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09/09/2016 - 11:19

Contribuições da Psicologia para o Matriciamento em Saúde Mental

Confira o artigo da revista Psicologia: Ciência e Profissão, publicado nesta semana

Contribuições da Psicologia para o Matriciamento em Saúde Mental

As Contribuições dos Psicólogos para o Matriciamento em Saúde Mental” é o artigo da edição 36.2 da revista Psicologia: Ciência e Profissão, publicado nesta semana pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP). O periódico, cuja versão eletrônica se encontra na plataforma SciELO, tem toda semana um texto publicado no site do CFP e nas redes sociais. Com isso, a autarquia busca ampliar o conhecimento científico, a fim de expandir o alcance de conteúdos acadêmicos para a categoria e para a sociedade.

De acordo com o resumo, o objetivo do artigo foi investigar as concepções do (a) psicólogo (a) da atenção básica sobre o apoio matricial em saúde mental e as consequentes repercussões de tais entendimentos para sua prática neste nível de atenção, em uma realidade municipal em que se optou por inserir esses profissionais em 100% de suas Unidades de Saúde (US) e por afirmar o matriciamento em saúde mental partindo apenas dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps).

Para isso, foi selecionada uma US de cada uma das seis regiões de saúde de um determinado município, e realizada entrevista semiestruturada com o (a) psicólogo (a) de cada uma delas, totalizando seis participantes de pesquisa.  Foi detectado, a partir desses entendimentos compartilhados pelos profissionais de saúde, que alguns (mas) psicólogos (as) apresentaram dificuldades em afirmar outra prática que não aquela voltada ao atendimento ambulatorial individual, mas também outros conseguiram estabelecer parcerias diversas para o cuidado em saúde, a partir da concepção de que este trabalho requer compartilhamento de saberes, para uma atuação voltada à integralidade.

A Assessoria de Comunicação do CFP entrevistou Luziane Zacché Avellar, professora associada II do Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). A outra autora do artigo é a professora adjunta do Departamento de Psicologia da Ufes Alexandra Iglesias.

Confira a entrevista:

O que as motivou a fazer a pesquisa sobre esse tema?

Durante oito anos atuei diretamente realizando o Matriciamento junto à atenção básica compondo a equipe do Caps. Meu envolvimento com a temática seguiu com a minha integração à equipe da coordenação da atenção básica da Secretaria Municipal de Saúde de Vitória como responsável pela implantação dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf) no município, os quais trabalham prioritariamente com a lógica do Matriciamento. Nesse percurso foi possível apreender a diversidade de entendimentos e práticas realizadas em nome do matriciamento. Todo esse contexto suscitou em mim a necessidade de estudar a fundo esta temática, tomada então como objeto de estudo do meu doutoramento.

Quais os resultados que você destaca desse levantamento?

Há uma diversidade de entendimentos sobre matriciamento, que coexistem nas Unidades de Saúde e tem orientado as práticas, e apesar de serem nomeadas de Apoio Matricial, se diferenciam nas concepções de mundo, de sujeito e saúde. Os entendimentos dos entrevistados, em geral, apontaram em duas direções: a primeira, uma perspectiva de saúde como ausência de doença, ao discutir, por exemplo, a resolutividade do apoio matricial, ou ainda ao trazer a ideia de compartimentalização dos sujeitos, por conceber que cabe unicamente aos (às) psicólogos (as) os cuidados em saúde mental. A segunda, uma perspectiva mais ampliada de saúde, em que foram propostas alternativas de cuidado a partir da realidade de um determinado território, pela desmedicalização e pela não fragmentação dos sujeitos nas questões relacionadas à saúde.

Pôde-se constatar também, que ainda existe forte associação dos profissionais ‘psi’ ligadas exclusivamente à saúde mental, fragmentação do cuidado em especialidades, de relações hierarquizadas entre especialistas e generalistas, que reforçam a manutenção de práticas individualizadas e obstaculizam a efetivação de parcerias para a promoção à saúde. No entanto, também são inegáveis as contribuições trazidas pelo apoio matricial à saúde mental, mesmo diante das dificuldades de se efetivar esta proposta em toda a sua potencialidade. Trata-se de uma estratégia em construção, a qual requer um trabalho contínuo de afirmação de suas potencialidades em contribuir para a construção de um sistema de saúde de qualidade em sua proposta de cuidado integral a todas as pessoas, incluindo àquelas que vivenciam a experiência de sofrimento psíquico por todos os profissionais de saúde, independente de formação na área ‘psi’.

Na sua opinião, o que deve ser feito para que o entendimento em torno do matriciamento em Saúde Mental seja melhor compreendido e praticado pelos (as) psicólogos (as)?

Considero importante ampliar a discussão teórica e práticas sobre o matriciamento, não só dentro dos espaços dos serviços, com aqueles profissionais já atuantes no contexto do SUS, mas também dentro das universidades. Muitas vezes, os (as) psicólogos (as) têm saído da graduação sem sequer conhecer essa lógica de atuação. Destaco a importância disso considerando o quanto esses profissionais têm sido requisitados, por exemplo, a atuarem nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família, que trabalham necessariamente com a lógica matricial.