Justo quando está sob ameaça ao lado de outras pautas progressistas, a luta antimanicomial brasileira perde mais um valoroso combatente, o psicanalista Antonio Lancetti.
Argentino radicado no Brasil desde que se exilou da ditadura sanguinária de Videla, ele era um “encontro de rios” entre a teoria psicanalítica, a militância, o fazer profissional e as políticas públicas em Saúde Mental. Colocou em prática inovações como a distribuição de seringas a dependentes para redução de danos, a proibição da violência em instituições psiquiátricas e o oferecimento de um “um pacote de direitos” a dependentes de crack, além de formar quadros.
Responsável pela coleção SaúdeLoucura e autor do livro “Clínica peripatética”, Lancetti definiu que a psicanálise fora do espaço tradicional exige “formação, capacidade de escuta, alto grau de plasticidade” – e contato permanente com a literatura e a filosofia. Ele comparava a (o) psicanalista a uma pilha que tem no contato com o outro – o paciente – a oportunidade mais preciosa de se recarregar. Outra construção afiada é o conceito de “contrafissura”, a postura proibicionista, persecutória e salvacionista da guerra às drogas.
Em falas recentes, criticou duramente o atual “capitalismo idiotizante”, o ódio e o ressentimento sociais e o senso comum sobre corrupção. Defendeu, ainda, a continuidade do programa paulistano De Braços Abertos, baseado na cidadania e respaldado pelos resultados e pela opinião da população.
O Conselho Federal de Psicologia (CFP) lamenta profundamente a morte de Antonio Lancetti e se solidariza com sua família e seus amigos. Reafirma, também, o compromisso com as bandeiras que ele defendeu.