Pensar estratégias para combater a violência nas escolas públicas envolve estudar três tipos de violência: a violência contra a escola, a violência da escola e a violência na escola. Este foi o contexto apresentado nesta quinta-feira (23/11), em Brasília, pela psicóloga Ângela Soligo, representante do Conselho Federal de Psicologia (CFP), durante audiência pública da Comissão de Educação na Câmara dos Deputados.
A deputada Pollyana Gama (PPS/SP), o coordenador de projetos da Todos pela Educação, Caio Callegari, e o representante do Instituto de Desenvolvimento Sistêmico para a Vida, Fabiano Pereira Corrêa Samy, participaram do debate.
Soligo, presidente da Associação Brasileira de Ensino em Psicologia (Abep), apresentou os resultados de uma pesquisa de campo em escolas de todo o Brasil e lembrou as causas da violência na escola. A depredação do patrimônio escolar e os baixos salários de docentes estariam relacionados à violência contra a escola. A organização da escola, como mantenedora da exclusão de crianças negras, surdas e homo-transsexuais, faz parte da violência da escola. “Bibliotecas fechadas, preconceitos refletidos nos materiais didáticos, que expressam racismos e exclusões de gênero, estão nesse rol.” O silêncio de educadores diante da discriminação e dos preconceitos também é parte da violência da escola.
A violência na escola, entretanto, é a da qual mais se fala e estuda, principalmente a que se processa na relação aluno-aluno.
Diálogos – A psicóloga lembrou estudos que apontam a necessidade de ampliar o diálogo. “A escola não dialoga com seus estudantes.” Esse é o depoimento de crianças e jovens de todo o país. Soligo diz que se estamos preocupados com a violência na escola, precisamos pensar nos três tipos de violência. E a escola está sendo constantemente ameaçada. “A PEC 241/55, que limita os gastos públicos do governo federal por 20 anos, é uma violência contra a escola, assim como o Projeto Escola sem Partido, “porque silencia os professores e limita o direito dos estudantes de acesso aos conhecimentos historicamente valorizados pela sociedade”. Ela acrescentou à lista, ainda, a competitividade e a patologização. “Reduzir toda a questão da violência ao bullying é um equívoco, porque foca somente no indivíduo.” A ênfase no combate à violência, para Soligo, deve estar na ampliação de visões de mundo e da capacidade de reflexão. “Devemos educar para o respeito.” E, para ela, o papel da Psicologia nessa questão é essencial. As/os profissionais da Psicologia na escola devem atuar junto à equipe escolar, favorecendo o diálogo. Com relação aos problemas vividos pelos professores no espaço escolar, ela indaga: ”Como podemos esperar que crianças e jovens respeitem uma categoria tão desrespeitada por nossos governos e sociedade?”
Caio Callegari explicou dois casos de boas políticas como forma de combater a violência: seguranças contratados nas comunidades do entonar da Rede Estadual de SP e a integração entre família e escola em Taboão da Serra (SP).
Fabiano Samy relacionou violência e pertencimento e contou como o boxe em uma escola da Candangolândia (DF) mudou a forma de expressão da violência no ambiente escolar. “A questão da violência começa com uma exclusão. É muito fácil cometer um ato de violência contra uma não-pessoa.” Para ele, o antídoto contra a violência é criar pontes de pertencimento e igualdade.
Ângela Soligo defendeu que, embora o problema da violência extrapole o âmbito da escola, esta tem um importante papel em seu enfrentamento, por meio da promoção de uma educação que forme cidadãos capazes de pensar sobre os problemas sociais e coletivos, construtores de uma vida plenamente cidadã. “A Psicologia, no espaço escolar e na ação política, pode contribuir rumo a essa educação.”