Analisar sob o campo da Psicologia Social e Análise Institucional a “Renovação Carismática Católica (RCC)” e como esse movimento possui uma consistência discursiva e doutrinária específica, modos de funcionamento próprio, que se (re)produzem nas práticas cotidianas dos seus integrantes. Essas e outras reflexões são abordadas no artigo “Subjetividade na Renovação Carismática Católica: Mecanismos de Funcionamento e de sua Produção”, publicado nesta semana, da edição 36.3 da Revista Psicologia: Ciência e Profissão.
O Conselho Federal de Psicologia (CFP) publica em seu site e nas redes sociais, todas as semanas, um manuscrito do periódico, cuja versão eletrônica se encontra na plataforma SciELO. Assim, a autarquia intensifica a busca pelo conhecimento científico, a fim de expandir o alcance de conteúdos acadêmicos para a categoria e para a sociedade.
Os autores do artigo são Sílvio José Benelli (Professor-assistente no Departamento de Psicologia Clínica e no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho – CL/UNESP, Assis, SP) e Samuel Iauany Martins Silva (Acadêmico de Psicologia da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho – CL/UNESP, Assis, SP).
De acordo com o resumo do artigo, a pesquisa trata da Renovação Carismática Católica (RCC) a partir de uma revisão bibliográfica e de análise documental, desenvolvendo uma Análise Institucional (AI) e tendo como pilares teóricos trabalhos institucionalistas desenvolvidos no campo da Psicologia Social sobre o tema dos movimentos religiosos no contexto da Igreja Católica.
Segundo os autores, o principal foco do artigo foram os mecanismos de produção de subjetividade que esse movimento emprega. “Pensa-se nos efeitos em termos de saber/poder sobre a vida de seus participantes e percebemos que existe um padrão normalizador veiculado por seu discurso oficial, que é intensamente difundido por meio da televisão, da Internet, de livros e eventos que envolvem grandes multidões, difundindo e promovendo uma subjetividade serializada”.
Além disso, os pesquisadores entendem que seus mecanismos de ação possuem características de movimentos de caráter totalitário.
O professor Silvio José Benelli falou mais sobre a pesquisa à Assessoria de Comunicação (Ascom) do CFP.
Confira a entrevista.
O que os motivou a fazer a pesquisa sobre esse tema?
R. Tenho pesquisado estabelecimentos religiosos católicos desde a Iniciação Científica, ainda na graduação em Psicologia. Depois prossegui investigando esse assunto no mestrado e no doutorado, analisando como a Igreja Católica prepara os membros do clero no estabelecimento institucional seminário. Para entender as possibilidades de funcionamento desse estabelecimento, foi preciso estudar a Igreja Católica como uma organização religiosa específica. Os movimentos religiosos, tanto os mais conservadores quanto os de vanguarda fazem parte desse contexto institucional, influenciando-o e sendo por ele influenciado.
Quais os resultados que você destaca desse levantamento?
R. Ao estudarmos a RCC, o que verificamos foi que esse movimento religioso católico representa uma alternativa conservadora que emergiu na contramão das propostas de vanguarda da Teologia da Libertação e do movimento das Comunidades Eclesiais de Base, que propunham uma Igreja do povo e dos pobres.
A RCC apresenta uma espiritualidade de viés intimista, típica da pseudoclasse média, alienada dos problemas sociais estruturais, muito ocupada com os afetos e as emoções, com a oração festiva muito mais do que com a luta pela transformação social das injustiças que matam os pobres. A RCC representa uma protestantização do catolicismo brasileiro, via Estados Unidos. Isso é bastante significativo.
Na sua opinião, em que sentido os movimentos de ação da Renovação Carismática se aproximam dos movimentos de caráter totalitário?
R. Podemos fazer uma leitura política dos movimentos sociais, classificando-os desde os integristas reacionários e os francamente conservadores – num espectro da direita, e os mais críticos e militantes que lutam pela transformação da realidade social que é estruturalmente injusta. A RCC comunga com muitos dos valores, conceitos e com a ética dos movimentos de caráter totalitário: pretende segregar seus participantes do “mundo”, incutindo neles os seus valores e práticas próprios, modelando sua consciência, comportamento, atitudes e discurso, empregando a persuasão e a autoridade religiosa para influenciá-los.
A caridade fica reduzida a uma prática pessoal de “fazer o bem ao próximo”, “ajudar o semelhante”, sem nenhuma perspectiva mais crítica quanto ao modo de funcionamento social capitalista que produz os pobres e a pobreza para muitos e uma grande riqueza acumulada nas mãos de poucos. Tais adeptos da RCC se tornam massa de manobra alienada, pouco sensível ao discurso dos direitos sociais, políticos e econômicos de todos. Contribuem, mesmo sem o saber bem, para a manutenção da (des) ordem social.
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