Estudantes secundaristas, professores, moradores de bairros populares, gestores da área de Saúde Mental, pesquisadores e profissionais da Psicologia participaram da Conversa Pública Ocupa Clínica do Testemunho, no Rio de Janeiro. A atividade buscou promover a apropriação, pela população e por entidades civis, de iniciativas em andamento focadas na reparação para cidadãos atingidos pela violência do Estado.
O encontro foi realizado no sábado (14), no Colégio Estadual Amaro Cavalcanti, no Catete, no contexto da ocupação de cerca de 70 escolas fluminenses por educação de qualidade. Organizado pela Equipe Clínica do Projeto Clínica do Testemunho do Instituto de Estudos da Religião (Iser), o evento começou com mesa coordenada por Tania Kolker, atual coordenadora do Clínicas, e composta pela conselheira da Comissão de Anistia Carol Proner, pelos psicanalistas Eduardo Losicer, Luciano Elias e Osvaldo Saidon e pelo deputado federal Jean Wyllys (Psol-RJ).
Em seguida, uma tribuna coordenada por Pedro Strozemberg, em que se apresentaram diversos ativistas de movimentos sociais com experiências em ocupação, como o Ocupa Dops, o movimento antimanicomial Fora Valencius, e testemunhos do Levante Popular da Juventude, de Filhos e Netos, de secundaristas e do Comitê de Apoio da Sociedade Civil à Comissão de Anistia.
Também participou desse bloco a ex-coordenadora do projeto Clínicas do Testemunho no estado, Vera Vital Brasil. “Falei sobre a importância de implantar as Clínicas do Testemunho na rede pública, articulando-as com os serviços públicos, tanto de saúde mental como de atenção clínica geral”, conta a psicóloga, que integra Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia (CFP). “A ideia é transversalizar ações nos serviços de atenção clínica e de educação, buscando a interação com os serviços já instalados.”
Vera estima que a Conversa Pública tenha reunido 150 pessoas. “Jovens relataram como são abordados pela polícia, que os revista, constrange e muitas vezes diz coisas como ‘negro quando não é maconheiro é criminoso’”, diz. “Participantes da ocupação nas escolas disseram que nunca haviam visto tantos psicólogos juntos e que precisam de atendimento psicológico.”
Ligado à Comissão de Anistia, o projeto em âmbito nacional tem por objetivo a implementação de dispositivos e núcleos de apoio e atençãopsicológica aos indivíduos, famílias e grupos afetados pela violência praticada por agentes do Estado. Trata-se de promover uma reparação simbólica, por meio de atenção psíquica a pessoas afetadas direta e indiretamente, ajudando a enfrentar os legados da ditadura e o desrespeito cotidiano aos direitos humanos.
Editais
O edital da primeira edição, de 2012, atentou a danos causados no período de 1964 a 1988, com apoio a quatro projetos em diferentes estados. O da segunda selecionou cinco propostas e, por meio de parceria com o Fundo Newton, do Reino Unido, estendeu-se ao período mais recente. As propostas selecionadas se espelharam em cinco centros de capacitação, integrados também por projetos apoiados por instituição britânica. Assim, dez núcleos compõem a rede atual.
No Rio, as atividades passaram a ser encabeçadas pelo Iser. A plataforma fluminense inclui o Ocupa Dops, proposta de transformar o prédio que abrigou o Departamento de Ordem Política e Social em um centro de memória, propulsor de políticas de direitos humanos.
Foto: Mídia Ninja