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19/11/2015 - 11:01

“O racismo adoece”, dizem psicólogas presentes à Marcha das Mulheres Negras 2015

A Marcha das Mulheres Negras 2015 ocupou as ruas de Brasília nesta quarta-feira (18), com 15 mil mulheres negras vindas de vários estados do país.

“O racismo adoece”, dizem psicólogas presentes à Marcha das Mulheres Negras 2015

“O Racismo é um mal que adoece”, diz a psicóloga Jussara Dias do Instituto AMA Psique e Negritude do estado de São Paulo. Jussara foi uma das psicólogas presentes à Marcha das Mulheres Negras 2015, que ocupou as ruas de Brasília nesta quarta-feira (18), com 15 mil mulheres negras vindas de vários estados do país. Elas percorreram cerca de 7 quilômetros, desde o Ginásio Nilson Nelson até a Esplanada dos Ministérios.

A marcha, que teve como tema “Contra o racismo, a violência e pelo bem viver” chamou a atenção para dados preocupantes no que se refere à condição das mulheres negras no país, que hoje representam 49% da população. De acordo com o Mapa da Violência 2015, elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Estudos Sociais e lançado recentemente, o número de mulheres negras mortas cresceu 54% em 10 anos (de 2003 a 2013), enquanto o número de mulheres brancas assassinadas caiu 10% no mesmo período. A remuneração no mercado de trabalho já é inferior à dos homens para as mulheres em geral, mas para as mulheres negras ela ainda é menor. O salário médio da trabalhadora negra é metade do salário da trabalhadora branca; além disso, 71% das mulheres negras estão em ocupações precárias e informais.

“Essa marcha foi pensada para que o Brasil entenda de uma vez que o racismo é mal que adoece a sociedade como um todo, e deve ser extirpado. O racismo inviabiliza qualquer possibilidade de uma nação democrática com direitos iguais para todos. Ele adoece na medida que ele faz com que as pessoas tenham uma autoestima estereotipada e distorcida. No momento em que ele adoece, sob o ponto de vista psíquico, a Psicologia entra como uma via de tratamento dos efeitos psicossociais do racismo. Atuamos acreditando que esse racismo só pode ser enfrentado por duas vias, politicamente e psiquicamente”, aponta Dias.

DSC_0211Para a psicóloga Edna Muniz, do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), os conselhos, tanto o federal como os regionais, têm um papel importantíssimo para mudar essa realidade e fazer com que a categoria reflita sobre o tema. “Há mais de 30 anos lidamos com a temática racial em várias áreas e temos essa preocupação de trabalhar a questão do psiquismo na formação do (a) psicólogo (a) com esse o olhar do racismo, que é muito importante. Achamos que os conselhos precisam ser parceiros nessa luta para que os jovens em formação e os profissionais tenham uma escuta para os danos que o racismo traz para essa parcela da população”, ressalta.

Edna destaca a importância de que o CFP acompanhe o assunto de perto, junto aos profissionais em formação, para que a temática racial esteja presente no currículo deles. De acordo com ela, isso não existe nas universidades estaduais, federais e muito menos nas particulares. ”Se 51% da população brasileira é negra, os (as) psicólogos (as) precisam disso na sua formação”.

Maria Aparecida Bento, da coordenação Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) e integrante da Comissão de Direitos Humanos do CFP, ressalta que a marcha foi um importante espaço na luta por um país mais humano e sem preconceito.

“Marchamos por um país mais humano, que pode cuidar da saúde, da educação e dos direitos de todo o seu povo. Hoje, mulheres, negros e indígenas são discriminados, não temos os mesmos direitos e entendemos que o CFP e os conselhos regionais têm um papel importante e político para mudar essa situação, por isso estamos aqui”, destacou.

As psicólogas Maria Lucia da Silva, do Instituto AMMA Psique e Negritude e da Coordenação da Articulação Nacional de Psicólogos e Psicólogas Negras e Pesquisadores, e Clélia Prestes, também do Instituto AMMA, também estavam presentes na Marcha.

A marcha foi concebida em 2011, em Salvador (BA), durante o Encontro Paralelo da Sociedade Civil para o Afro XXI: Encontro Ibero Americano do Ano dos Afrodescendentes.