A interrupção voluntária da gravidez ou abortamento
induzido é um problema de saúde pública no Brasil. Mais
do que suscitar opiniões pessoais, necessitamos debatê-
lo à luz dos estudos que descrevem e/ou registram a
prevalência do abortamento na população utilizando métodos
de pesquisa reconhecidos para lidar com a especificidade
do fenômeno. Dessa forma, destacamos o estudo
apresentado na Pesquisa Nacional de Aborto, o qual
aponta que uma dentre cada cinco brasileiras já fez pelo
menos um aborto na vida. No entanto é importante destacar
que, das mulheres que abortam, são as pobres (e
negras) as mais atingidas pela desigualdade de acesso a
formas seguras de interrupção de gravidez.
Quanto aos abortamentos que são previstos em lei nos
casos de gravidez decorrente de estupro, grave risco de
vida à mulher/mãe e, mais recentemente, casos de anencefalia,
o Estado brasileiro disponibiliza o acesso pelo Sistema
de Único de Saúde (SUS). Contudo, mesmo nesses
casos os estudos apontam que a mulher depara-se com
grandes barreiras de acesso, além do estigma e de vários
fatores que acabam por dificultar a obtenção do direito.
A interrupção da gravidez toca em pelo menos dois
pontos tabus em nossa cultura: de um lado, a discussão
sobre quando se deve reconhecer aquela potência de vida
dentro da mulher como sujeito e, por outro lado, a maternidade
e os valores e ideais que a cercam, um tema importante
a todos nós psicólogas e psicólogos.
Tem a Psicologia refletido criticamente sobre o conceito
de “maternidade”? Como tem sido pensada a mulher
que não deseja ser mãe? A que não ama seus filhos? A que
decide interromper uma gravidez?
A presente coletânea, mais do que responder a estas
questões, tem como intuito fomentar o debate e levar, às
psicólogas e aos psicólogos, reflexões de profissionais
que têm se debruçado sobre o tema.
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- ABORTO E (NÃO) DESEJO DE MATERNIDADE(S): questões para a Psicologia