O Conselho Federal de Psicologia (CFP), por meio de sua representante, a Prof. Dra. Valeska Zanello, participou, no último sábado (16), em São Paulo, do Seminário com Associações e Conselhos Profissionais, na Defensoria Pública de São Paulo. O objetivo do evento, organizado pelo Grupo de Estudos sobre o Aborto (GEA), foi verificar como o tema “aborto no Brasil” é trabalhado (ou não) nestas entidades e quais estratégias podem ser lançadas para aprofundar a discussão com a sociedade civil.
O evento foi aberto com uma apresentação sobre a situação atual e legal acerca dos casos de aborto no Brasil. Também ocorreu um debate para conhecer e discutir o modo como cada conselho de profissão e entidade federal relacionada à área de saúde tem discutido o tema e atuado de forma a colaborar para a ampliação dos direitos de acesso ao aborto, bem como para o acolhimento e tratamento das mulheres que decidem realizá-lo.
Segundo Valeska Zanelo, o debate foi amplo e bastante rico, pois contou com a presença de vários representantes de entidades e áreas diferentes, dentre as quais: juízes e defensores, a Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), Conselho Federal de Serviço Social (CFSS), Marcha Mundial das Mulheres, entre outras.
A próxima reunião do GEA está prevista para o dia 31 de outubro, em que cada representante deverá levar para o colegiado o impacto das discussões ocorridas no GEA em cada conselho.
Destaques
A representante do CFP no seminário destaca que o aborto é um problema de saúde pública mundial e, especificamente, no Brasil. A psicóloga explica que a criminalização do aborto não resolve o problema, pelo contrário, só contribui para um número maior de mortes de mulheres que abortam. Dentre elas, encontram-se, sobretudo, as mais vulneráveis, as mulheres pobres e negras. Além da luta pela descriminalização do aborto (a legalização para além dos casos já previstos de risco à vida materna e estupro e interrupção da gravidez em caso de anencefalia do feto), é necessária outra frente de batalha: a conscientização dos profissionais de saúde acerca desta questão.
Zanelo justifica dizendo que se trata de direitos humanos e, especificamente, de direito das mulheres. “De um lado, muitos profissionais, dentre eles, alguns psicólogos, não estão preparados para escutar, acolher, encaminhar e orientar mulheres que podem usar do direito de acesso ao aborto legal, induzindo muitas vezes estas mulheres a dar prosseguimento à gravidez não desejada. Por outro lado, mesmo as mulheres que abortam ilegalmente não encontram amparo e assistência por parte dos profissionais que deveriam acolhê-las. Dentre as razões para tal fato está não a falta de conhecimento técnico, mas, antes, os valores ideológicos que se fazem presentes na pessoa quando está no exercício profissional. Exemplos destes valores: valores religiosos, a naturalização do amor materno”, aponta.