No cinquentenário de falecimento do psicólogo Emílio Mira y López (1896-1964), o Conselho Federal de Psicologia (CFP) torna público o reconhecimento por sua imensa contribuição teórica, bem como à institucionalização e regulamentação da profissão no Brasil.
Emilio Mira y López nasceu em Cuba, em 1896. Filho de pais espanhóis, retornou à Espanha com a família quando da independência desta então colônia. Formou-se em Medicina na Universidade de Barcelona e fez seu doutorado em Psiquiatria na Universidade Complutense de Madrid. Foi membro do Partido Socialista, atuando como redator do jornal do partido. Também trabalhou em clínica particular e em clínica popular, bem como no Instituto de Orientação Profissional da Escola do Trabalho. Traduziu diversas obras psiquiátricas do alemão, inglês e francês para o espanhol. Fez a primeira tradução da obra de Freud. Casou-se com d. Pilar, com quem teve 3 filhas.
Durante a Guerra Civil Espanhola, foi Chefe dos Serviços Psiquiátricos do Exército Republicano. Com a vitória de Franco, exilou-se na França, de onde seguiu para Inglaterra, onde apresentou, pela primeira vez, o PMK – Psicodiagnóstico Miocinético, o teste que o consagrou. De lá seguiu para Estados Unidos, Cuba, Argentina, Uruguai. No Uruguai, conheceu d. Alice. Divorciou-se de D. Pilar, que retornou à Espanha com suas filhas, e se casou com D. Alice.
Psicologia brasileira
Em 1945, Mira y López teve seu primeiro contato com o País, quando fez conferências e ministrou cursos a convite do DASP (Departamento de Administração do Serviço Público) e de outras instituições. Retornou em 1946, com novos convites. Finalmente, foi convidado para criar e dirigir o Instituto de Seleção e Orientação Profissional (Isop) da Fundação Getúlio Vargas em 1947, quando então se mudou definitivamente para o Rio de Janeiro, com D. Alice. Os quatro filhos do casal (Núria, Rafael, Emílio Carlos – falecido na infância – e Emílio Rafael) nasceram no Brasil.
Durante sua vida no Brasil Emilio Mira continuou sua trajetória internacional, na qual possuía grande reconhecimento. Teve estadas no Chile, Guatemala, Equador, Venezuela. Através de sua presença, o Brasil participou pela primeira vez da IUPsyS (International Union of Psychological Science). Esteve presente no I Congresso Interamericano de Psicologia, em 1951, quando se criou a Sociedade Interamericana de Psicologia (SIP), da qual foi Vice-Presidente para a Região Atlântica (1955) e Secretario Geral do VI Congresso Interamericano de Psicologia, que aconteceu no Rio de Janeiro em 1959. Emilio Mira, em certo sentido, colocou o Brasil no universo acadêmico internacional.
Emilio Mira y López ocupou a direção do ISOP até seu falecimento. O Isop se tornou o centro irradiador da psicotécnica e da formação de psicólogos, tendo subsedes em outros sete estados. O instituto ministrava cursos, fornecia estágios e, em 1949, criou os Arquivos Brasileiros de Psicotécnica (hoje Arquivos Brasileiros de Psicologia), e a Associação Brasileira de Psicotécnica (hoje chamada Associação Brasileira de Psicologia Aplicada – Abrapa).
A Associação Brasileira de Psicotécnica foi responsável pela elaboração do Projeto de Lei que propunha a regulamentação de psicólogo,, encaminhado ao Congresso Nacional em 1953 e publicado em 1954 nos “Arquivos Brasileiros de Psicotécnica”. Após diversas idas e vindas, articulações com outras associações (Associação Brasileira de Psicólogos e Sociedade Paulista de Psicologia) e mobilização dos psicólogos que gravitavam principalmente em torno do ISOP e do Instituto Sedes Sapientiae) o PL resultou na lei 4.119/62, que dispõe sobre os cursos de formação em psicologia e regulamenta a profissão de psicólogo.
Mira y López faleceu em 16 de fevereiro de 1964.