Teve início na noite desta terça-feira (8), no Rio de Janeiro, a II Conferência Internacional de Psicologia LGBT e campos relacionados: enfrentar o Impacto da Discriminação contra Pessoas LGBT em Todo o Mundo. A proposta do evento, que acontece até sexta-feira (11), é ampliar as redes de investigação e conhecimento sobre os impactos social, cultural e político da homo/lesbo/transfobia nos modos de vida contemporâneos, por meio da afirmação da Psicologia como um campo de saberes e práticas comprometidas com o desenvolvimento de diretrizes e políticas públicas ligadas às necessidades LGBT e de outras minorias sexuais e de gênero.
No auditório lotado da capela da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), os integrantes da mesa de abertura – Rogério Oliveira (CFP), Marco Aurélio Máximo Prado (CDH/CFP), Anna Uziel (UERJ), Fernando Pocahy (UERJ), Marcos Nascimento (Fiocruz), José Novaes (CRP), Pedro Costa (ISPA-IU), Márcia Mota, Rosana Oliveira (Faculdade de Educação/UERJ) e Ligia Aquino (Proped/UERJ) – deram as boas-vindas aos participantes.
Rogério Oliveira, vice-presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), destacou a importância da promoção de discussões relativas à pluralidade da Psicologia e suas implicações no campo dos direitos humanos, em um momento político de recrudescimento de visões preponderantemente binárias no país. “Muito do que habitou nossos sonhos por muitos anos no passado é, hoje, realidade. Já foram várias as conquistas da sociedade em termos de busca por igualdade, e isso incomoda muitas pessoas. Como psicólogos e psicólogas, temos de estar atentos e entender o nosso papel nesse contexto”, pontuou.
O integrante da Comissão de Direitos Humanos do CFP, Marco Aurélio Máximo Prado, ressaltou que um dos quatro temas centrais a serem trabalhados pela atual gestão do Conselho é o eixo LGBT, gênero e sexualidade, e que a autarquia tem enfrentado debates institucionais “difíceis”, sobretudo, em âmbito legislativo. “O Congresso Nacional tem insistentemente tentado derrubar resoluçoes históricas do CFP, com a famigerada ‘cura gay’, e a resolução 01/99 é a única garantia que temos de tentar coibir determinadas práticas chamadas curativas. A oportunidade desse congresso que começa hoje é também uma oportunidade política de dizer que não aceitamos ser tutorados no que se refere a gênero e sexualidade”.
Conferência de abertura
O impacto da discriminação contra pessoas LGBT no mundo foi o tema da conferência inaugural do evento. Carien Lubbe-De Beer, pesquisadora da Universidade de Pretoria (África do Sul) e representante da IPsyNET (The International Network on Lesbian, Gay and Bisexual concerns and transgender matters in Psichology), apontou aspectos e desafios da Psicologia no que se refere às minorias sexuais.
A partir de uma investigação feita com crianças que cresceram em famílias de mesmo gênero, ela começou a trabalhar com a experiência semântica do trauma e como ela se relaciona com o apoio social, utilizando recursos externos e internos da Psicologia.
Segundo De Beer, é preciso questionar a posição que a Psicologia e a Psiquiatria têm tomado em relação à discriminação sexual e de gênero. “Na África do Sul, foi criado um relatório com cinco argumentos contra as minorias sexuais: que é socialmente contagiosa, promove o recrutamento de crianças, falta base biológica para a homossexualidade, não é natural e é algo aprendido e ensinado. Mas, cientificamente, não achamos nenhuma evidência que desse apoio a esses argumentos”.
Neste ponto, a pesquisadora destaca a importância da perspectiva fisiológica na abordagem da sexualidade no campo da Psicologia, para além da transdisciplinaridade dos estudos em direitos humanos. “Precisamos um do outro para sobreviver e é o sistema fisiológico que cria isso. Criamos relacionamentos para manter nossa saúde, facilitando a regulação da nossa fisiologia. A teoria Polivagal (teoria neurofisiológica, psicofisiológica e filogenética enunciada pelo Doutor Stephen W. Porges) é a que explica as vias neurais do apoio social, e são as mesmas vias neurais compartilhadas que apoiam a saúde em geral. O nosso sistema nervoso necessita da interação para que possamos nos sentir seguros, e, quando não temos isso, desenvolvemos problemas comportamentais. Temos, como psicólogos (as), de desenvolver um sentido interno nos outros, a ideia de que há pessoas que se importam com eles”, explica.
Conheça a programação completa do evento em http://www.lgbtpsychology2016.pt.vu