Maio, mês da luta antimanicomial no Brasil, foi encerrado com simpósio em Belo Horizonte, no dia 30. “Se o encanto me encontrar dessa vez, deixo ele entrar: uma homenagem a Marcus Vinícius e a luta antimanicomial” foi promovido pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-04), Fórum Mineiro de Saúde Mental e Sindicato das (os) Psicólogas (os) de Minas Gerais (PSind).
A vida do psicólogo Marcus Vinícius “Matraga” de Oliveira Silva foi marcada pelo compromisso social e o engajamento com os direitos humanos. Apesar de Marcus Matraga ter sido assassinado na Bahia, em fevereiro de 2016, o crime ainda não foi esclarecido. Os participantes do evento também homenagearam a psicóloga Rosimeire Aparecida Silva, pioneira na criação de serviços substitutivos aos manicômios em Belo Horizonte, falecida no dia 15.
Na conferência “Cartografia da luta pela democracia no Brasil e futuros possíveis”, o filósofo Peter Pál Pelbart lembrou que o modelo que engendrou a sociedade brasileira foi o da colonização e o quanto é difícil descolonizar subjetividades convertidas e disciplinadas. Segundo o professor, vida e sobrevida são fundamentalmente diferentes. Muitos sobrevivem, mas viver é para poucos. “Na guerra nos transformam em sobreviventes, mas o que nós queremos é viver”.
Desafio – A psicóloga Ana Bock, presidenta do Instituto Silvia Lane, falou sobre a relação de Marcus Vinícius com a Psicologia e a sintetizou em uma palavra: “desafio”. A trajetória política e de militância não se separam de sua atuação como psicólogo. Marcus foi integrante dos Conselhos Federal e Regionais de Psicologia de Minas Gerais e da Bahia.
O professor do Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Marcelo Andrade, explicou a relação de Marcus Vinícius com os direitos humanos. Marcus Matraga valorizava a ação e a luta e, em 1997, foi protagonista na criação da Comissão de Direitos Humanos do CFP. Ele incentivou a realização de campanhas em diversas áreas, como educação inclusiva, combate à tortura e ao uso de eletrochoque. Também se engajou na discussão sobre o uso de drogas e nas formas de tratamento de usuárias (os), sujeitas (os) relegados à invisibilidade social.
Compromisso – O presidente do CFP, Rogério Giannini, disse que ao fazer jus à profissão e à militância, “transformamos a dor, a emoção e a saudade em reflexões para retomar os compromissos de luta”. A presidente do CRP-MG, Cláudia Natividade, lembrou ser necessário continuar encantados: “Não temos o direito de desistir”.
A representante do Sindicato das Psicólogas e dos Psicólogos de Minas Gerais (PSind), Lourdes Machado, falou que Marcos era um poeta: “Da utopia, ele garimpava realidades”.
O evento foi marcado, ainda, por exposição de poesias de Marcus Matraga, de produtos feitos por usuárias (os) de centros de convivência de Belo Horizonte e de lançamento do livro “O avesso do niilismo: cartografias do esgotamento”, de Peter Pál Pelbart.
Veja fotos do simpósio.
Com informações do CRP-04