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20/03/2018 - 18:04

Justiça memória e reparação. Marcus Vinicius presente

Marcus valorizou experiências e protagonismos de vozes que não tinham como falar

Justiça memória e reparação. Marcus Vinicius presente

“Dos desafios que Marcus Vinicius apontou para a Psicologia, boa parte foi respondida.” Assim, o presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Rogério Giannini, abriu a homenagem a Marcus Vinicius, no dia 16, durante o Fórum Social Mundial (FSM 2018), em Salvador. Uma das provocações deixadas por Marcus foi o da classe compreender para quê e a quem serve a Psicologia.

O vice-reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Paulo Cesar Miguez de Oliveira, complementou que a luta pelos direitos humanos no Brasil foi fortalecida pela figura de Marcus Vinicius. “Com suas contribuições e intervenções, ele era uma figura de proa na Psicologia”.

A psicóloga e professora da UFBA Ilka Bichara também lembrou que as histórias trágicas de Marcus e Marielle Franco, concretizadas pela cultura “da bala”, devem servir para se estabelecer um outro marco civilizatório. Para ela, o Brasil é um país que tem culturas muito trágicas: do estupro, do feminicídio, seja na favela ou nas cidades, grandes ou do interior. “As estatísticas são de vozes caladas todos os dias.”

A filha de Marcus, Natália Oliveira, representou a família, e emocionou todos ao comparar sua experiência de perda como filha em relação às filhas de Marielle. “Que nos façam acreditar na justiça, por que sabemos que sem isso é impossível seguir.”

“Lugar de louco é ocupando todos os espaços”

A representante da Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial (Renila) Marta Elisabete de Souza contou que Marcus se tornou uma grande liderança e articulador de propostas e intervenções que viabilizaram o movimento. Ela citou as criações da Comissão Nacional da Reforma Psiquiátrica no Conselho Nacional de Saúde e da Lei Paulo Delgado. Falou, ainda, de sua participação na criação da Caravana da Cidadania, na organização dos usuários, na Marcha dos Usuários e na redação da Carta de Bauru.

Além de defensor da luta antimanicomial, Marcus Vinícius era crítico e corria riscos. Para ele, era possível, numa democracia, fazer a loucura caber entre nós e na sociedade. ‘Pra gente lutar, a gente tem que colocar o corpinho’, dizia ele. “Ele acreditava na capacidade dos usuários e psicólogas”, afinal ‘Lugar de louco é ocupando todos os espaços’.

Para Ana Bock, representante do Instituto Silvia Lane, idealizado e criado por Marcus Vinícius, é cada vez mais difícil falar sobre ele. “Todos sabemos como é difícil falar de uma pessoa plural como ele era”. Marcus, segundo Ana Bock, tinha grande capacidade de fazer análises de conjuntura. “Ele conseguia captar as contribuições que as pessoas tinham a dar. Era capaz de melhorar sínteses e pensamentos.”