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09/11/2015 - 11:20

Psicólogos (as) querem avançar no debate sobre a atuação nas políticas públicas

Profissionais apostam no protagonismo da categoria no campo das políticas públicas, tendo como princípio a promoção da cidadania.

Psicólogos (as) querem avançar no debate sobre a atuação nas políticas públicas

Uma cigana deu à luz em um hospital de Minas Gerais, mas não pôde levar o bebê para a casa. Os profissionais de saúde do hospital alegaram que a mãe não sabia trocar fraldas e nem amamentar. Por essa razão, denunciaram a mãe ao Conselho Tutelar. Em uma escola do Rio de Janeiro, uma professora diz ao aluno que tem como religião o Candomblé que “sua religião é do demônio”.  Esses foram casos utilizados pela psicóloga Ester Maria Magalhães Arantes para exemplificar quanto alguns profissionais da psicologia precisam ampliar seu entendimento sobre a atuação nas políticas públicas tendo como princípio a promoção da cidadania.

Ester Arantes foi uma das participantes da primeira mesa de debates do III Seminário Tocantinense de Psicologia e Políticas Públicas, aberto nesta sexta-feira (06) e que terminou no sábado (07). O evento ocorreu na capital, Palmas, na Universidade do Tocantins (Unitins).

“Acham que não saber amamentar é crime, crime é negar esse direito para essa mãe.

O psicólogo Jonatha Rospide foi o mediador da mesa de debate da abertura do Seminário

O psicologo Jonatha Rospide foi o mediador da mesa de debate da abertura do Seminário

Mas qual a politica pública que existe para fazer com que essa mãe fique com esse bebê? Isso acaba criando enormes dilemas para quem atua nessas áreas. São reflexos de políticas que alguns setores querem implementar no  Brasil e que representam enormes retrocessos para as conquistas sociais adquiridas nos últimos anos. Entre essas políticas podemos destacar o Estatuto do Nascituro, a PEC 215 e o Estatuto da Família”, disse Ester ao ressaltar que retrocesso como esse não se vê desde o período da ditadura. A psicóloga, que é professora universitária no Rio de Janeiro, destaca que das últimas bancas de mestrado e doutorado que participou, percebeu um mal estar de psicólogos, educadores e assistentes sociais que atuam na área de políticas públicas com as demandas e as situações que ocorrem nessa área, que não estariam de acordo com a formação e a ética profissional do (a) psicólogo (a).

Para o psicólogo Iacã Machado Macerata, outro debatedor dessa mesa que teve como tema “A Psicologia rumo ao paradigma da intersetorialidade”, esse mal estar no que se refere à psicologia e as politicas públicas evidencia o próprio mal estar dessas políticas.

“Temos um efeito estranho da política social não ser contra a política econômica; pelo contrário: ela está a serviço dessa política econômica. Temos um grupo de excluídos e miseráveis que não têm acesso a essas políticas públicas e a justificativa é a própria miséria. Uma política pública só existe quando ela de fato acontece, ou seja, quando ela está a serviço de alguém, quando ela produziu cidadania, no sentido concreto, e não somente como palavra de ordem”, destacou Iacã.

A representante do Conselho Federal de Psicologia (CFP) no Conselho Nacional de Saúde (CNS), Semiramis Maria Amorin Vedovatto, encerrou as exposições da mesa. Ela destacou que para concretizar esse modelo de intersetorialidade é preciso, antes de tudo, alinhar conceitos. Fazer com que os profissionais das diversas áreas que atuam no campo das políticas públicas dialoguem entre si para construir uma grande rede que se forme não apenas por agregar psicólogos(as).

“Essa discussão é uma emergência pública e atual, principalmente no momento em que a gente vive, onde muitas políticas, como a de saúde mental, estão correndo risco de regredir ou paralisar. É importante que esses profissionais tomem conta desse debate e não apenas trabalhem com elas, mas exerçam o controle social. Fazendo a costura com outras políticas, não somente da saúde, mas lembrando que hoje um dos campos que mais contrata é a área pública. Não sabemos o quanto será retirado de recursos dessa área pelo momento que estamos enfrentando, mas é muito importante ter esse conhecimento, atuar e incidir sobre essa políticas”, destacou Semiramis.