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13/11/2023 - 21:49

Psicologia Social: CFP participa de 22º Encontro Nacional da ABRAPSO

Ao longo de quatro dias de atividades, delegação do Conselho Federal de Psicologia contribui em diversos debates que colocaram em perspectiva os principais desafios na área e possibilidades de atuação

Psicologia Social: CFP participa de 22º Encontro Nacional da ABRAPSO

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) esteve presente, entre os dias 1 e 4 de novembro na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói/RJ, no 22º Encontro Nacional da ABRAPSO – a Associação Brasileira de Psicologia Social.

Apoiado pelo CFP, o evento buscou, além de visibilizar os principais desafios no campo da Psicologia Social, promover o intercâmbio de experiências em suas interfaces com a produção acadêmica, os movimentos sociais e a gestão pública, favorecendo a construção de conhecimentos críticos e a proposição de políticas para superação dos problemas sociais vivenciados no país.

Durante a solenidade de abertura, o presidente do CFP, Pedro Paulo Bicalho, ressaltou que, diferentemente do cenário de 1980, quando a ABRAPSO foi criada, hoje o Brasil conta com diversas políticas setoriais estruturantes, como o Sistema Único de Saúde (SUS), o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e, ainda, a Lei da Reforma Psiquiátrica (Lei nº 10.216/2001) como diretriz orientadora da saúde mental no Brasil. Entretanto, apesar desses avanços, os frequentes ataques e tentativas de desmonte das políticas públicas ensejam que as instituições da Psicologia permaneçam alertas e mobilizadas contra os retrocessos.

“Mas nós também precisamos falar de resistência”, frisou o presidente do CFP ao destacar que nos territórios marcados pela violência que afeta sobremaneira segmentos sociais vulnerabilizados, as inúmeras manifestações artísticas mantêm viva a memória histórica e o legado de lutas em defesa da democracia. “Os territórios de resistência aqui no Rio de Janeiro são aqueles em que a lei penal sempre chegou primeiro. Exatamente territórios em que a necropolítica não é só um conceito. Aqui, a necropolítica é real. Ela produz mortes. Mas nesses territórios onde o direito penal chega primeiro também se produz muita cultura”, ressaltou Pedro Paulo. 

Na ocasião, Hildeberto Vieira Martins, presidente da ABRAPSO, ponderou o papel das entidades nacionais da Psicologia em refletir sobre os desafios persistentes no campo da Psicologia Social e a importância de se construir uma atuação capaz de superar essas questões: “não é só a ABRAPSO, somos todos nós que, de alguma forma, podemos, de fato, pensar, refletir e transformar a realidade social brasileira”.

“A queda do céu”

A abertura oficial do 22º ENABRAPSO também contou com a palestra magna “A ‘queda do céu’: implicações da Psicologia Social”. Mediado pela psicóloga Céu Cavalcanti – presidenta do CRP-RJ e integrante da atual diretoria nacional da ABRAPSO –, o diálogo contou com a participação de Vanessa Terena, indigena psicóloga e coordenadora  do Núcleo de Saúde Indígena do CRP-MS; e Casé Angatu, indígena morador no Território Tupinambá em Olivença (Ilhéus/BA) com Pós-Doutorado em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP).

No debate, as(os) conferencistas chamaram a atenção para as inúmeras violações de direitos e violências que acometem os povos indígenas, ressaltando que as pluralidades inerentes a essas populações não são alcançadas em sua complexidade pelas políticas públicas. 

“Quando a gente fala de futuro, tem que olhar para o passado” afirmou Vanessa Terena. Na mesma direção, Casé Angatu destacou: “não temos rancor, mas possuímos memória”. 

Incidência estratégica

Ao longo dos quatro dias de evento, uma comitiva formada por 11 conselheiras(os) do CFP participou de diversas atividades, entre grupos de trabalho, assembleias, simpósios e minicursos.

O Censo da Psicologia Brasileira, importante retrato dessa ciência e profissão, foi um dos destaques do Conselho Federal no evento. Conduzido pelo presidente Pedro Paulo Bicalho, a vice-presidenta Ivani Oliveira e a conselheira-secretária Izabel Hazin, o debate apontou aspectos relacionados à formação e à inserção profissional, bem como os desafios associados às condições de trabalho da categoria nas mais diversas regiões do país.

A alienação parental também figurou entre os temas dos minicursos. As conselheiras Marina Poniwas e Clarissa Guedes colocaram em debate o trabalho ético-político da Psicologia nos processos de família, levantando questões sensíveis e possibilidades de atuação. 

Também recebeu destaque o minicurso “Convivências e culturas para o bem viver: Psicologias comunitárias em saúde na multiplicidade das redes”. Os pontos centrais da temática, seus desafios e a construção de caminhos possíveis foram objeto de discussão proposta pelas(os) conselheiras(os) Carolina Roseiro, Isadora Canto, Alessandra Almeida, Gabriel Figueiredo, Roberto Domingues e Evandro Peixoto. Entre as possibilidades apontadas durante a atividade, foram frisadas alternativas abarcando os Centros de Convivência e Cultura no âmbito da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), os Serviços de Convivência e a Psicologia Comunitária pelo Sistema Único de Assistência Social (SUAS), bem como intervenções no campo da Psicologia do Esporte – levando em consideração ainda a importância da interseccionalidade (gênero, sexualidades, raça e classe) diante desses processos.

As(Os) conselheiras(os) também participaram de grupos de trabalho que trataram de temáticas como Psicologia comunitária e desigualdades sociais na produção de cuidado e na promoção da saúde; (des)construções para o enfrentamento de narrativas e práticas anti-democráticas; políticas identitárias; intersecções e influências das tecnologias digitais na formação da subjetividade; acesso a políticas públicas e estratégias de resistência frente aos processos de vulnerabilização e privação de liberdade; entre outras.

Entre os simpósios, destaque para o diálogo sobre deficiência, capacitismo e Psicologia Social, momento no qual integrantes da mesa e participantes que acompanhavam o debate teceram considerações relevantes a serem encaminhadas para a ABRAPSO, destacando, paralelamente, a relevância da questão para o Conselho Federal de Psicologia.

Contribuições para a atuação profissional

O 22º Encontro Nacional da ABRAPSO também foi palco para a divulgação de importantes publicações do Conselho Federal de Psicologia que buscam problematizar temáticas sensíveis à atuação das(os) psicólogas(os) Brasil afora:

– Censo da Psicologia Brasileira: maior levantamento de informações já realizado sobre o exercício profissional da Psicologia no país. A pesquisa foi executada em parceria com a Associação Brasileira de Psicologia Organizacional e do Trabalho (SBPOT) e com o Grupo de Trabalho Configurações do Trabalho na Contemporaneidade e a Psicologia Organizacional e do Trabalho (GT83), da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP), além de apoio do conjunto de instituições que integram o Fórum de Entidades Nacionais da Psicologia (FENPB). Acesse o volume 1 e o volume 2.

– Psicologia Brasileira na Luta Antirracista: uma realização da Campanha Nacional de Direitos Humanos do Sistema Conselhos de Psicologia 2020-2022 – “Racismo é coisa da minha cabeça ou da sua?”. A obra dialoga com o Código de Ética Profissional da(o) Psicóloga(o) ao oferecer lentes que possibilitam aguçar a compreensão sobre as dinâmicas das relações raciais e étnicas no país. Confira o volume 1 e o volume 2.

– Referências Técnicas para Atuação de Psicólogas, Psicólogos e Psicólogues em Políticas Públicas para População LGBTQIA+: elaborada no âmbito do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (Crepop), a publicação tem como enfoque as possibilidades de atuação nas diversas políticas públicas às quais a população LGBTQIA+ percorre, debatendo as vivências LGBTQIA+ para além da violência e na perspectiva da promoção dos direitos. Disponível neste link.

Confira a galeria de fotos no Flickr do Conselho Federal de Psicologia.

Sobre o ENABRAPSO

O Encontro Nacional da Associação Brasileira de Psicologia Social (ENABRAPSO) tem se consolidado ao longo dos anos como um estratégico espaço de troca de experiências entre profissionais, pesquisadoras(es) e estudantes de Psicologia. Em sua 22ª edição, a iniciativa buscou, entre outros objetivos, potencializar e dar visibilidade à produção de psicólogas(os) indígenas, além de fomentar o compartilhamento de conhecimentos e experiências construídos por movimentos da Psicologia que atuam junto a povos originários e tradicionais.

Durante esse processo, a participação de estudantes na organização (desde os núcleos regionais) e ao longo do evento (atuação nas monitorias) foi fundamental para enriquecer o encontro, mostrando-se relevantes atores em defesa do fortalecimento da ABRAPSO e cientes dos desafios persistentes, como a questão da acessibilidade.