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12/12/2014 - 14:11

Estatuto da Família pode comprometer adoção de crianças no Brasil, aponta psicólogo

Para Marco Aurélio Prado, integrante da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia (CFP), caso aprovada, a medida acarretará não apenas na negação de direitos da população LGBT, mas também afetará a vida de milhares de crianças que passam por processos de adoção por famílias homoafetivas

Estatuto da Família pode comprometer adoção de crianças no Brasil, aponta psicólogo

Tramita no Congresso Nacional um projeto de lei que pode colocar em risco avanços conquistados por famílias LGBT, inclusive no que se refere à adoção de crianças.

O Estatuto da Família (PL 6.583/13), relatado pelo deputado Ronaldo Fonseca (PROS-DF), define família como o “núcleo formado a partir da união entre homem e mulher, por meio de casamento, união estável ou comunidade formada pelos pais e seus descendentes”, negando o reconhecimento legal das famílias homossexuais. A proposta prevê modificação no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – Lei 8.069/90) para proibir a adoção de crianças por casais homossexuais, além da instituição de disciplina obrigatória, “Educação para a Família”, nos currículos das escolas de ensino fundamental e médio.

Nesta terça (9), após um pedido de vista coletivo, a votação foi adiada para a próxima terça-feira (16). O pedido foi apresentado pelo deputado Paulo Freire (PR-SP) e acabou tendo a adesão de vários outros parlamentares. A deputada Erika Kokay (PT-DF) apresentou 11 emendas ao substitutivo, que terão de ser avaliadas pelo relator da matéria.

O projeto tramita em caráter conclusivo e, portanto, poderá seguir direto para o Senado, caso seja aprovado na comissão especial. O texto só será analisado pelo Plenário da Câmara se houver recurso nesse sentido assinado por pelo menos 51 deputados.

Antes de votar, a comissão especial deve levar em consideração o resultado da enquete proposta pelo site da Câmara dos Deputados, sobre a opinião da população relativamente à definição restritiva de família. Até o momento, mais de 4,4 milhões de votos já foram computados. O “não” está vencendo por 49,99%, contra 49,7%.

Para Marco Aurélio Prado, integrante da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia (CFP), caso aprovada, a medida acarretará não apenas na negação de direitos da população LGBT, mas também afetará a vida de milhares de crianças que passam por processos de adoção por casais do mesmo sexo. “O Estado brasileiro não pode interferir sobre o direito privado de constituição de famílias das formas diversas e com os arranjos mais heterogêneos possíveis. Isso seria uma incidência sobre a estrutura e estilo de vida dos indivíduos, o que é inadmissível em uma democracia que possui como transversalidade o aprofundamento dos direitos humanos. As famílias são diversas e o Estado precisa dessa diversidade para poder continuar a ocupar o seu lugar de organizador”, aponta.

Conquistas

O Judiciário já deu o primeiro passo para o reconhecimento da igualdade de direitos, a união estável e sua conversão em casamento civil. Já o direito de adoção por homossexuais foi reconhecido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em votação unânime em abril de 2010.

Uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre casamentos de pessoas do mesmo sexo revelou, nesta semana, que 3.701 homens e mulheres oficializaram seus relacionamentos em 2013. O número representa 0,35% de todos os casamentos registrados no país naquele ano.

Campanha

No mês passado, o Conselho Nacional de Justiça lançou a campanha #MêsDaDiversidade, que  cita a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que definiu que casais compostos por duas pessoas do mesmo sexo são entidades familiares, e diversos deles já adotaram crianças ou tiveram filhos por métodos de reprodução assistida.