Thahyana Mara Valente Lima é natural de Fortaleza/CE, e hoje mora e trabalha em Jaguaruana, no mesmo estado. Psicóloga há oito anos, ela coordena atualmente o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos no Centro de Referência da Assistência Social do município cearense.
Qual é sua área de atuação dentro da Psicologia?
Minha abordagem terapêutica é a AC (Análise do Comportamento), com atuação em Psicologia Social. Trabalho no CRAS (Centro de Referência da Assistência Social), coordenando o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), lidando diretamente com 20 grupos de crianças, adolescentes e idosos. Neste trabalho, procuro desenvolver práticas culturais de responsabilidade social e comunitária e a valorização da cultura local e do ambiente social.
Como é sua rotina de trabalho?
Sou concursada no município há oito anos, com carga horária de 30h. Portanto, trabalho de segunda à quinta-feira na coordenação do SCFV.
A parte burocrática se divide entre a organização do banco de dados com informações de todos os participantes dos serviços de convivência e seleção do público prioritário para acompanhamento, evolução do prontuário do indivíduo e encaminhamento ao PAIF e/ou demais políticas. Já a parte organizacional envolve Capacitação de Orientadores e Facilitadores Sociais e planejamento e desenvolvimento de estratégias e manutenção do contato com as contingências naturais e sociais que modelam o comportamento humano.
Estamos sempre refletindo e repensando quais práticas socioculturais precisamos selecionar para educar os novos participantes dos SCFVs para a reprodução das práticas positivas obtidas e mantidas por quem já passou pelo nosso serviço. Compreendo que as pessoas agem para melhorar a comunidade em que vivem quando são induzidas a fazê-lo pelas mudanças e satisfação pessoal que obtiveram ao desenvolver um novo olhar para si e para a comunidade que habitam.
Através da peculiaridade de cada grupo, podemos adaptar os eixos estruturantes (Convivência Social, Participação Cidadã e Mundo do Trabalho) propostos pelo MDS (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome) às 7 Dimensões Metodológicas (Dialógica, Reflexiva, Cognitiva, Afetiva, Ética, Estética e Lúdica) que compõem a metodologia do nosso trabalho no campo social. .
O que você considera mais positivo em relação ao seu cotidiano de trabalho?
Gosto da oportunidade de agir num município de pouco mais de 32 mil habitantes, fugindo dos grandes centros urbanos, onde a vida se tornou mecânica, para agir num lugar onde as pessoas ainda se conhecem pelo nome.
Gosto mesmo é da forma como essa mudança social só é possível com a sensibilização do indivíduo, do reconhecimento da sua própria responsabilidade pessoal para si e para com o outro. Gosto de ser um agente de mudança em prol do fortalecimento de vínculos sociais e comunitários.
Tem acontecido uma mudança social interessante nos últimos oito anos por aqui. Quando cheguei no CRAS em 2006, o trabalho com idosos era inexistente. Oito anos depois, nosso Serviço de Convivência para a Pessoa Idosa virou a “menina dos olhos” do município e foco de projetos de pesquisa e monografia de universitários das mais diversas áreas (fisioterapia, serviço social, enfermagem, educação física etc).
E como foi que essa mudança aconteceu?
Atribuo essa mudança de paradigma ao constante desenvolvimento do planejamento e estratégias de mudanças sociais positivas que os nossos idosos têm reproduzido nas suas famílias e comunidades, tornando-se sujeitos de direito, conhecedores de seu importante papel social.
Pretendo, a partir do próximo ano, mudar a intensidade do meu foco para o serviço de convivência para crianças de 0 a 6 anos e seus pais, para que no futuro possamos começar a desfrutar de relações mais afetuosas e menos prejudiciais.
Quais as limitações que você encontra no seu cotidiano de trabalho?
Limitações que creio existirem em todo serviço público: a rotatividade de profissionais (orientadores e facilitadores, principalmente), a demora na liberação da verba federal e o preconceito ainda existente com a função do psicólogo. Muitos ainda acreditam que psicólogo é “médico de doido”. Mas a principal limitação ainda é o público em risco e a vulnerabilidade social. Muitas vezes temos de dar um passo para trás e repensar toda uma estratégia que vínhamos desenvolvendo… nesse trabalho aprendi que nem sempre o que você acredita ser o melhor é o que a família deseja, por exemplo. Isso sim é o mais doloroso: saber que determinadas escolhas e omissões das famílias/indivíduos acompanhados levarão a possíveis sofrimentos e privações, mas mesmo assim respeitar, sem interferir muito… afinal, só podemos ajudar quem realmente quer ser ajudado. Mas estaremos sempre lá, apesar dos pesares.