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16/06/2023 - 9:56

CFP destaca potenciais impactos socioambientais decorrentes de empreendimento imobiliário na ilha de Boipeba (BA)

Para o Conselho Federal de Psicologia, iniciativa exprime descompromisso com a agenda pública de meio ambiente, uso do solo, igualdade racial e com a própria legislação, configurando um problema de interesse nacional

CFP destaca potenciais impactos socioambientais decorrentes de empreendimento imobiliário na ilha de Boipeba (BA)

Os potenciais impactos socioambientais da implementação do empreendimento imobiliário Ponta dos Castelhanos, na ilha de Boipeba (BA), motivaram o Conselho Federal de Psicologia (CFP) a se manifestar sobre o tema. 

Por meio do Grupo de Trabalho Psicologia Ambiental, o CFP emitiu posicionamento no qual reforça que, caso a iniciativa prossiga, poderá acarretar não apenas prejuízos socioambientais, mas desconfigurar o modo de vida tradicional de centenas de famílias de pescadores, catadores e catadoras de mangaba e marisqueiras das comunidades de Cova da Onça, Moreré e Monte Alegre –  prejudicando ainda mais essa população ao restringir os espaços de construção de novos equipamentos públicos e moradias no território da Cova da Onça. Com o empreendimento, também seriam inviabilizados os caminhos por onde passam tradicionalmente as(os) moradoras(es) locais, que terão suas áreas de pesca e mariscagem prejudicadas pelo caráter privado da iniciativa.

O Conselho Federal de Psicologia destaca que a implementação de um empreendimento desse porte é explicitamente inadequada, uma vez que tende a ocupar 20% de todo o território da ilha e ainda atingir ecossistemas costeiros de extrema vulnerabilidade. “As populações potencialmente afetadas foram programaticamente excluídas como gestoras da ilha”, aponta o texto ao alertar que o território sob ameaça, bem como as faixas de Marinha, são áreas públicas da União que devem priorizar seu uso por comunidades tradicionais para fins de lazer, moradia, proteção ambiental, turismo comunitário, extrativismo sustentável e agricultura familiar, conforme a Lei nº 9.363/1998.

Para o CFP, tal situação “configura forte indicativo de racismo ambiental, em que há prevalência dos interesses de populações de alto poder aquisitivo sobre os modos de vida tradicionais na ilha de Boipeba/BA”. Além disso, aponta o Conselho Federal, a medida “exprime um descompromisso com a agenda pública de meio ambiente, uso do solo, igualdade racial e com a própria legislação vigente no país, configurando não apenas um problema local, mas de interesse nacional”.

Acesse aqui a íntegra do posicionamento do CFP.

Psicologia e questões ambientais

Em novembro de 2021, o Conselho Federal de Psicologia criou o Grupo de Trabalho sobre Psicologia Ambiental. Entre outras finalidades, o coletivo busca ampliar o debate junto à categoria acerca de questões que impactam na relação pessoa-ambiente.

Atualmente, o GT conta com a participação de conselheiras federais e de representantes da Associação Brasileira de Psicologia Ambiental e Relações Pessoa-Ambiente (ABRAPA) e do Grupo de Trabalho Psicologia Ambiental da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP), além de especialistas na área.

Como primeira grande ação, foi lançado o Catálogo de Práticas em Psicologia Ambiental. A obra apresenta experiências acerca do desenvolvimento e efetivação de práticas afetas ao tema. Também compõem o material entrevistas, textos de profissionais das cinco regiões do Brasil e da América Latina, representando importante contribuição para um campo que, embora relativamente novo, sinaliza enorme potencial para a atuação da categoria.

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