Em novembro, mês da consciência negra, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) faz uma homenagem a Virgínia Leone Bicudo, que integrou o primeiro Conselho Federal de Psicologia. A ata de sua posse data de dezembro de 1973.
Virgínia Bicudo foi a primeira mulher a fazer análise na América Latina, a primeira estudiosa a redigir uma tese sobre relações raciais no Brasil e também a primeira psicanalista não médica no Brasil.
Representante da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, Virgínia Bicudo foi invisibilizada e sua invisibilização deve-se à visibilização de outros sujeitos. Esta gramática conhecida obedece a uma lógica de dominação e poder.
Em entrevista a dois estudiosos, em outubro de 1983, Virgínia Bicudo disse que foi criada fechada em casa e levou um susto, quando, na escola, a criançada começou a chamá-la de negrinha. Ela foi atrás de defesas. Na Sociologia, buscou a explicação para as questões sociais. Na Psicanálise, proteção para a rejeição.
O Brasil daquela época ainda acreditava em paraíso racial e em discriminação relacionada à classe social.
Em 20 de novembro, a sociedade brasileira afirma o Dia Nacional da Consciência Negra. A data foi escolhida por marcar o dia da morte de Zumbi dos Palmares, símbolo de resistência e luta contra a escravidão no Brasil. É também dia de lembrar Virgínia.
Se para o processo da identidade é necessário referências, trazer à tona o nome de Virgínia neste 20 de novembro faz com que nós lembremos de nossas(os) guerreiras(os) que caminharam e caminham na luta pela igualdade de direitos e pela não discriminação racial. Também dá visibilidade ao processo histórico da questão.
Relações raciais – O combate à discriminação é o principal objetivo do Conselho Federal de Psicologia (CFP) com a publicação “Relações raciais: referências técnicas para a prática da(o) psicóloga(o)”. A cartilha faz um mapeamento sobre o racismo no Brasil e também dos esforços empreendidos para sua superação. Ajuda, ainda, na compreensão do cenário, dos mecanismos acionados para reduzir e eliminar direitos humanos e do desmonte de políticas públicas.
A elaboração das referências foi solicitada pela categoria, no 9º Congresso Nacional da Psicologia (CNP 2016), no qual diversas propostas indicaram a necessidade de combater o racismo. A conselheira Clarissa Guedes explica que “o material pretende contribuir para qualificar a atuação profissional no que diz respeito à diversidade racial e ao sofrimento psíquico advindo do racismo”.
“Se pensarmos no mito da democracia racial, o caderno vem para desmistificar esse lugar”, explica a conselheira Célia Zenaide. Para ela, é necessário olhar para parcela da população que não é a minoria, mas sim a maior parte da população brasileira deixada à margem da sociedade.
Na visão do conselheiro Paulo Maldos, da Comissão de Direitos Humanos do CFP, “são ferramentas para construir resistências e caminhos e retomar mecanismos de enfrentamento do racismo”.
A psicóloga Clélia Prestes, da comissão responsável pela redação da referência técnica, enfatiza que pessoas com identidades e características psicológicas diferentes precisam ter um atendimento que considere suas especificidades. Segundo ela, quando se pensa na prática da Psicologia pautada pela raça é possível dar mais qualidade ao atendimento, a partir da equidade. O impacto da publicação é ainda maior para as mulheres negras. “A grande maioria das pessoas que procura a clínica, por exemplo, é formada por mulheres e, nos serviços públicos, por mulheres negras, então, é importante ter a prática com o recorte de raça garantido.”
Saiba mais:
Em Relações raciais: referências técnicas para a prática da(o) psicóloga(o), o CFP busca contribuir para superar o racismo, o preconceito e a discriminação.
Com informações do portal Geledés.