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05/09/2018 - 10:45

CFP participa de audiência pública sobre suicídio no Senado

Conselheira Rosane Granzotto destacou a importância do trabalho multidisciplinar e de prevenção para diminuir esse problema de saúde pública

CFP participa de audiência pública sobre suicídio no Senado

“O suicídio é uma tragédia global, pessoal e também familiar. Uma tragédia silenciosa que, muitas vezes, é uma denúncia de uma crise coletiva. Toda morte fala algo da sociedade em que ela ocorre. Por isso, precisamos pensar o suicídio como problema de saúde pública e em criar políticas públicas que atendam essa demanda”. Assim foi a fala da conselheira Rosane Granzotto, que representou o Conselho Federal de Psicologia (CFP) na audiência pública realizada na segunda-feira (3) pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDHLP) do Senado Federal.

A audiência, solicitada pela senadora Regina Sousa (PT/PI), teve o objetivo de discutir sobre o aumento de suicídios no Brasil e quais políticas públicas são necessárias para combater esse quadro. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é a segunda causa de morte entre jovens e crianças no planeta, maioria do sexo masculino, entre 10 e 24 anos. Em 2020, a depressão será a segunda forma de incapacidade laboral mais recorrente no mundo. A  cada 40 segundos um suicídio acontece no mundo, totalizando 800 mil casos ao ano. No Brasil, são 32 suicídios por dia, sendo a quarta maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.

Além de Rosane Granzotto, o evento contou com a participação de representantes do Centro de Valorização à Vida (CVV), TV Brasil e Ministério da Saúde.

Reflexão

A conselheira Rosane Granzotto iniciou sua fala abordando os dados envolvendo o suicídio, bem como sua correlação com outros fatores sociais, econômicos e culturais. Segundo ela, nos últimos 40 anos, houve um aumento de 60% em mortes por suicídio no mundo, as quais não podem ser relacionadas apenas a fatores psicológicos. “Trata-se de um dado impressionante e que precisa ser explicado não apenas em termos psicológicos, mas também sociais. Faz-se necessário refletir sobre esses dados. Trata-se naturalmente de um processo muito complicado que não pode ser reduzido a linhas de determinação simples. Existe uma questão multifatorial que causa esses números”, reforça.

Granzotto explica que, além dos fatores endógenos, tem que se admitir que um aumento de 27,2% dos casos de suicídio, entre 1980 e 2014, implica em considerar também os fatores socioeconômicos e culturais vivenciados pelos sujeitos contemporâneos, citando o capitalismo, a competição e a perda dos vínculos afetivos. “Os vínculos afetivos e humanizados vão se tornando cada vez mais frágeis. A falta de referências nos deixa a deriva, pois tudo é passageiro e substituível e nós também somos. Estamos em um mundo onde sequer somos vistos, pois estamos atrás de um aparelho nos comunicando com ninguém”, questiona.

A conselheira do CFP alertou ainda para as especificidades da população brasileira, como os povos indígenas, os quais registram 132% mais casos de suicídio do que na população geral, bem como a população em situação de rua, trabalhadores rurais, imigrantes, que passam por processos de desenraizamento, população LGBT, e outros.

Para Rosane, o trabalho de prevenção é fundamental, pelo fortalecimento das políticas públicas, especialmente, em saúde da família e na produção de uma rede voltada para crianças e adolescentes, considerando suas peculiaridades e necessidades, e segundo os princípios estabelecidos pelo SUS. “A capacitação dos profissionais envolvidos na prevenção ao suicídio é de suma importância, pois é necessário compreender a movimentação suicida, a ambivalência de desejos, a impulsividade, o estreitamento de possibilidades de saída da situação e os fatores de risco”, ressalta.

Suicídio e os Desafios para a Psicologia

O Conselho Federal de Psicologia tem historicamente estado bastante atento sobre a questão do suicídio. Em 2013, a Autarquia realizou dois debates online sobre o tema, que geraram a publicação “Suicídio e os Desafios para a Psicologia”. O objetivo é que o livro sirva de referência para profissionais de Psicologia que atuam na área, na formação de políticas públicas que busquem dar assistência à questão do suicídio com análises sociais e psicológicas aprofundadas, voltadas para dirimir esse tipo de situação.

Em 2017, o CFP realizou o Diálogo Digital “Prevenção ao Suicídio: desafios para Psicologia e saúde pública”.

Assista ao Diálogo Digital “Prevenção ao Suicídio: desafios para Psicologia e saúde pública”

Acesse a publicação “Suicídio e os Desafios para a Psicologia”.