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09/03/2016 - 11:05

Semana da Mulher: o racismo é promotor de transtorno mental e adoece

O tema é preocupação central do CFP em 2016. Leia matéria publicada pela RádioPsi.

Semana da Mulher: o racismo é promotor de transtorno mental e adoece

Em 2016, a Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia (CFP) definiu o tema racismo como preocupação central para o ano de 2016, abordando temas como a violência simbólica, física e policial contra os não-brancos do país. Mesmo com a resolução nº 018/99 do CFP, que estabelece as normas de atuação dos psicólogos em relação ao preconceito e à discriminação racial, os casos de racismo na atuação da Psicologia ainda persistem. A Psicologia entende que o racismo é promotor de transtorno mental e adoece.

Expressões, comportamentos e brincadeiras preconceituosas são, na maioria das vezes, banalizados e reproduzidos sem que as pessoas identifiquem a ação racista. Na Psicologia, ações como essas podem repercutir no atendimento ao paciente que procura um profissional que, muitas vezes, não está preparado para identificar as situações de preconceito às quais essa pessoa é submetida, repetindo o mesmo preconceito ao qual essa pessoa foi exposta. Do outro lado, também, são inúmeros os relatos de profissionais que sofrem racismo por parte dos pacientes.

A psicóloga Maria Aparecida Bento, doutora em Psicologia e integrante da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia e do GT de relações raciais da autarquia, aponta que o cenário de preconceito se agrava ainda mais quando consideramos a situação das mulheres negras no Brasil, que hoje representam 25% da população.

“As mulheres negras enfrentam situações ainda bem complicadas em algumas áreas. No mercado de trabalho há uma grande exclusão das mulheres negras. Nos últimos censos que tenho feito em grandes empresas, você tem um desafio para mulheres brancas que é de ascensão, mas há uma inserção crescente das mulheres em geral que beira, às vezes, 40% ou 50%, mas a média das mulheres negras raramente ultrapassa os 9%. Então, quando se avança na questão de gênero não estamos avançando em relação às mulheres negras. O grande desafio é pressionar cada vez mais as instituições e trazer esse assunto à baila para dizer que é preciso mudar essa situação de exclusão, de subqualificarão, de sub-representação”, defende.

Outra situação que expõe a vulnerabilidade das mulheres negras na sociedade são os dados do Mapa da Violência 2015. O relatório elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Estudos Sociais (FLACSO) mostrou que o número de mulheres negras mortas cresceu 54% em 10 anos (de 2003 a 2013), enquanto o número de mulheres brancas assassinadas caiu 10% no mesmo período.

A psicóloga Maria Conceição Costa, doutoranda em psicologia clínica na Universidade Católica de Pernambuco, aborda outros dois aspectos que revelam outras formas de discriminação às mulheres negras, naturalizados em nossa sociedade. Ela defende a regulamentação da comunicação pelo Estado para cobrar dos veículos de comunicação uma postura de não promoção e reprodução do racismo.

“A mídia brasileira, especialmente falando das televisões e dos jornais impressos, ainda coloca a mulher negra, a pessoa negra, numa situação muito degradante. Nas novelas, as mulheres negras estão nos papeis de empregadas domésticas, de babás, quando avançam um pouquinho são professoras. Ainda é um aspecto forte do racismo que precisamos combater, porque para a mulher negra ainda são dadas as piores posições de trabalho. Isso fica no subjetivo das mulheres negras, mas também das meninas; se o Estado brasileiro não regulamenta a sua comunicação e a sua mídia, isso vai demorar a acabar. E é obrigação do Estado regulamentar, nenhuma televisão pode degradar nenhuma figura de mulher ou homem negro. A mídia, de um modo geral, eles precisa ser regulamentada porque mantém e reforça essa estrutura perversa que é o racismo brasileiro”, defende.

Em 2015, diversas psicólogas negras de todo o Brasil participaram, em Brasília, da Marcha das Mulheres Negras. Durante o evento, que teve como tema “Contra o racismo, a violência e pelo bem viver”, as psicólogas denunciaram que o racismo é causador de transtorno psíquico e adoece.

A RádioPSI preparou um especial para abordar temas que são prioritários no debate sobre Psicologia e mulheres.  Veja a programação da rádio e ouça esta e outras entrevistas: https://site.cfp.org.br/multimidia/radiopsi/ 

Foto da capa: Marcha das Mulheres Negras – Marcello Casal / Agência Brasil