
O Conselho Federal de Psicologia (CFP), por meio do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), acaba de lançar as Referências Técnicas para Atuação de Psicólogas(os) junto aos Povos Quilombolas. O material reafirma o compromisso da Psicologia com a equidade racial, a valorização dos saberes ancestrais e a justiça social.
A publicação se soma ao conjunto de referências técnicas produzidas pelo CREPOP e apresenta diretrizes para a atuação profissional da Psicologia em diálogo com os modos de vida e as cosmopercepções das comunidades quilombolas, ao considerar suas especificidades históricas, territoriais, culturais e políticas.
A construção da referência é resultado do acúmulo de debates da categoria em espaços como o Congresso Nacional de Psicologia (CNP) e integra uma linha iniciada em 2017, com a publicação da referência técnica sobre relações raciais e em 2019 com discussões sobre a atuação junto aos povos indígenas (lançada em 2023) e povos tradicionais (em revisão para lançamento da 2a edição)”
De acordo com a conselheira do CFP e coordenadora da Rede CREPOP, Clarissa Guedes, o documento representa um importante avanço na produção de conhecimentos da Psicologia comprometida com a transformação social. “Trata-se de um material construído coletivamente, que incorpora saberes produzidos nas práticas profissionais e nos territórios, e que fortalece o reconhecimento da diversidade étnico-racial como um elemento central para a formação e para o exercício da Psicologia”, afirma.
A elaboração da obra contou com a participação de especialistas quilombolas e de profissionais com experiência em políticas públicas, além de técnicas(os), conselheiras(os) e estagiárias(os) da Rede CREPOP nos Conselhos Regionais e no CFP. Como previsto na metodologia do CREPOP, o documento também foi submetido à consulta pública, etapa que permitiu à categoria contribuir com sugestões e aprimoramentos na versão preliminar.
Para a psicóloga e conselheira do CFP Fabiane Rodrigues Fonseca, integrante da comissão de elaboração, o documento “é fruto de uma escuta ativa e comprometida com as realidades dos povos quilombolas, que enfrentam, até hoje, violências históricas marcadas por processos de desterritorialização e de negação de direitos”.
Entenda a publicação
As Referências Técnicas estão organizadas em quatro eixos, que apresentam fundamentos conceituais e práticos para o trabalho de psicólogas e psicólogos junto aos povos quilombolas. O primeiro eixo trata das cosmopercepções contracoloniais e dos modos de vida que estruturam as comunidades quilombolas, abordando temas como ancestralidade, oralidade, território, espiritualidade, autodeterminação e autonomia.
O segundo eixo ressalta as dimensões éticas, políticas e jurídicas da atuação da Psicologia com essa população, com destaque para os marcos normativos e os desafios para a efetivação de direitos historicamente negados aos povos quilombolas. Já o terceiro eixo apresenta possibilidades de atuação da Psicologia nas políticas públicas, com ênfase em experiências de cuidado em saúde, educação e assistência social.
O quarto eixo apresenta reflexões sobre a formação profissional em Psicologia, evidenciando a necessidade de práticas formativas antirracistas, epistemologicamente plurais e comprometidas com os saberes produzidos nos territórios quilombolas.