Por que falar de trabalho? O que o Sistema Conselhos tem feito pelo trabalho dos (as) psicólogos (as) e qual seu papel como órgão orientador do exercício profissional frente à precarização do trabalho dos profissionais da Psicologia?
Essas perguntas ensejaram o debate que deu início às atividades do Conselho Federal de Psicologia (CFP) na 45ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP) na manhã desta quarta-feira (28), em Belo Horizonte (MG).
A conselheira-secretária do Conselho, Maria da Graça Jacques, iniciou a mesa com a apresentação de aspectos teóricos da categoria “trabalho”, bem como as apropriações de sua representação no imaginário social ao longo da história – sempre ligada à ação humana e permeada, dialeticamente, por valorações positivas e negativas. Para Jacques, a Psicologia ainda trata a questão do trabalho de forma marginal, com pouca construção teórica, hegemonia de teorias que não privilegiam o trabalho como central e com o entendimento de que os órgãos sindicais são intermediários privilegiados. “Precisamos, sim, olhar para o trabalho das psicólogas e dos psicólogos. Esse papel é fundamental para romper alguns pontos cristalizados”, afirmou.
A presidente do CFP, Mariza Borges, apresentou um resgate da história da Psicologia no Brasil desde sua regulamentação, em 1962, passando pela criação do Conselho Federal, em 1971, até os dias atuais. No início, com a forte influência do fazer clínico, o país contava com uma maioria de profissionais liberais e em ensino e pesquisa. A expansão dos cursos e a regulamentação da pós-graduação, que formalizou a pesquisa na área nos anos 1970, estenderam as possibilidades de formação e atuação.
“Para regulamentar, orientar e fiscalizar o exercício profissional que se caracteriza pela diversidade e pluralidade de fazeres e orientações teórico-metodológicas, temos de ter uma visão muito ampla desta profissão. Qualquer iniciativa que restrinja a Psicologia a partir do entendimento de poucas ou uma única técnica é repressora. Precisamos ter relação com diversos interlocutores, gestores públicos e privados, com a categoria profissional, sindicatos, três poderes e academia. Nesse sentido, não podemos pensar em relações de trabalho sem pensar em remuneração, jornada. Não adianta fazer uma norma muito bonita dizendo que o trabalho deve ser feito desta ou daquela maneira, se o contexto do trabalho não for adequado para a sua realização”.
O papel do Sistema Conselhos na defesa dos direitos humanos também foi salientado por Borges. “Pautas ligadas aos direitos humanos estão sendo extremamente afetadas no Congresso Nacional, por isso a importância de nossa ação. Devemos buscar os possíveis parceiros na sociedade civil e Executivo e trabalhar juntos para fazer com que direitos conquistados sejam garantidos e que não tenhamos retrocessos”, ponderou.
Rogério Oliveira, vice-presidente do CFP, partiu da leitura da crise geral de representação pela qual atravessam as sociedades atuais para constatar que é preciso, também, ampliar os espaços de participação dos profissionais da Psicologia.
Ele salientou, ainda, a importância de se desfazer a ideia errônea de que os conselhos não representam, ou não devem representar, os interesses dos psicólogos (as) e que as questões referentes ao exercício profissional enquanto trabalho são de responsabilidade apenas dos sindicatos. “A formulação crítica em relação ao papel do psicólogo não levou em consideração que nós cumprimos um papel contra-hegemônico na sociedade. A desvalorização de nossa categoria não é à toa, mas porque trabalhamos a favor da emancipação das pessoas”.
Por fim, o psicólogo apresentou a plataforma OrientaPsi, ferramenta laçada em agosto deste ano pelo CFP com vistas à aproximação e construção coletiva baseada na democracia participativa. Na plataforma são disponibilizadas pesquisas, estatísticas, publicações, além dos canais “Grupos de Discussão”, “Curso Online” e uma rede social própria para profissionais da Psicologia cadastrados no Sistema Conselhos. Dois meses após o lançamento, o OrientaPsi já recebeu quase 600 mil visualizações e tem proporcionado debates sobre temas como SUAS, Laicidade e Condições de trabalho, além de oferecer cursos como “Ética Profissional”, “Atendimento Psicológico Online”, “Avaliação Psicológica” e “Introdutório ao Sistema Único de Assistência Social (SUAS)”.
“Nenhum profissional da Psicologia precisa mais do intermédio de um conselho para poder se comunicar com seus pares. A proposta é levar ao pé da letra a democracia participativa e mapear os profissionais, conhecendo a realidade para poder transformá-la”, finalizou.
Confira abaixo o vídeo sobre a atividade.