Usualmente, a história da Psicologia é retratada a partir do que aconteceu na região Sudeste, em detrimento de outras regiões do país. A observação, feita pela psicóloga Ana Jacó Vilela, mostra a necessidade de se conhecer os pioneiros da área e a trajetória da Psicologia nos vários estados brasileiros. Vilela é integrante do Coletivo Ampliado do Conselho Federal de Psicologia (CFP) e coordenadora do Grupo de Trabalho (GT) da autarquia “Memórias da Psicologia Brasileira”, e integrou um debate sobre a História do Cerrado no 3º Congresso Nacional de Psicologia do Cerrado (Conpcer), que terminou no Mato Grosso (MT) no último sábado (9).
Quatro profissionais que trabalham para reconstruir e documentar essas histórias falaram sobre os processos nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins.
O primeiro curso de Psicologia no país surgiu em 1932 e durou apenas seis meses. Em 1953 foi criado o segundo, e que existe até hoje, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Já no estado de Tocantins, último estado da federação a ser criado, apenas em 2000 foi criado o primeiro curso da área.
“O interesse do CFP e de diversos Conselhos Regionais de Psicologia é dar visibilidade e divulgar essa história pelo país. Tive alunos que a contam com o olhar colonizado. Acho problemático porque as histórias da Psicologia no Brasil são diferentes nos diferentes locais. Se imaginamos que a história da Psicologia do Rio de Janeiro é a mesma do Tocantins, revela que a gente não conhece muito sobre isso. A Psicologia é ciência dos tempos modernos, e a modernidade da Psicologia está presente nas diferentes regiões do país, na sua emergência e sucesso”, lembrou Vilela.
O Grupo de Historiadores da Psicologia lançará neste ano, por meio do CFP, uma nova edição do Dicionário Bibliográfico da Psicologia no Brasil de Verbetes sobre os Pioneiros. A primeira versão foi lançada em 2001, e a nova atualização pretende salientar a importância do enfoque regional sobre os pioneiros. No estado de Goiás, o primeiro curso de Psicologia surgiu em 1973 na Pontifícia Católica de Goiás (PUC-GO). O primeiro vestibular da instituição selecionou 200 estudantes, e o currículo foi desenvolvido com base no da PUC-RJ. Esses dados são resultado do trabalho do psicólogo Divino de Jesus da Silva Rodrigues, que tem como linha de pesquisa “História e Memória da Psicologia em Goiás na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO)”. Para descobrir detalhes, ele apostou em entrevistas com pessoas no estado que fizeram parte dessa história. De acordo com ele, o curso foi criado a partir da percepção de que muitos jovens deixavam o estado para estudar Psicologia na Universidade de Brasília (UnB) em Brasília. Um dos primeiros desafios do primeiro curso criado estava em conseguir docentes que aceitassem viver em Goiás e ministrar aulas em uma instituição jesuíta. A primeira turma era composta por 67% de mulheres, na faixa etária dos 30 anos. Divino Rodrigues destaca que, 46 anos depois da fundação do curso, o desafio é identificar e ampliar o número de pioneiros. “Nós também temos uma história para contar”, concluiu o psicólogo.
No Mato Grosso, o ano de 1969 marca a chegada da primeira profissional de Psicologia ao estado, e é na década de 1980 que se pode perceber o maior desenvolvimento da área na região. A doutora em Psicologia Jane Teresinha Domingues Cotrin trouxe esses e outros detalhes para a mesa. “Nossas fontes históricas estão vivas e podemos conversar com essas pessoas; são poucos documentos, mas partimos dos arquivos do CFP para contar essa história. Esse trabalho de pesquisa revelou que muitas (os) psicólogas que vieram para cá trabalharam inicialmente em áreas como a psicanálise, saúde mental e educação especial”, relata.
Para contar a história da Psicologia no Mato Grosso do Sul (MS), o professor doutor em História da Psicologia Rodrigo Miranda, da Universidade Dom Bosco, decidiu recorrer aos jornais de antes de 1977, ano que antecede a separação daquele estado do Mato Grosso. O primeiro curso foi aberto em 1967, no Instituto Superior de Pedagogia de Corumbá (ISPC), e que mais tarde tornou-se a Universidade Estadual do Mato Grosso (UEMT). Pelo arquivo histórico de Campo Grande (MS), ele também conseguiu resgatar quais instituições de ensino existiram ao longo das décadas.
Fatos sobre a história da Psicologia no estado de Tocantins, a mais recente do Cerrado, foram contados pela mestre em Psicologia e professora da Universidade Federal do Tocantins (UFT) Kathia Nemeth Perez. Em 1998 foi criada a primeira Associação de Psicólogos do estado. Em 2000 já eram 112 psicólogos residentes no Tocantins e inscritos no CRP-09 de Goiás, criado em 1992. Em 2013 foi criado o Conselho Regional de Tocantins (CRP-23), que em 2016 já conta com 1250 psicólogas (os) inscritos. No ano de 2005 formou-se a primeira turma de Psicologia na Universidade Luterana do Brasil, Centro Universitário Luterano de Palmas (Ceulp-Ulbra). Os pioneiros da Psicologia em Tocantins atuavam na área clinica, consultoria, área do transito e nas politicas públicas em áreas como saúde mental e assistência social.
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