No olhar de uma criança cabe o mundo.
Nele, encontramos a vida, a sua fragilidade e todo o
futuro que inevitavelmente acontecerá. Reconhecemos
também os traços da história que vivemos, a comple-
xidade que embala nossa existência e a esperança de
quem ainda não sabe o que está por vir, mas, ainda as-
sim, espera ansiosamente que algo aconteça.
Encontramos inocência, medo, delicadeza, conflitos,
astúcia, dúvidas, confiança, incredulidade, empatia, ge-
nerosidade e fé.
É extremamente importante que cuidemos com muito
amor de todas as infâncias e adolescências — no plural,
pois são múltiplas — porque é desse cuidado que de-
pende a construção de uma sociedade menos desigual,
mais justa e fraterna, tal qual almejamos.
Temos no Brasil uma inovadora legislação que atesta a
urgência protetiva.
“É dever da família, da comunidade, da sociedade em ge-
ral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade,
a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à ali-
mentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissiona-
lização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária”. Assim nos responsabiliza
o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que
em mais de três décadas jamais perdeu sua relevância.
O Conselho Federal de Psicologia (CFP) possui em sua
raiz a defesa intransigente do princípio da prioridade ab-
soluta. É marcado, historicamente, pela defesa dos direi-
tos de meninas e meninos, compreendendo que o fazer
psi significa muito mais que a prática do cuidado em si
mesma. Ocupando espaços colegiados de decisão, a au-
tarquia insere-se entre os principais atores desta pau-
ta, vislumbrando — a partir das políticas públicas — que
todas e todos tenham a mesma proteção e as mesmas
oportunidades. O Conselho também se dedicou, ao lon-
go dos anos, a construir orientações que pudessem con-
tribuir com a atuação da categoria em torno do tema.
É neste contexto, e imbuído desse duplo propósito de
defesa intransigente dos direitos das infâncias e de
orientação ao exercício profissional da Psicologia, que
a presente publicação se insere.
Fruto de parceria com o Coletivo Frente Nordeste
Criança, onde diversos diálogos com a participação do
CFP foram promovidos, o catálogo, que agora chega
até você, levanta uma relevante reflexão: de que forma
a pandemia da covid-19 impacta os direitos sociais e a
vida de crianças e adolescentes do Nordeste?
O que você encontrará nas páginas seguintes represen-
ta mais do que simples desenhos de crianças com idade
entre quatro e doze anos. Ao reconhecer seu lugar de
fala e protagonismo para que se expressassem, essas
crianças nos mostram mais do que a vista de suas ja-
nelas. Elas nos confiam seus corações, seus segredos e
angústias. Elas nos convidam, por meio de sua arte, a
experienciar suas realidades, compreendendo que para
além de seus quintais existe uma infinidade de crianças
que, como elas próprias, ainda buscam neste cenário
atual alguma explicação para decifrar o mundo que se
transformou de forma tão abrupta.
Ao aceitar o nosso convite, essas crianças transforma-
ram folhas em branco em reflexões que devemos — so-
ciedade em geral e, especialmente, psicólogas e psi-
cólogos — incorporar em nossas práticas. Desejamos,
portanto, que esta publicação auxilie profissionais da
Psicologia em seu cotidiano, no cuidado mais qualifica-
do que nossas infâncias merecem.
Além dos desenhos, o catálogo reúne textos de importan-
tes especialistas na área, como Marina Assis Pinheiro, que
aborda a interface entre a Arte e a Psicologia na cons-
trução do diálogo; Symone Fernandes de Melo, que des-
taca a importância do desenho da criança como expres-
são de si e do mundo; e Priscila Nascimento Marques, que
discorre sobre infância e arte — sendo esta o veículo de
exercício simbólico e emocional da criança. A publicação
conta ainda com o relato de Ana Maria Mello, doutora em
Psicologia/Educação, e Izabel Hazin, psicóloga, doutora
em Psicologia Cognitiva e conselheira do CFP, sobre os
processos que envolveram a elaboração do catálogo.
Por fim, quero — em nome do XVIII Plenário do Conselho
Federal de Psicologia — agradecer imensamente a to-
das(os) as(os) envolvidas(os) na produção deste mate-
rial, especialmente às crianças, suas famílias e colabora-
doras(es) que fizeram esta ponte entre o CFP, o Coletivo
Frente Nordeste Criança e nossa categoria profissional.
Ana Sandra Fernandes Arcoverde Nóbrega
Presidente do CFP
XVIII Plenário | Gestão 2019 – 2022