A curiosidade em entender as repetições dos atos acidentais, que beiram a morte, realizados por crianças em idade em que já se acredita existir compreensão dos riscos. Essa e outras reflexões fazem parte do artigo Tendência Suicida em Crianças Acidentadas (título original em língua espanhola, bem como todo o manuscrito: Tendencia Suicida en Niños Accidentados), do texto desta semana da edição 36.3 da revista Psicologia: Ciência e Profissão (PCP), o primeiro de 2017.
As autoras do artigo são as pesquisadoras Renata Paula Morais dos Santos, mestre pela Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales de Buenos Aires (Argentina); e Mônica Cristina Batista de Melo, doutora pelo Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira, Recife (PE).
A publicação de um número maior de artigos em língua estrangeira, em especial inglês e espanhol, visa intensificar o processo de internacionalização da PCP, na indexação em bases como a Web of Science.
Investigação
De acordo com o resumo do artigo, a investigação procurou entender o acidente com crianças, tendo em vista que esse evento é, quase sempre, o resultado concreto da denúncia de situações conflituosas e que passa por acontecimentos “ocasionais”. Assim, o objetivo foi investigar a possível tendência suicida em crianças entre 6 e 12 anos, hospitalizadas no Hospital da Restauração, em Recife, por acidentes domésticos. Desta forma, foram feitas entrevistas para compreender as dimensões pessoais e familiares, destinadas à criança e seu responsável, como também a realização, por parte da própria criança, do Desenho da Família.
O estudo conclui que, no ato acidental, mesmo provocado por terceiros, estaria contida uma tendência ao suicídio. Os resultados indicaram diversos condicionantes pessoais e, principalmente, familiares, que podem colocar as crianças diante de comportamentos de riscos autodestrutivos a curto e longo prazo.
A Assessoria de Comunicação do CFP entrevistou Renata Paula Morais dos Santos para ela explicar um pouco mais sobre a pesquisa realizada.
Confira a entrevista.
O que as motivou a fazer a pesquisa sobre esse tema?
A curiosidade em entender as repetições dos atos acidentais, que beiram a morte, realizados por crianças em idade em que já se acredita existir compreensão dos riscos.
Quais os resultados que você destaca desse levantamento?
Todos os resultados foram surpreendentes. Contudo, os resultados relacionados aos aspectos e relações familiares foram bem significativos. Como exemplo, as crianças não terem sido desejadas, os genitores estarem em processo de separação, o falecimento de um familiar muito querido, mortes violentas na família – como o suicídio, entre tantos outros. Também, algo de grande destaque foi ter encontrado a presença de outras pessoas no momento do acidente. Isso deixou claro o quanto as crianças desejavam denunciar algo que não estava bem e que elas gritavam por ajuda – principalmente quando na fala delas encontramos uma tristeza que não conectava com o motivo do seu internamento no hospital.
Na sua opinião, quais os mecanismos possíveis para se conter essa tendência de suicídio nas crianças que sofreram acidentes?
Os acidentes dos estudos mostraram serem denúncias dos grandes conflitos familiares vivenciados pelas crianças. Diante disso, seria interessante que, primeiro, os adultos se assumissem enquanto tal para, em seguida, terem condições de prover mecanismos capazes de conter essa tendência suicida através de ações, dentre tantas outras, de cuidado, de segurança, de escuta, de clareza nas informações, bem como na imposição de limites e na permissão da vivência de frustrações.
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