O Conselho Federal de Psicologia (CFP) realizou um diálogo sobre os desafios da Psicologia no enfrentamento das desigualdades étnico-raciais e na construção de práticas antirracistas. O Seminário “(Re)existências Brasis: relações étnico-raciais e o fazer Psi” reuniu na sede da Autarquia, no dia 21 de novembro, psicólogas e psicólogos em um debate sobre as contribuições afropindorâmicas e latino-americanas para as práticas da Psicologia.
A atividade faz parte da campanha nacional “Descolonizar corpos e territórios: reconstruindo existências Brasis”, promovida pelas Comissões de Direitos Humanos do Sistema Conselhos de Psicologia (CDH/CFP).
Na abertura do evento, o presidente do CFP, Pedro Paulo Bicalho, pontuou sobre os processos de subjetivação para transformar a sociedade e inserir as pessoas no mundo como sujeitos de direitos.“É impossível falar de ‘re-existência’ em um país como o nosso sem apontar a importância das relações étnico-raciais no fazer profissional e ético da Psicologia brasileira”, pontuou.
Para a coordenadora da Comissão de Direitos Humanos do CFP, Andreza Costa, o seminário marca “o compromisso que a Psicologia tem para pensar as relações étnico-raciais, as atuações, produções e a nossa presença nesse espaço”.
Marina Dermmam, presidente do Conselho Nacional dos Direitos Humanos, disse ser difícil fazer as práticas de promoção e defesa de direitos humanos de uma maneira institucional no país que carrega marcas muito profundas do colonialismo e da escravidão.“Pensar em ações de equidade, respeito e valorização da diversidade que reverberem, de fato, nas nossas estruturas sociais, institucionais, mas, também subjetivas do país é um grande desafio”, destacou.
Stephany Damaceno, do Ministério da Saúde, contou os desafios da iniciativa ‘Saúde Sem Racismo’ dedicada à tentativa de romper o ciclo de desigualdade racial nas políticas públicas do Sistema Único de Saúde (SUS).“A gente sabe que ainda falta muito para mudar concretamente a vida das pessoas nos territórios, mas a gente tem trabalhado incansavelmente para dar conta e fortalecer a política nacional de saúde integral da população negra nos territórios”, contou.
A conselheira Nita Tuxá comandou o painel que debateu a Psicologia, relações etnorraciais e os novos desafios da contemporaneidade. Para ela, a Psicologia brasileira deve reconhecer outras epistemologias como forma de se tornar uma ciência e profissão que se opõe ao racismo.“Para ser verdadeiramente antirracista, a Psicologia brasileira necessita observar os territórios e as outras formas de existências”, apontou a conselheira.
André Baniwa, assessor da Secretaria de Saúde indígena do Ministério da Saúde, falou sobre as etimologias e os desafios de promover novos termos e acabar com expressões que foram criadas para inferiorização dos povos indígenas, quilombolas e povos tradicionais. “A gente precisa identificar esses termos de inferiorização, que foram historicamente utilizados contra nós, e lutar para acabar com elas e substituí-las”, afirmou.
Integrante da CDH/CFP, Paula Rita Bacelar Gonzaga salientou que a atividade do CFP deve ser tomada como memória da possibilidade do florescimento da Psicologia. “Hoje, nós assistimos pessoas que fazem a Psicologia florescer. Que nós possamos reverenciar a grandeza e a imensidão da negritude e dos povos indígenas brasileiros, reconhecendo as suas trajetórias em vida e repetindo seus nomes com respeito”, destacou.
Para Valter da Mata Filho, membro da Comissão de Psicologia e Relações Étnico Raciais do CRP/BA, o racismo é um fator estressor crônico, com efeitos objetivos e subjetivos, e que podem levar a quadros de ansiedade, depressão e baixa autoestima entre outros problemas de saúde mental. “Os psicólogos devem ser capazes de identificar os impactos desse racismo no cotidiano dos seus pacientes, evitando reproduzir atitudes discriminatórias e promovendo o ambiente de acolhimento e respeito”, apontou.
“As nossas narrativas, os nossos processos de subjetivações, não têm nada de identitário. Na verdade, é uma construção de um projeto político de estado genocida que o tempo inteiro tenta nos embranquecer e negar a nossa existência”, apontou Flávia Danielle da Silva Câmara, pesquisadora do tema de relações raciais durante o encontro.
Premiação
A programação do seminário incluiu a cerimônia de premiação das práticas selecionadas na II Edição do Prêmio Virgínia Bicudo: Práticas para uma Psicologia Antirracista. A premiação foi criada pelo CFP para identificar, valorizar e divulgar estudos e ações desenvolvidas por profissionais da Psicologia, coletivos e grupos que abordam a interface entre Psicologia e Relações Étnico-Raciais, com uma base sólida nos Direitos Humanos.