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09/12/2017 - 19:45

Do cuidado em liberdade à geração de trabalho e renda

Programação cultural teve apresentação da Viradouro, que mostrou o samba enredo do Carnaval de 2018

Do cuidado em liberdade à geração de trabalho e renda

Luta antimanicomial: 30 anos da luta antimanicomial

Uma das principais características do “Encontro de Bauru: 30 anos de luta por uma sociedade sem manicômios” é a integração entre usuários e profissionais de diversas áreas. E esta foi o tom das 14 rodas de conversa do evento, realizadas, dias 8 e 9 de dezembro, na Universidade do Sagrado Coração, em Bauru (SP).

Com temas como a precarização do trabalho na saúde mental, infância e juventude, álcool e outras drogas e medicalização da sociedade, as rodas de conversa permitiram diálogos horizontais e resultaram em decisões que serão sistematizadas em documento-síntese do Encontro de Bauru. O Conselho Federal de Psicologia (CFP) esteve presente em todas as conversas, contribuindo com os debates por uma sociedade sem manicômios.

O evento de Bauru teve, ainda, atividades culturais, Feira de Economia Solidária, ato público e até apresentação da Escola de Samba Unidos do Viradouro. Como o samba enredo de 2018 da Viradouro será a loucura como potência criadora, um grupo de carnavalescos da escola participou do encontro, a convite do CFP. O samba diz que “É ter na mente o dom da criação/Onde ser louco é inspiração/Une verso à melodia/Brincar de Deus… e com as cores delirar/Nos sonhos meus (…)/Sei que a loucura é o x da questão/Ser ou não ser mais um entregue à razão/Fazer do lixo uma bela fantasia/Eu sou um sonhador, um pierrô alucinado.”

Rodas de Conversa

Saiba um pouco sobre os debates ocorridos nas 14 rodas de conversas do Encontro de Bauru, 30 anos de luta por uma sociedade sem manicômios:

Cuidado em liberdade: A RAPS que queremos

Balanços, perspectivas e estratégias de ações sobre a situação do funcionamento dos serviços substitutivos foram discutidos, considerando o protagonismo de usuários e familiares e as particularidades de cada território.

Por uma Reforma Psiquiátrica antimanicomial: desafios e impasses para os movimentos sociais

Analisada a Reforma Psiquiátrica no Brasil, desafios e proposta agenda conjunta entre entidades.

Trabalho em saúde e enfrentamento da precarização

Discussão sobre o enfrentamento às diferentes formas de precarização de trabalho no Sistema Único de Saúde (SUS) e análise sobre os impactos da terceirização e da alta rotatividade de profissionais nos serviços de atenção.

Contra a maré: Velhos e novos problemas da institucionalização

Discussão sobre velhos e novos instrumentos contra a institucionalização. Além da Defensoria Pública e as coordenações dos promotores de Saúde dos municípios, que trabalham em defesa da Rede de Atenção Psicossocial (Rapsi) contra as internações compulsórias, o grupo sugeriu atuar em conjunto com os movimentos sociais e com as instituições estaduais, de forma a estreitar relações em defesa dos Direitos Humanos.

Justiça e garantia de direitos

A conselheira Jureuda Guerra participou da roda de conversa sobre justiça e garantia de direitos. O grupo decidiu lutar por ampliação da acessibilidade, por garantir direitos e informações sobre pessoas com transtorno mental. Outra sugestão foi solicitar recomendação ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre a retirada de bebês de mães usuárias de drogas, reconhecendo também a lógica antimanicomial e considerando os instrumentos legais já existentes, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Loucos como sujeitos de direitos

A conselheira Norma Cosmo disse ter sido enriquecedor poder ouvir a fala dos próprios usuários, o depoimento de quem vive o cotidiano de ter seus direitos atacados e de precisar, a cada momento, reivindicá-los. “Eles não são tratados como pessoas, principalmente nos equipamentos, nos hospitais. Nos depoimentos, relatam que, por apresentar uma condição de sofrimento mental, são segregados e estigmatizados.”

Comunicação e cultura

Debateu-se a importância de a mídia ser cada vez mais abastecida com informações sobre a luta antimanicomial. A discussão apontou a necessidade de trabalhar com a imprensa tradicional e com a mídia alternativa para incluir temas relacionados à luta. O grupo, que ficou de se reunir novamente para elaborar proposições para incluir o tema na mídia, teve participação do conselheiro Pedro Paulo Bicalho e da conselheira Clea Oliveira.

Infância e Juventude

A roda de conversa deu a voz a profissionais, mães e adolescentes dos Centros de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil (Capsis). O objetivo da discussão foi buscar diretrizes sobre como apoiar os Capsis que trabalham com crianças e adolescentes. Decidiu-se por lutar pela criação de mecanismos de atenção psicossocial, principalmente nos municípios de pequeno porte, e pelo fortalecimento dos Capsis.

A relatora do grupo, conselheira Iolete Ribeiro, explicou o desmonte das políticas públicas de saúde mental e a portaria da Rede de Atenção Psicossocial (Rapsi), já aprovada.

Álcool e outras drogas

“As pessoas estão levando uma droga de vida e estão fazendo uso de drogas”. A frase do conselheiro Paulo Aguiar sobre o problema do uso de álcool e drogas no país resume o tema da roda de conversa.

Segundo ele, é necessário pensar na questão da intersetorialidade, como saúde, educação e assistência, e no apoio a essas pessoas. A internação compulsória e a judicializacao também foram discutidas pelo grupo.

Políticas Públicas em tempos de desmonte dos direitos sociais

O conselheiro Paulo Maldos explicou que a discussão foi dividida em dois momentos: conjuntura política e apresentação de propostas, eixos de luta e formas de resistência às políticas de desmonte.

O direito à diferença: a luta contra as opressões

Debatidas violações de direitos e violências cotidianas vividas por mulheres, população LGBT, negros e negras, povos indígenas. Também foram feitos balanços e apontadas perspectivas e estratégias de ações.

O direito a cidade: luta antimanicomial e intersetorialidade

O mote foi o trabalho intersetorial, de forma a fortalecer a luta e enfrentar os retrocessos da atual conjuntura. Apontou-se a necessidade de regionalizar o debate, com a criação de fóruns permanentes intersetoriais e territoriais com agendas comuns.

Geração de trabalho e renda e economia solidária

O debate destacou que tanto usuários quanto profissionais aprendem juntos a desenvolver suas potencialidades criativas e de trabalho na economia solidária, refletindo na inclusão dos usuários no mercado de trabalho.

Participantes levantaram a questão dos limites dessa inclusão e os impactos no próprio tratamento e em outras áreas da vida dos usuários, necessitando, portanto, de um acompanhamento multidisciplinar dessa inclusão no mundo de trabalho.

Medicalização da sociedade

Pensar os diferentes impactos da medicalização e a patologização no cotidiano e suas relações com a cultura e a histórica posição que a psiquiatria ocupa nos espaços de tratamento. Essa foi o pensamento apresentado pelo representante da Comissão de Direitos Humanos do CFP Ematuir Teles. Para ele, há uma prevalência do saber médico em relação às outras práticas na sociedade, o que contribui para a prática da medicalização.

Ematuir também apresentou o debate sobre a despatologização das transexualidades. “Ainda estamos em um contexto onde as pessoas travestis e trans são consideradas doentes e isso gera efeitos até no acesso à saúde”.

Saiba mais

Encontro de 30 anos da luta antimanicomial reúne 1,8 mil participantes em Bauru  

Abertura foi marcada por homenagens póstumas a militantes da luta antimanicomial, como Marcus Vinícius de Oliveira

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O presidente do CFP, Rogério Giannini, foi o entrevistado do programa “Seu Jornal”, da TVT, na terça-feira (5)

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