Bebida Alcoólica e Direção Automotiva: Relatos de Policiais Militares Sobre a “Lei Seca”. Este é o artigo da edição 36.2 da revista Psicologia: Ciência e Profissão, publicado nesta semana pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP).
De acordo com o resumo, o objetivo foi conhecer o contexto atual de realizações e dificuldades um programa de fiscalização implantado em 2003, no estado do Espírito Santo, por meio de entrevistas com 25 policiais militares que atuam no referido programa.
O periódico, cuja versão eletrônica se encontra na plataforma SciELO, tem toda semana um texto publicado no site do CFP e nas redes sociais. A autarquia intensifica a busca pelo conhecimento científico, a fim de expandir o alcance de conteúdos acadêmicos para a categoria e para a sociedade.
Os autores do artigo são: Andrea dos Santos Nascimento, doutora pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), e Paulo Rogério Meira Menandro, docente da Ufes.
Pesquisa
O material textual composto pela transcrição das entrevistas foi processado por meio do software Alceste, que organizou as respostas dos policiais em seis classes de conteúdos: “Naturalização e valorização do beber excessivo”; “Menosprezo do risco da associação entre bebida e direção”; “Realizações e dificuldades no contexto das ações de fiscalização”; “Realizações e dificuldades no contexto das ações educativas”; “Aspectos legais e operacionais em torno da verificação da embriaguez”; e “Aspectos legais e operacionais relativos à punição do condutor”.
A Assessoria de Comunicação do CFP entrevistou Andrea Nascimento.
Confira a entrevista:
O que os motivou a fazer a pesquisa sobre esse tema?
Por ocasião do doutorado da professora Andrea, foi possível desenvolver uma pesquisa em Psicologia do Trânsito que falasse sobre o comportamento de beber e dirigir. Ambos pesquisadores desenvolvem estudos acerca da questão do álcool, sendo que, o foco do professor Paulo está na cultura e na representação social do álcool para a sociedade brasileira, enquanto o foco da professora Andrea está na em relação as políticas públicas de trânsito, principalmente àquelas relativas ao consumo abusivo de bebidas alcoólicas e sequente direção automotiva.
Quais os resultados que você destaca desse levantamento?
O artigo é apenas um recorte da tese de doutorado da autora pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, que contou com a participação de vários atores da política de repressão ao comportamento de beber e dirigir. Em relação a este grupo, um recorte interessante, no que tange aos policiais militares, é o entendimento acerca da aceitação social das blitz de fiscalização. Por outro lado, os policiais reclamam de maior suporte legal, de forma a garantir a eficácia e a eficiência (inclusive, educativa) do trabalho que é realizado para a segurança pública. Outro aspecto relevante, é a reclamação acerca do quadro reduzido de policiais do Batalhão de Trânsito, que parece uma contradição face a importância do trabalho realizado que é impedir que motoristas que estão dirigindo possam ser causadores ou vítimas de acidentes de trânsito. Nesse caso, os entrevistados questionam a real importância do trabalho para o poder público.
Na sua opinião, como as concepções de profissionais que participam de forma direta da intervenção relativa ao problema podem contribuir para a discussão e aprimoramento das modalidades de intervenção a serem continuadas?
A Psicologia não trabalha diretamente nas abordagens de trânsito nem no acompanhamento ou monitoramento do comportamento de motoristas infratores. No Brasil, o campo do trabalho do psicólogo(a) do trânsito ainda é mais direcionado à avaliação psicológica para a primeira habilitação, mudança de categoria ou medo de dirigir, por exemplo. O trabalho de educação voltada para o trânsito ainda é pouco explorado e pesquisado. Ainda é visto como uma questão “menor” na Psicologia, mesmo que mais de 45 mil pessoas morram, todos os anos, devido aos acidentes de trânsito. Ainda há muito a ser discutido em relação as ações e campanhas educativas que podem ter resultados tão, ou mais, eficientes quanto a abordagem (depois que o motorista já consumiu bebida alcoólica) cuja finalidade é coercitiva e repressora. O psicólogo ainda não se sentiu convocado para trabalhar na prevenção dos acidentes de trânsito e, ao nosso ver, essa é uma pauta importantíssima para toda a psicologia brasileira, principalmente a do trânsito.
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