsivos e acríticos.  “Por outro lado, existe a preocupação por anúncios dirigidos aos pais com medicamentos e terapias que prometem fazer os filhos mais inteligentes, responsáveis e produtivos, numa medicalização generalizada”, alertou.

O desafio, segundo Miriam Santos, é que profissionais da publicidade e do marketing inventem peças que promovam a proteção integral, sejam capazes de criar oportunidades, e facultem o desenvolvimento físico, mental, moral e social em condições de liberdade e dignidade as crianças e aos adolescentes.

Parecer

Em 2008, o CFP solicitou ao professor Yves de La Taille um parecer sobre publicidade dirigida ao público infantil. O documento indicou que, embora seja louvável que se criem leis e regulamentações para a proteção de crianças e adolescentes de influências externas às quais eles ainda têm dificuldades de perceber e poucos recursos para resistir, vive-se em uma sociedade de mercado.

Desta forma, o parecer concluiu que por mais restritivas que sejam tais regulamentações, a criança ainda será submetida a uma avalanche de mensagens sedutoras, e será ela mesma uma consumidora. Neste sentido o documento enfatizou que, a médio e longo prazo, a educação é o melhor caminho.