A região Sudeste sediou em outubro o primeiro encontro da série Giros Descoloniais, uma das ações da campanha da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia (CDH/CFP) e que tem como tema “Descolonizar corpos e territórios: reconstruindo existências Brasis”.
Os Giros Descoloniais têm como objetivo promover encontros territoriais para sublinhar a diversidade nacional e promover diálogos com movimentos e comunidades populares que, por muito tempo, estiveram em posições subordinadas na história e no fazer da Psicologia.
O primeiro encontro da série trouxe como tema violência de gênero e ocorreu no espaço de acolhimento de pessoas LGBTQIA+ Brejo das Sapas, localizado na cidade de Belo Horizonte (MG).
Além de representantes da CDH/CFP, participaram membros das Comissões de Direitos Humanos dos Conselhos de Psicologia do Espírito Santo, de Minas Gerais, do Rio de Janeiro e de São Paulo.
“Desde a idealização da campanha, procuramos refletir sobre o que são os direitos humanos e quem são esses humanos a serem acolhidos e protegidos, sob a perspectiva de que toda e qualquer forma de ser é digna do direito de existir”, pontuou a conselheira federal e representante da CDH/CFP, Nita Tuxá.
Nita Tuxá ressaltou a necessidade de descolonizar a Psicologia a partir dos espaços ocupados pelas existências brasileiras. “Esses não são lugares alternativos, ao contrário. São espaços reais, onde a vida, a ancestralidade e a pertença são pulsadas. A Psicologia precisa ser plural para acolher todas essas demandas”, destacou.
A importância de reconhecer referenciais que dialoguem com a realidade e as existências brasileiras, bem como superar estruturas homogêneas e hierárquicas, também foram enfatizadas pela coordenadora da CDH/CFP, Andreza Costa.
“É como, por exemplo, observar nossa relação com a terra, o vento, o rio. Uma Psicologia mais inclusiva e diversa precisa estar implicada com a compreensão das subjetividades”, refletiu.
Para ela, é essencial pensar sobre as fontes eurocêntricas predominantes na formação científica e profissional da categoria e incluir novas perspectivas locais. “Esses direitos humanos não contemplam corpos indígenas, corpos negros. A concepção para pensar humanidade não contempla existências dissidentes, apenas um grupo específico da sociedade”, destacou a coordenadora da CDH/CFP.
Construção coletiva
O encontro na região Sudeste buscou articular os desafios da violência de gênero aos debates e formulações sobre práticas de descolonização da Psicologia, buscando reconhecer modos e saberes decorrentes do diálogo com coletividades e movimentos sociais em diferentes territórios.
Para a psicóloga voluntária no Núcleo Gotas de Cuidado da Coletiva Mulheres da Quebrada, Fabiane Matias, a experiência dessa rede de apoio pela garantia de direitos de mulheres em vulnerabilidade social evidenciou a importância de ações comunitárias integradas, capazes de fortalecer a redescoberta do ser mulher e do direito ao autocuidado.
Paula Gonzaga, integrante da CDH/CFP e representante do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG), afirmou que a construção coletiva da descolonização da Psicologia deve ser constante, reconhecendo as diversas formas de violência e combatendo-as por meio da formulação de estratégias dialogadas.
Para Gonzaga, falar sobre violência de gênero implica pensar nas resistências vivenciadas pelas pessoas que vivem nos territórios. “Cabe ressaltar a violência contra as mulheres negras e periféricas, as mulheres LGBTQIA+ e aquelas que estão vivendo a desigualdade de classe, a situação de rua, o uso abusivo de substâncias”, pontuou.
Mônica Sampaio, integrante da CDH/CFP e representante do Conselho Regional do Rio de Janeiro (CRP-RJ), lembrou que a auto-observação da prática profissional também pode destacar caminhos importantes no enfrentamento à violência de gênero.
“Pensar sobre como temos feito a nossa prática laboral, se estamos reproduzindo essas violências, são aspectos fundamentais para nós que lidamos com mulheres em situação de violência. Tem a ver com nosso compromisso com uma Psicologia inclusiva e consciente das realidades locais”, finalizou.
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