Com vistas a propagar o conhecimento científico e ampliar o alcance de artigos acadêmicos para a categoria e para a sociedade, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) inicia neste mês a divulgação de artigos da edição 36.2 da Revista Psicologia: Ciência e Profissão, publicada recentemente na plataforma SciELO. O primeiro da série é Concepções e Práticas de Psicólogos Escolares e Docentes acerca da Inclusão Escolar. Toda a semana, o Conselho publicará um artigo do periódico em seu site e nas redes sociais.
O artigo discute atrasos e desafios para alcançar uma inclusão escolar satisfatória em João Pessoa (PB). “Observa-se, muitas vezes, a inserção de crianças com necessidades educacionais especiais sem que a escola desenvolva condições físicas e de apoio favoráveis para recebê-las ou sem que objetive potencializar as habilidades destas crianças”, aponta o resumo do documento, elaborado a partir de entrevistas semiestruturadas, baseadas na literatura da área escolar, com quinze psicólogos e quinze docentes de escolas públicas. “Os resultados revelaram que, embora a maioria dos docentes e psicólogos mostre-se favorável à inclusão escolar, suas ações ainda se encontram distantes da perspectiva inclusiva defendida por pesquisadores e profissionais que se debruçam sobre esta questão”.
A Assessoria de Comunicação do CFP entrevistou Fabíola de Sousa Braz-Aquino, uma das autoras do artigo. Ela é docente da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e falou mais sobre a pesquisa. As demais autoras são Ingrid Rayssa Lucena Ferreira (Psicóloga pela UFPB) e Lorena de Almeida Cavalcante (mestre em Psicologia Social pela UFPB).
Confira a entrevista:
O que as motivou a fazer a pesquisa sobre inclusão escolar nas escolas de João Pessoa?
Primeiro, considero relevante mencionar que essa pesquisa é derivada de outros estudos já publicados com a minha coordenação que investigaram concepções e práticas de psicólogos e docentes sobre o trabalho do psicólogo escolar (estudos já publicados). Essa foi uma pesquisa de iniciação científica que buscou adentrar na questão da inclusão por entendermos ser fundamental que os psicólogos e docentes, além da comunidade escolar em geral, compreenda a relevância do processo de inclusão e trabalhe para que ele efetivamente se faça presente nas escolas. Isso demanda todo um arcabouço teórico e metodológico que deve ser construído desde a formação dos profissionais e que nem sempre é contemplado na formação dos mesmos. Essa é uma das questões que discutimos no artigo: a necessidade de formação básica e continuada dos psicólogos e docentes para lidar com as complexidades que a escola nos endereça como profissionais do campo da educação.
Temos crianças com diversos tipos de deficiências, síndromes e necessidades educacionais específicas que demandam dos profissionais da escola/educação, tal como o psicólogo, um conjunto de saberes e práticas que tornem a escola um contexto de desenvolvimento e aprendizado para todos, independente de suas características, condições de vida e relações que estabelecem com as pessoas e seus contextos.
Quais os resultados que você destaca desse levantamento?
Antes de falar sobre os resultados, acho pertinente referir que essa pesquisa foi realizada em 2014 com apenas 15 psicólogos e 15 docentes, resultado que não nos permite generalizações quanto às práticas e concepções do quadro geral de psicólogos e docentes que atuam em nossas escolas, embora nos disponibilize indicadores e nos permita discuti-los com outros estudos. Ademais, a partir de 2015, por meio de concurso público, o quadro de psicólogos escolares foi alterado, o que demanda novas pesquisas.
Com relação aos resultados do estudo, destacaria a menção, pelos profissionais, de que não tiveram, durante sua graduação, oportunidade de conhecer e estudar nas disciplinas dos seus respectivos cursos a temática da educação inclusiva e as formas de intervir junto a essa questão na escola, ou seja, a formação dos profissionais participantes desse estudo parece não ter subsidiado suas ações frente ao trabalho com estudantes com desenvolvimento atípico e/ou com necessidades educacionais especiais.
Também citaria, atrelada à citada questão, os referenciais adotados que, pelo discurso dos participantes, não parece dar sustentação a suas práticas. O ponto positivo é que a maioria dos profissionais é favorável a esse processo, o que se constitui como um importante aspecto para que se construam propostas efetivas de inclusão por parte da equipe escolar.
Na sua opinião, o que precisa ser feito para que a inclusão escolar seja mais efetiva nas escolas?
Penso que muito ainda precisa ser feito, mas cito apenas alguns pontos: a formação nas universidades deve levar aos graduandos estudo e discussões que estejam mais próximos às questões que são endereçadas aos profissionais e a toda a comunidade escolar, e a questão da inclusão é algo que, dependendo da estrutura do curso de graduação, ainda é pouco explorada; também é fundamental que os profissionais da escola e as famílias se apropriem das políticas públicas referentes à Educação Inclusiva e das possibilidades de intervenção de cada profissional; conheçam e debatam coletivamente leis e documentos oficiais sobre essa questão, e que o projeto político pedagógico das escolas contemple a questão da inclusão e da diversidade.
Outro aspecto importante é que os projetos que são implementados nas escolas precisam refletir as características e demandas específicas de cada escola, que tem sua complexidade e especificidade.
Além disso, penso que uma ressignificação das concepções de profissionais do corpo técnico, docentes, gestores, funcionários de apoio, familiares e estudantes acerca do processo de inclusão pode auxiliar aos docentes e estudantes a lidar com os diferentes ritmos, trajetórias e modalidades de ensino e aprendizagem; também considero relevante mencionar que as ações e projetos na/da escola precisam expressar um currículo plural e que respeite a diversidade do processo de desenvolvimento humano. Ademais, penso ser importante a criação de espaços de diálogo, reflexão e trabalho contínuo que possam dirimir mitos e preconceitos sobre as pessoas com deficiência e necessidades educacionais especiais, aspecto mencionado na pesquisa.
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