A primeira mesa do Seminário “A desconstrução da lógica manicomial – construindo alternativas, na tarde desta quarta-feira (16), teve como tema “O que pode a Psicologia? Avaliação, Tratamento e Orientação pela reforma psiquiátrica e pela luta antimanicomial”. O debate, que aconteceu entre 14h às 15h30, teve como mediador o vice-presidente do CFP, Rogério de Oliveira Silva, e como debatedores a pesquisadora do Observatório Nacional de Saúde Mental e Justiça Criminal da Universidade Federal Fluminense (UFF), Tânia Kolker, e a professora do Instituto de Psicologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Silvia Helena Tedesco.
As acadêmicas da UFF estão desenvolvendo uma metodologia de trabalho e pesquisa para criar uma rede nacional de profissionais que atuam com temas relacionados a instituições ligadas ao tratamento de portadores de sofrimento mental e a Justiça Criminal. “A ideia é que o Observatório Nacional de Saúde Mental e Justiça Criminal funcione como uma rede nacional de troca de informações que resulte, inclusive, na proposição de ações conjuntas”, pontuou Silvia Tedesco.
De acordo com a professora, o Observatório, que é um instrumento de política pública desenvolvida pela UFF com o Ministério da Saúde, é um mapeamento nacional que vem confirmando algumas impressões de profissionais da área. “Por exemplo, 48% dos usuários dessas instituições são de transtornos mentais decorrentes do uso de droga”.
Silvia explicou, ainda, que a rede funciona como um banco de dados com diversos indexadores, como teses, artigos, livros e um fórum de discussão para propiciar a troca de experiências. Toda essa produção de conteúdo busca perceber o perfil dos usuários para que seu cotidiano possa ser transformado.
Para Tânia Kolker, a iniciativa surgiu de uma aflição dela como profissional que, ao longo da carreira, observou mudanças nos perfis dos usuários, mas não melhoras no sistema de atendimento, com intervenções de todos os tipos, ações civis públicas, acompanhamento de ministérios públicos etc.
“A situação continua bastante grave e é de conhecimento do poder público e judiciário. Todos sabem o que se passa nessas instituições. Quando a gente examina esses relatórios, como o produzido pelo CFP, nos perguntamos o que aconteceu para tudo continuar igual ou pior”, ressaltou Tânia. “Os atores envolvidos neste meio até agora não conseguiram criar uma ação conjunta para intervir nessa realidade de maneira mais eficaz”.
Em relação ao perfil dos usuários dessas instituições, Kolker frisou que os resultados das pesquisas têm demonstrado que, além da mudança no perfil, com um aumento do número de portadores de sofrimento psíquico causados pela vulnerabilidade social de todas as ordens, o tempo de internação de pessoas nos hospitais de custódia tem diminuído. “Ou seja, seria muito mais fácil criar um plano emergencial para solucionar esses ambientes e situações que, claramente, são ilegais”, defendeu.
“Eventos como esses voltam a nos sensibilizar, depois de passar por tanta situação de impotência, para que continuemos na luta, convocando outros militantes e entrando em contato com os parceiros locais de cada município e estado”, comemorou Kolker.
Confira a entrevista com a professora Tânia Kolker: